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É verdade que as gordinhas correm mais riscos durante o sexo?

Existem por aí uns quantos cientistas que querem entender melhor a vida sexual das gordinhas.

Pintura de Fernando Botero. Fotografia via WikiMedia Commons

Recentemente dei de caras com um livro do ano passado: "XL Love: How the Obesity Crisis is Complicating America's Love Life", da jornalista Sarah Varney, especialista em políticas alimentares. O livro, para além de histórias pessoais e estudos científicos, fala também sobre como o excesso de peso afecta negativamente a vida amorosa dos homens e das mulheres. Um dos capítulos - com o qual me identifiquei particularmente - , debruça-se sobre o excesso de peso e a obesidade nas raparigas adolescentes. Pelos vistos, uns quantos cientistas têm curiosidade em perceber a vida sexual das miúdas mais roliças, se bem que as conclusões não foram assim tão chocantes.

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Um estudo de 2006, conduzido por investigadores da Universidade de Cornell, dissipou o grande mito - aquele que muitos rapazes crescem a ouvir - e que diz que "As raparigas gordinhas são fáceis". A verdade, meus amigos, é que as raparigas gordinhas são mais contidas que as suas homólogas magricelas. Sarah Varney refere este estudo e acrescenta que as pessoas com excesso de peso ou obesidade têm maior probabilidade de entrar na idade adulta sem qualquer tipo de experiência mais íntima. (Isto faz-me lembrar alguém!)

Se estão familiarizados com as minhas crónicas, já devem saber que sou SAF ( single as fuck). Nunca tive uma relação que durasse mais que uns meses, e, felizmente - neste momento da minha vida -, não me importo minimamente com isso. Ainda assim, não consigo evitar pensar: por que é que já aconteceu com toda a gente deste mundo menos comigo?

Para tentar perceber isto resolvi fazer uma introspecção: Serei assim tão frívola? Saberei exactamente o que quero de um rapaz? Estarei a confiar demasiado na internet? Gosto da sensação de ser a minha própria terapeuta, mesmo sabendo que não é igual a ter REALMENTE ajuda de um profissional (convenhamos que é bem mais barato). Talvez a razão pela qual ainda não tenha experimentado relações amorosas longas e profundas é, precisamente, porque me recuso terminantemente a considerar algo como crucial: o meu peso.

A cena é esta: enquanto as adolescentes gordinhas têm menos probabilidades de fazer sexo, as que o fazem estão confinadas a ter sexo "de risco", mais que as miúdas elegantes. Vários estudos descobriram que as adolescentes mais corpulentas e mais activas sexualmente têm tendência a ter mais que três parceiros sexuais, mas não fazem grande uso dos contraceptivos, e a maioria pratica sexo anal. Varney faz referência a um estudo realizado em 2010, conduzido por três economistas, que afirma que existe um 43% de probabilidade de que as raparigas obesas que frequentam escolas com "estudantes menos gordos" pratiquem sexo anal. Varney cita também um estudante do secundário, Mason, que afirma: "Muitos rapazes seriam capazes de fazer sexo com raparigas gordinhas, mas não teriam uma relação com elas".

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Esperem. Li bem? Um estudantezeco respondeu mesmo à pergunta que me tem atormentado este tempo todo? Foi realmente isto que aconteceu comigo? A minha introspecção, a minha reflexão interior foi (e é) inútil? Poderá mesmo ser verdade que o meu corpo, generosamente coberto por gordura, tenha sido a causa da minha incapacidade para manter uma relação que valha a pena?

Já escrevi antes sobre o meu peso e sublinhei que, apesar de tudo, sinto-me atraente. Sempre me senti. Mas quando andava no secundário, nunca era cortejada pelos rapazes. Experimentei o que muitas raparigas gorduchas também experimentam - zero perspectivas românticas. Dei o meu primeiro beijo antes de engordar. Depois disso, o máximo que "dei" foi prazer oral a um gajo que mudou de escola, mas a coisa não correu assim tão bem. Não fazia ideia do que estava a fazer: a sua pila flácida escorregava-me da boca e caía, como um peixe fora de água. Depois disso, perdi a virgindade aos 21 anos, com um hippie viciado em cocaína. Durou três minutos - Obrigada, Kevin.

