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Música

Discos: Giraffage

Desculpa lá, rock n' roll.

Needs
Alpha Pup Records
8/10 Retromania. Enquanto o rock tem passado os últimos anos a revisitar velhas formas, injectando vitalidade no género através da nostalgia (agora a onda são os anos 90 “alternativos”), a música electrónica, mesmo que o retro faça parte do diagrama, tem procurado, como sempre procurou, escrever o futuro de uma forma completamente diferente, mesmo numa altura em que o radicalismo praticamente não existe — excepção feita ao “movimento”, se é que lhe poderemos chamar assim, dubstep. Dubstep esse que resultou porque era algo novo, e que se arruinou porque os americanos, que acertam uma em dez, pariram o Skrillex dos intestinos e lançaram o pobre William Levan para os bancos de trás do autocarro escolar onde viaja a EDM. Bem, e também porque a canalhada hipster, que erra cem em cem, usa e abusa do termo “pós” como os comentadores de bola da TVI abusam da nossa paciência. Um par de estalos e era pouco. Longe destes “movimentos” e rótulos vão existindo aqui e ali, verdadeiras pérolas de malta que mui inocentemente vai criando a sua própria noção estética, indo ao ponto de distribuírem amável e gratuitamente a sua música, como o faz Charlie Yin, mais conhecido por Giraffage. Lamentavelmente, a nossa primeira opinião do mesmo, aquando de Comfort, é a de que não passava de um brincalhão simpático, tendo como cartão-de-visita um disco em que se entretinha mais a destruir samples e a colar infantilmente pedacinhos de ritmos e melodias uns aos outros, e apresentações ao vivo onde a “Sandstorm” de Darude era elevada à condição de clássico (espera: é-o realmente). E isso levava-nos a ser mais condescendentes, a fazer-lhe festinhas na cabeça e a colar o disco na porta do frigorífico. Mas Needs eleva a fasquia e mostra-nos uma sonoridade muito mais adulta, de alguém que superou finalmente a puberdade e descobriu as propriedades mágicas do álcool e dos narcóticos. É de alto a baixo um disco prenhe de cio, uma necessidade fisiológica-barra-cura para a vasocongestão. Retro na medida em que vai buscar ao r&b e à dance-pop de há duas décadas, transforma essas canções em pequenos pedaços de chill out futurista, meia hora de sonhos pop para quem ainda os tem. De “Close 2 Me”, passando por “Money” até “Undress U”, faixas onde a sensualidade e o desejo hormonal fala mais alto e que se apresentam como as mais fortes de um disco que pode e deve ser ouvido repetidamente sem pausas, por não cansar (fale-se de electrónica tântrica antes que estraguem o termo), Needs é perfeitinho a nível de produção, seja pelos beats, pelas alterações de timbre, pela escolha dos retalhos a colar; quem pretende aprender um pouco mais sobre aquilo que se tem feito com um simples Ableton ou Fruity Loops tem aqui um bom manual. Alternativamente, os restantes podem simplesmente ser felizes a encher os ouvidos com o único estilo que tem tentado fugir à ditadura do passado… Desculpa lá, rock n' roll.