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Tecnologia

Há cidades que são feitas como lasanha

Calma: é nas nuvens.

Sabes aquela parte no Super Mario em que escalas até ao topo do pé de feijão no qual, de repente, encontras um novo nível escondido no meio das nuvens? Eu sei, é a cena mais fixe de sempre. Não há dúvidas que o Tomás Saraceno, o arquitecto que se tornou artista, é um grande fã do Super Mario porque, graças a ele (calma, calma), há uma enorme versão desse conceito, suspensa no céu, na vida real. O Tomás foi o primeiro artista de sempre a ser convidado para fazer uma residência no Centro de Arte, Ciência e Tecnologia do MIT. Os seus trabalhos anteriores incluem a construção de uma Cidade nas Nuvens, em Berlim, e uma teia de aranha gigante, em Nova Iorque, que demonstra a estrutura de uma galáxia. On Space Time Foam, o seu mais recente projecto, estende-se por 1200 metros quadrados e é composto por três camadas de película transparente. Fui ter com ele para falar sobre arte, ciência e sobre como o ar pode tornar-se na nova terra. VICE: Olá Tomás! O que é que compõe esta cena maluca?
Tomás Saraceno: Bem, 99,1 por cento é apenas ar. Toda a cena funciona através da combinação de ar com as membranas da película, no espaço da exposição. Cada experiência é única porque o teu movimento depende do teu peso e da pressão que exerces, o que depois irá afectar o espaço entre as membranas, levantando-as, ou baixando-as. Sei que é confuso, por isso pensa nisto como se fosse uma lasanha. Como assim, uma lasanha?
As diferentes membranas são como as camadas de uma lasanha. O ar é a carne entre as camadas. O peso de três pessoas vai fazer as estruturas curvarem-se muito mais do que o peso de uma única pessoa. Isto é uma analogia muito clara à teoria da relatividade do Einstein. Ele disse que a massa do corpo ultrapassaria o espaço e o tempo. Neste caso, o peso ultrapassa, literalmente, a membrana, e pode tornar impossível a fuga, como se fosse um buraco negro. Fixe. É saltitante?
Não, definitivamente não é um castelo saltitante. Quem me dera que todos os jornalistas que o descreveram dessa maneira tentassem saltar em cima dele. É impossível, mesmo. Para saltares em cima dele é preciso que haja algo que crie um efeito de ressalto, como num trampolim. Podes saltar em qualquer superfície, mas, na On Space Time Foam, as coisas funcionam da maneira oposta: tu afundas, em vez de seres catapultado para cima. Como é que uma pessoa se move, então?
O teu movimento está completamente dependente da posição das outras pessoas. Por exemplo: se queres sair, mas estás demasiado afundado para conseguir chegar à saída, é preciso que duas ou três pessoas se posicionem no lado oposto, para que tu possas sair. Isto estabelece uma relação directa entre todas as pessoas no espaço. Então, é uma espécie de efeito borboleta?
Exactamente! A instalação é como se fosse um ecossistema. Podemos relacionar-nos uns com os outros e com o espaço. Às vezes, existem pessoas (que nem consegues ver, ou sentir) que estão a afectar o teu movimento. Mas, passado um bocado, começas a perceber a dinâmica do espaço. Isto é pensado como uma espécie de processo de aprendizagem. Descobres como é que influencias as outras pessoas, consciente, ou inconscientemente. Ao mesmo tempo, está tudo ligado à linguagem corporal, porque as coisas acontecem demasiado rápido para conseguirmos comunicar com os outros, enquanto utilizamos o discurso. Podes ter de tentar reagir com o movimento das pessoas e com trabalho conjunto. E como é que sentes quando andas lá em cima?
[Risos] É genial! No início, tens um pouco de medo. A estrutura está suspensa a uma altura de 20 metros, mas a tua altitude estará em permanente mudança. Normalmente, começas por te sentir um pouco preocupado sobre quão estável toda aquela cena é, ou se te vai engolir ou assim, mas não vai acontecer. Tivemos de fazer muitos cálculos para ter a certeza de que era completamente seguro. Também tivemos em conta, obviamente, as regras de prevenção contra incêndios. Por isso, não é preciso ficar preocupado. Imagino que seja fácil perder a orientação.
E é, ao início. Só que é incrível o quão rapidamente o teu cérebro se adapta para compreender a mudança de ambiente. No momento em que aterras na espuma, começas a ter em conta a dimensão vertical, que é algo em que não pensamos, normalmente. É fascinante sentir o cérebro a alterar-se para acomodar um movimento completamente alienígena. O que é que vai acontecer à STF, quando a instalação terminar?
Nós concebemo-la de maneira a que seja possível que, depois da exposição, a STF seja movida para o exterior, preenchida com hélio ou hidrogénio, de forma a parecer uma ilha flutuante. Isso é de loucos. Como é que farias isso?
Colocaria isto perto das Maldivas, que será um dos primeiros sítios a ficar debaixo de água, devido ao aquecimento global. De qualquer maneira, sempre nos preocupámos com o que faríamos com a instalação, de um ponto de vista mais permanente. Convidámos cientistas do MIT para especularem sobre como é que se deveriam utilizar as ilhas flutuantes. Para destilar água potável do céu, por exemplo… On Space Time Foam faz parte do vosso projecto Cidades nas Nuvens. O que é se segue?
Vou fazer um projecto em Roterdão, algures entre um papagaio e um balão. Quando estiver vento, essa cena levantará voo e flutuará. É um comentário sobre a recuperação da terra, não apenas a partir do mar, mas também a partir do espaço. Também queremos que as pessoas possam caminhar sobre isto, vai ter aí uns 300 metros de comprimento. E poderá chegar, com o vento certo, a subir 60 metros. Por que é que estás tão interessado em combinar ciência com arte desta maneira peculiar?
É maravilhoso poder utilizar a arte como uma ferramenta para explicar conceitos que o pessoal poderia não compreender tão facilmente.