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Entretenimento

Imagina um Mundo sem diferenças de sexo ou género (é mais fácil do que parece)

O que significa ser mulher hoje em dia? E o que significa ser homem?
Alasdair McLellan

Este artigo foi originalmente publicado na nossa plataforma i-D.

Há uns dias jantei com um professor de teatro e, a determinado momento da conversa, perguntei-lhe sobre as aulas que lecciona, ao que me respondeu: "Arte dramática e performance de género". "Performance de género?", perguntei. "Claro! O género é uma performance". Mais tarde, quando já estávamos um bocado bebidos, recreámos um dos exercícios que costuma propor aos seus alunos. Tratava-se de criar uma linha imaginária que vai de um lado ao outro da sala.

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Num extremo da linha está a hiper masculinidade e, no outro extremo, a hiper feminilidade. Cada membro do grupo deve situar-se no lugar que pensa que ocupa nesse espectro de género. A experiência foi genial e super divertida, mas, no dia seguinte, depois da bebedeira, lembrei-me do que tinha sentido. Conversei com o meu namorado sobre isto e expliquei-lhe em que lugar me pus nessa linha imaginária. Ele ficou surpreendido com a minha decisão e disse-me que tenho uma personalidade muito masculina e que deveria ter-me colocado mais para o lado dos rapazes. "O que é que queres dizer com isso?", perguntei-lhe entre risos, enquanto lutávamos na cama. Ok, ele tinha razão: tenho características que são associadas tanto ao homem como à mulher. Mas, não sou a única e a maioria das pessoas sabe que não somos apenas uma das duas coisas.

A verdade é que a sociedade nos diz que temos de limitar-nos a um género apenas e ficar com esse "papel" durante o resto das nossas vidas. É claro que, de vez em quando, podemos alterar um bocadinho as regras, mas pergunto-me: será isto tudo o que realmente podemos fazer? São estas as nossas únicas opções? Apesar de estar bem longe da perfeição, o Facebook é um exemplo de uma empresa progressista em matéria de género: oferece-nos 58 opções. A sociedade deveria aprender com este exemplo. Queremos mais opções, bem mais diversas que as considerações (e limitações) de ser rapaz ou rapariga.

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Vê: "Vê o primeiro episódio de Gaycation"


Na realidade, o conceito de identidade de género supõe inúmeros problemas para homens, mulheres e pessoas transgénero. Todos os dias as mulheres enfrentam o sexismo. Continuam a existir diferenças nos salários entre homens e mulheres. Têm que suportar o assédio verbal dos homens quando caminham pela rua e continuam a ser "catalogadas" como "o sexo fraco". Além disso, a maior parte das vítimas de violência doméstica são mulheres e crianças.

E sobre os homens? A taxa de suicídio masculina em Inglaterra é três vezes mais elevada que a feminina, o que também demonstra a forma assustadora como a sociedade os pressiona. A expressão "porta-te como um homem" resume perfeitamente este horror. "O que significa exactamente comportares-te como um homem? Não chorares nem te queixares? Sustentares a família? Evitares exprimir os teus sentimentos?".

Um político republicano de Miami acaba de apresentar um projecto-lei que proíbe as pessoas transgénero de utilizar espaços públicos destinados a "bio-homens" e "bio-mulheres". A aprovação desta lei significaria que não teriam acesso aos espaços públicos. Só o facto de estarmos a falar sobre estas coisas já é assustador.

Os estereótipos de género com os quais vivemos são uma versão antiquada da nossa realidade. Uma péssima herança das gerações anteriores. Se é realmente assim, então porque estão tão enraizados em nós? Porque é que sentimos a pressão de comportar-nos de uma forma ou de outra, como um "homem" ou como uma "mulher"? Num mundo ideal saberíamos suprimir o conceito de género e ser simplesmente pessoas. Pensemos nisto: assim nem sequer existiría o conceito de "casamento entre pessoas do mesmo sexo", em vez disso seria simplesmente casamento. Poderíamos converter-nos na versão de nós mesmos que realmente somos e livrarmo-nos, a largo prazo, destas "obrigações" que nos foram implantadas.


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