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Fui cuscar a casa do Nicolas Cage

As manifestações físicas da depressão de um ídolo.

As minhas quatro coisas favoritas no mundo são: pechinchas, casas de gente rica, celebridades que já são famosas há tanto tempo que perderam a noção da realidade e cuscar as tralhas das outras pessoas. Por isso, fiquei completamente extasiado quando descobri que iria haver um leilão (aberto ao público) de todos os objectos de uma das casas que o Nicolas Cage perdeu por causa dos seus problemas financeiros. Conseguem imaginar melhor lar famoso para se cuscar? Caso se estejam a perguntar, o caos financeiro do Nic foi alimentado pela sua mania de desperdiçar dinheiro em merdas tipo crânios de dinossauros e cobras. Resumindo e concluindo: claro que lá fui dar uma vista de olhos. Antes de lá chegar, imaginei que a casa fosse uma loucura. Não uma loucura extravagante, mas uma loucura controlada. Estava à espera de corredores secretos, de uma sala com um trapézio, ou de uma mesa comprada ao Unabomber. Algo desse género. Mas, infelizmente, todos os quartos da casa tinham este aspecto: Uma mistura esquisitíssima de cenas mediterrânicas e orientais, como qualquer outra mansão de Beverly Hills decorada por um designer de interiores dos inícios do milénio (ver também: a casa dos Osbournes, local de filmagens de reality shows entre os anos 2000 e 2009). Cusquei todas as tralhas do Nic e eram essencialmente merdas estúpidas, cenas típicas de gente rica: iguais às da malta pobre, mas compradas em lojas onde a) não põem etiquetas com o preço e b) te servem champanhe. Mas havia mais cenas espalhadas pela casa. Algumas centenas de cópias de um livro de BD que o Nic escreveu (com o filho) sobre um soldado da guerra civil americana que trabalhava como detective na Nova Orleães pós-Katrina — nem sabia que este livro existia. E esta ADORÁVEL mochilinha que, muito provavelmente, pertencia ao filho estranho e gótico do Nicolas? "Rammastein", "metal", "666"!!! Depois, fui até ao guarda-roupa do quarto principal. Isto na foto é só metade do caminho para o armário, que era composto por vários quartos. O tamanho total da coisa era superior à área do meu apartamento. Deprimente. Foi precisamente no armário que encontrei um par antigo de ceroulas do Nicolas Cage. Claro que fiquei com elas para as oferecer a alguém como prenda de aniversário. Sou o melhor amigo de sempre. Isto também estava no tal armário. Não sei se conseguem perceber pela imagem, mas é um capacete de bombeiro e dois chicotes (o tipo de chicotes que os velhotes compram depois de lerem o 50 Shades of Grey, não daqueles que usas quando andas a cavalo). O que, pensando bem, era exactamente o género de coisa que estava à espera de ver na casa do Nic. É estranho, divertido e, mais importante, deixa-me fantasiar sobre o que ele andava a fazer com o seu tempo livre, ainda que, simultanea e paradoxalmente, me tenha sentido enojado com o meu lado voyeurista. Não conseguia evitar sentir que estava a olhar para coisas que ele gostaria que ninguém visse. Tipo, isto é estranho, certo? Toda aquela roupa interior da ex-mulher do Nicolas estava simplesmente ali, prontinha para ser comprada por um dólar. Senti-me esquisito durante o resto da visita. E quando fui ver a sua biblioteca pessoal e descobri isto? Hilariante. Mas depois olhei para a caixa ao lado e deparei-me com: um livro que explica aos pais como lidar com “crianças que estão fora de controlo”, que estava em cima de outros livros de auto-ajuda, com temáticas do género “como lidar com o síndrome de Tourette”, ou “como comunicar melhor com aqueles que amamos”, ou ainda como “evitar ter rugas”. Também descobri outro livro chamado God Wants You To Be Rich. Esta parte foi um bocado chata.

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Nic. :( Esta foi a casa em que o Nic viveu enquanto ultrapassava o seu divórcio. A casa em que teve de lidar com o distúrbio mental de outra pessoa. A casa em que se preocupou com cenas normais de pessoas normais, tipo rugas e dinheiro. A casa que agora estava a ser leiloada pelo banco porque ele queimou as suas poupanças. Senti-me um parasita à procura de comprar coisas engraçadas à conta da vida de um homem arruinado. Aqui atingi o meu limite. Estes assentos almofadados são, sem qualquer dúvida, a coisa mais nojenta do mundo. Por que é que um homem como o Nicolas Cage tinha uma coisa destas em casa? Na casa de banho? Por que é que ele se desleixou tanto com isto? Senti-me a olhar para a manifestação física da sua depressão. Foi demasiado… Demasiado duro imaginar o Nicolas Cage sentado nesta coisa, com anos de peidos e de mijo a saírem-lhe pelas coxas, enquanto o seu casamento se desafazia e o seu filho perdia a luta para o Tourette. O que estou a tentar dizer é: se te derem a oportunidade para espreitar o mundo privado de uma anedota andante, NÃO O FAÇAS. Vais estragar tudo. Ninguém quer humanizar os seus LOLs. Uma vez, tentei ver o clip da “NOT THE BEES” e nem um sorriso esbocei. Só conseguia pensar na velha mansão triste do Nic, repleta de falhanços. Nem sequer me senti confortável em comprar o antigo fato de mergulho do gajo. Mas ainda comprei esta ficha tripla. Precisava de uma nova e, por quatro dólares, teria sido estúpido não o fazer. NOTA: Apesar da empresa que organizou o leilão o ter promovido como a venda do recheio da casa que o Nicolas Cage partilhou com a Christina Fulton, é óbvio que a VICE não tem como confirmar que os objectos que estão nas fotos pertenceram realmente ao ex-casal. Não levem tudo tão a sério.