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Revista de 2013 - A melhor fruta da época

Fui ao Jamor buscar o caneco para Guimarães

O Vitória é grande, por uma série de razões. Porque sim.

Olhem nós a sermos únicos.

Não sei explicar. Nenhum homem sábio, razoável, vitoriano saberá escolher as palavras para fazer entender a dimensão de um sentimento ou de um estado de espírito — ou melhor, a dimensão da alma! Creio. O Vitória é grande, por uma série de razões. Porque sim.

Guimarães foi a primeira capital porque uma pessoa que nasceu e cresceu lá não estava satisfeita com o que tinha, com o poder instaurado, com os nossos donos e com o facto de não ser símbolo de nenhum clube de futebol. A partir daí, deu porrada até Lisboa e, mais tarde, a coça estendeu-se até ao Algarve. Daí nasceu uma coisa (e não "una cosa") que nos orgulha. Nasceu Portugal, nascemos nós. Portugal, ya!

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O Vitória jogou hoje com cinco portugueses — Paulo Oliveira, André André, Tiago Rodrigues, Ricardito e Amidó Baldé — contra outro clube com um tuga, nove sul-americanos e mais um tal de Matic, grande como o caraças. Estes jogadores vitorianos, portugueses, futuros jogadores de selecção (copiem os nomes para um lembrete a apitar na convocatória do França 2016) ganharam contra a equipa que esteve a segundos de ganhar quer a maior prova portuguesa como a segunda europeia. Bela obra para uma equipa feita por sete putos com menos de 23 anos que ainda nem sequer têm carros de jeito.

"Aquele gajo do Vitória que foi por ali fora e marcou aquele golo."

O nosso capitão, que tem uns olhos muita bonitos.

Quando virem um maninho a soltar uma lágrima, vai apetecer-vos chorar até mais não (mais do que no

ET

, até).

O meu pai viu finais com todos os campeões nacionais: Porto (duas vezes), Sporting, Belenenses e Boavista. Perdemo-las todas. Na verdade, o Vitória só tinha ganho uma Supertaça. Mas o 14.º clube com melhores assistências em Portugal é o Vitória B: teve mais adeptos no estádio do que quatro clubes da 1.ª Liga (sendo que, na próxima época, um deles até vai à Champions e outro à Liga Europa). O que é que isso interessa? Quase metade do Jamor, mais se tivessem deixado, vestia de preto e branco. Havia um sentimento de que a Taça já devia ser nossa há muito tempo. E agora é: "A Taça é nossa!". Sabe bem dizê-lo.

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Este senhor disse-me que tirou os três à boneca.

O meu pai esteve ontem pela primeira vez no Jamor. Viveu as outras finais todas e nunca foi campeão. Eu vivi 27 anos e nunca fui campeão. Aliás, em Guimarães custou sair o cântico: "Campeões, campeões, nós somos campeões

.

"

Não aprendemos isso na escola. Mas aprendemos a sentir. Sempre. A acreditar desde o princípio ao fim. Desde que descemos numa época, até subirmos na outra e ficarmos em terceiro, o apoio é sempre o mesmo. Há quem lhe chame "fanatismo", para nós é "paixão". Volto ao primeiro parágrafo.

Começamos no Jamor com alegria. Muito mais do que os outros. Na bancada e no campo. Sofremos com a sorte. Mas virámos, muito forte. Merecemos por todos estes 90 anos, por todos estes 90 minutos. O meu pai, o meu tio, o meu primo e eu: quatro gerações que mereciam a primeira taça. E vai Ricardito e golo!

Praça do Toural. Com "u". Dizer "Tôral" numa redacção em Lisboa pode ser normal, é o sotaque, mas não deixa de se escrever "Toural".

Ontem vi o Vitória a ganhar a Taça! Vi o Douglas a defender tudo. O Barrientos e o Matias a saltarem do banco para humildemente fazerem parte da história. Vi os piqueniques esperançosos no Jamor. Vi adeptos emocionados pela nossa força, mesmo antes do início do jogo. Vi as frustrações, as dualidades de critérios durante o jogo. Vi a injustiça e a reviravolta. O Ricardito a dar ao Flávio, que podia ser seu pai, a alegria que ele nunca teve. Hoje vi homens de barba rija a chorar. Vi os gandulos sem expressão, incrédulos, de óculos de sol tentando esconder a directa de sábado e os olhos encharcados.

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Vi os vimaranenses felizes. "Amanhã já vão falar de nós! Finalmente, vão dar-nos um bocadinho mais de atenção. Merecemos! Somos grandes!" Vi um Toural cheio, uma alegria imensa.

Não sabia onde podia pôr o Marco Matias em grande cenário, por isso botei-o aqui para o fim.

Mas como não queria acabar com o M&M, mandei esta miúda gira de Guimarães no zip para garantir que isto entrava.

Vivo em Lisboa, mas prometi que ia a Guimarães caso ganhássemos. São dez da manhã e ainda não dormi deste sonho. Para vós, pode parecer-vos isto ou aquilo, mas o sabor é tão bom que nem eu, nem os vitorianos, vos saberemos explicar. Convido-vos só a tentar compreender. Aconteça o que acontecer.

Curtiste isto, mas és do Benfica? Então, tens de ler isto.