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Música

Devias ouvir mais cumbia se és preguiçoso

É mais ou menos isto que diz o El G, que actua amanhã no Musicbox.

Este é o El G numa noite inesperada pelo Porto, captada pelo telemóvel do nosso Nuno Miranda.

Amanhã há festa cumbia no Musicbox. Em

noite do Baile Tropicante

(desta vez com uma edição gringa), os ritmos da América Latina são, evidentemente, o destaque. Podem contar com sets do residente La Flama Branca, do DJ Cucurucho (co-fundador da

Radio Groovalization

) e de El G, nome maior da

ZZK Records

, editora fundada pelo próprio na Argentina e que se dedica a pregar ao mundo o credo da cumbia digital e do gospel folktrónico (melhor neologismo).

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Depois de passar os últimos dias a chillar com estes ritmos tranquilos, decidi ligar ao Grant Dull, nome civil do El G, para perceber melhor o que é, afinal, isto da cumbia e o que é que se vai passar no Musicbox.

VICE: Olá Grant! Conta-me: como é que um gajo norte-americano como tu se apaixonou pela cumbia?

Grant:

Bem, é uma história complicada, mas vou resumir. Durante o meu último semestre na universidade, fiquei viciado na cultura argentina (em especial no trabalho de um escritor, o Jorge Luís Borges). Ao mesmo tempo, apanhei na rádio uma canção do Astor Piazolla. Era tão incrível que me senti numa realidade paralela. Foi aí que passei a frequentar Buenos Aires regularmente — era uma época em que queria viajar e explorar o mundo. Continuei a visitar o país com frequência e, à quarta vez, decidi ficar. Fundei uma webzine bilíngue, dedicada às artes e à cultura, que explorava o que se estava a passar na cidade. Na

What's Up, Buenos Aires

focava-me em tudo o que estava a acontecer de alternativo e de underground, em tudo o que estava a emergir. Mais ou menos na mesma altura, comecei a trabalhar com algumas bandas locais e a promover eventos da cena da cumbia electrónica. Inevitavelmente, estas festas e eventos acabaram por levar ao surgimento da minha editora.

Exacto. E quando é que arrancaste com a ZZK?

As festas começaram em 2006 e a editora em 2008.

Sentes que é fácil mostrar a cumbia ao mundo?

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Sim, apesar da cumbia ser um reflexo da cultura da América do Sul, da Transamérica, chamemos-lhe assim. Estes ritmos têm milhões e milhões de fãs no mundo inteiro — são de origem colombiana e espalharam-se, durante o século XX, pelo México, Peru, Bolívia e Argentina. Na verdade, a cumbia agarra nos ritmos sul-americanos mais conhecidos, revitaliza-os e reinterpreta-os. Torna-os mais actuais e, por isso, a cumbia acaba por ser facilmente aceite.

Sempre que ouço cumbia sinto-me de férias, na praia. Claro que há uma vibe de festa, mas acho que o mais importante é o sentimento de relaxamento. Concordas?

Sim, acho que o

easy-rythm

da cumbia não tem de ser louco. É um ritmo que transmite o sentimento de preguiça. Pode ser dançado, pode ser curtido por qualquer pessoa muito facilmente. E sim, tem o

feeling d

e praia, porque é um ritmo caribenho, que nasceu na costa.

Faz sentido. Vais tocar amanhã no Musicbox. Conta-me tudo sobre o teu set.

O meu set vai ser uma viagem pelo mais novo da nova cultura sul-americana. Vou passar imensos discos da ZZK, coisas que ainda não foram editadas, e, claro, alguns clássicos da

label

. Vou apostar na

Digital South America,

em algumas remixes e em coisas de outros produtores cujo trabalho estou a seguir actualmente, de Lima aos Estados Unidos, de Caracas à Colômbia.

Sei que tens estado por Portugal nas últimas semanas. Já ouviste alguma música portuguesa?

Nop, nem por isso. Tirando Batida, toquei com eles num festival sueco, no ano passado, e adorei.

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E o país? Já estiveste no Porto e na Madeira, agora estás em Lisboa…

É um país incrível. É a primeira vez que cá venho, sempre quis conhecer Portugal. Vou cá ficar durante um mês e penso que esta altura é a ideal: o tempo está óptimo, tive bons anfitriões e fiz grandes amigos. Estou a adorar.

Achas que os portugueses estão receptivos à cumbia?

Não sei, vamos descobrir amanhã [risos]!

O teu set será o último do Milhões de Festa 2013. Estás preocupado com a responsabilidade?

Há sempre responsabilidade em passar discos e fazer as pessoas dançar. Mas sinto-me confiante no meu set.

Tens algum recado para deixar aos leitores da VICE?

Sim! Para o Pedro [La Flama Branca, Musicbox], que me trouxe até Portugal e que apresentou à malta do Milhões de Festa e à malta da Madeira. Quero agradecer também ao Nuno [Miranda, da VICE], ao Joaquim [Durães, do Milhões de Festa], ao Fábio [Remesso, Barreirinha Bar] e a toda a gente que me recebeu e acolheu tão bem.

Fixe, mas o que eu queria mesmo era um recado para os nossos leitores. Olha, como é que definirias cumbia a alguém que não conhece? Numa palavra.

Sexy.

E como é que os convencerias a vir?

Diria: “Preparem-se para novos ritmos e para relaxar. Abram a mente e ‘bora dançar.”