Depois da universidade, vi-me rodeada pelo tipo de homens com quem tinha fantasiado. Os homens por quem eu esperava. Inteligentes e sensíveis, feministas auto-proclamados que se recusavam a estar com mulheres ocas por muito atraentes que fossem. Finalmente homens que reconheciam toda a porcaria das sociedades retrógradas. Finalmente homens com quem eu desejava ansiosamente estar.

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Claro que estava errada. Independentemente das coisas que tínhamos em comum, ou de como nos dávamos bem, as relações nunca passavam de uma ou duas noites de sexo. Devo render-me à ideia de que, por mais frases poéticas da Gloria Steinem que estes gajos tenham escritas nos seus moleskines, não aceitam estar numa relação com raparigas gordinhas? Muitos deles também tinham excesso de peso, e muitos não eram assim tão atraentes. Será que os homens são tão básicos a ponto de para não poderem comprometer-se com miúdas mais robustas? Quando me diziam "És linda!" - o que raio quer isso dizer? Que sou suficientemente elegante para fazer sexo, mas demasiado gorda para me apresentarem aos amigos?

Recuso-me a acreditar nisso. Não pode ser assim tão simples, tem que ser mais complicado que isso. Pelo bem deles. Ou às tantas, é mesmo assim que acontece. Agora interrogo-me: a minha incapacidade de encarar o meu peso como um problema foi realmente um erro? Deverei aceitar o facto de não ser atraente, mesmo sentindo o contrário? É isto que o livro de Sarah Varney, tal como inúmeras investigações, pretende que conclua?

Ainda completamente atordoada, resolvi recorrer à activista e blogger, também ela gordinha, Marilyn Wann para me "situar". Segundo ela, a sociedade considera OK gozar com os gordos, porque têm (temos) coisas alegadamente erradas à sua (nossa) volta. "Essa é a lógica da opressão", explicou-me. Disse-me, ainda, que é imoral fazer os gordos sentirem-se pouco ou nada atraentes, e que "não é possível haver alguém não atraente ou não desejável num grupo demográfico inteiro. Em qualquer sociedade há sempre alguém espectacular que queremos conhecer. Pensar que não existe ninguém - em todo um grupo - que valha a pena conhecer é pura e simplesmente preconceito".

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Também perguntei a Laura Justice, uma especialista sobre planeamento familiar de Los Angeles, que acrescentou o "óbvio-mas-absolutamente-necessário" facto de que o excesso de peso não é o único condicionante para mulheres com problemas de auto-estima. "Uma baixa auto-estima numa adolescente é um problema profundo que afecta muitas raparigas independentemente do seu peso, altura, cor de cabelo, tipo de corpo, etc".

Então por que é que as raparigas mais robustas, quando iniciam a sua vida sexual, têm sexo mais perigoso? "Alguns dos meu clientes com excesso de peso tiveram problemas de auto-estima, e isso fê-los colocar as necessidades dos outros à frente das suas, o que cria dificuldades em estabelecer limites", disse-me Justice.

Tanto Wann como Justice concordam que perder peso não resolve o problema - uma conclusão que parece ser a mensagem genérica do livro de Sarah Varney. Wann acha que livros como o da Sarah, que lançam conceitos como "peso saudável" referindo-se às mulheres magras, reforça a intolerância face aos gordos.

"O que eu mais quero é que as jovens rechonchudas, que estão a considerar iniciar a sua vida sexual, se sintam bem com elas próprias", disse Wann. A triste realidade é que a maior parte não se sente assim. Rejeitam esse pensamento, tal como eu o fiz, um dia.

Quando entrei na casa dos 20, não tinha grande dificuldade em enrolar-me com qualquer gajo, porque não queria ser amada. O sexo era o único tipo de afecto que recebia por parte dos gajos por quem me apaixonava. Mas agora já não preciso do seu carinho para melhorar a opinião que tenho de mim mesma, e, à custa disso, a minha vida sexual vai de vento em popa.

A melhor parte? Não precisei de perder peso. E isto era o tipo de coisa que gostava de ter aprendido quando era mais nova. Quem me dera não ter sido educada num mundo em que a minha auto-estima é definida pelo que os homens sentem por mim. As miúdas gorduchas sexualmente activas são coagidas pelos homens - que, em diferentes graus, sabem que têm controle sobre elas - para correrem riscos que elas não querem.

Não há muita gente a ensinar a estas miúdas que têm o poder mais que suficiente para não dependerem da aprovação (duvidosa) dos homens. Em vez disso, continuam a dizer-nos para perder peso. E esse é o problema.

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