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Música

Concertos imperdíveis do Primavera Sound: Yo La Tengo

Vem aí o Primavera e o Miguel Arsénio antecipa os concertos mais fixes.

14 de Março de 2010. Estão três pessoas em cima do palco da Aula Magna: dois gajos e uma mulher. Um deles tem o cabelo encaracolado (quase carapinha) e uma vulgar t-shirt às riscas. É esse que se contorce, com uma guitarra nas mãos, enquanto lhe arranca uma enxurrada de ruído que parece carregar 50 anos de sabedoria rock. O feedback da guitarra chega, entretanto, a um ponto em que fica fora do alcance de quem o deixou à solta naquela sala. A partir daí, e sem pedir licença a ninguém, o monstro espalha pela sala uma sensação poderosíssima de que a Vida está condensada naqueles 12 ou 13 minutos de electricidade. E é assim que Lisboa fica de boca aberta perante Ira Kaplan, um terço dos Yo La Tengo, à medida que “The Story of Yo La Tango” (a gaffe é intencional) chega a um clímax capaz de diminuir tantos outros por comparação. Fez-se história ali mesmo.

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O momento foi de tal forma intenso que cheguei a sentir ondas na barriga, como se fosse o Homer Simpson depois de levar com uma bala de canhão, naquele episódio em que ele vai trabalhar para uma feira popular. Em estado praticamente catatónico, chego à conclusão de que aquele tinha sido “o concerto da minha vida”, ultrapassando outros tão fortes como My Bloody Valentine, Lightning Bolt ou Beastie Boys. Depois, ao partilhar a sensação com alguns amigos, um ou outro diria que essa noção de “concerto da vida” é um bocado triste e faz crer que já não há muito para viver. São capazes de ter razão.

Contudo, e a haver uma banda capaz de arrecadar esse título, os Yo La Tengo seriam sempre sérios candidatos, até porque, em grande parte, as suas canções são mais impressionantes ao vivo. É precisamente essa certeza que faz disparar os níveis de ansiedade que antecedem o concerto marcado para o próximo dia 8 de Junho, no Festival Primavera Sound do Porto, quando os Yo La Tengo voltarem a estar entre nós a fazer aquilo que sempre os distinguiu: indie rock cheio de versatilidade, génio, doçura e escola. A minha barriga já treme.