FYI.

This story is over 5 years old.

cinema

Filmes: Quando a noite cai em Bucareste ou Metabolismo

Cantiga do bandido para conquistar uma miúda.

Quando a noite cai em Bucareste ou Metabolismo
Corneliu Porumboiu Na edição deste ano do Lisbon & Estoril Film Festival podemos encontrar em competição um filme muito curioso do romeno Corneliu Porumboiu, de quem se poderão lembrar do muito aplaudido 12:08 a Este de Bucareste. Já foram feitos muitos e bons filmes sobre filmes, autênticas matrioscas que se inspiram na própria arte que os sustenta. Quando a noite cai em Bucareste ou Metabolismo não é apenas mais um filme, é algo diferente e por vezes incredulamente estranho. Inteligente, realista e bem-humorado, consegue ser cativante apesar de ter alguns momentos propositadamente cansativos para o espectador (o próprio realizador encorajou a que não adormecêssemos dada a hora avançada da projecção). O filme começa com um diálogo entre um realizador e uma actriz durante uma viagem de carro. Falam sobre uma cena de nudez que será gravada no dia seguinte (e que nunca nos será apresentada), sobre um actor irascível e bem constituído que nunca chegaremos a vislumbrar e conversam também sobre a evolução do cinema, onde o realizador explica que a película é a única linguagem cinematográfica na qual se consegue expressar, pois o seu método está predisposto a fazer planos de 11 minutos (tempo máximo de rodagem de um rolo de película). Toda esta cantiga do bandido, que tem por objectivo subliminar (mas não muito) a conquista da miúda, não é só a chave para compreender a construção do próprio filme a que assistimos (conjunto de cenas de cerca de 11 minutos sem cortes), mas é também o irónico espelho que nos devolve a imagem denunciadora da fabricação do cinema. Não é por acaso que um rol infindável de mentiras, encenações infantis e desculpas esfarrapadas é proferido pelas personagens ao longo da acção, culminando numa cena brilhante em que o realizador forja uma endoscopia que quase teve de realizar por ter fingido uma gastrite. Em Quando a noite cai em Bucareste ou Metabolismo , o realizador prega-nos uma partida de bom gosto ao seu próprio ofício, revelando tudo o que se passa por detrás da cortina e acabando por engrandecer a arte que fabrica sonhos, através da vigarice que imundamente flutua num mar de burocracia. Sem dúvida, uma confirmação de que Porumboiu é um nome a ter em conta no panorama do cinema europeu.