FYI.

This story is over 5 years old.

Música

Música: Pão

O saxofone nocturno é o instrumento mais assustador de todos.

Pão
Shhpuma
7/10 Tenho um medo tremendo daquele gajo de cara pálida que entra no Estrada Perdida. Receio que me apareça à frente, num restaurante, e me diga qualquer coisa como: “Estou agora mesmo em tua casa a enfiar a tua escova de dentes no rabo”. É um tremendo cliché aquilo que vou admitir, mas todos os discos com um saxofone mais ligado aos sons da noite intensificam o medo que o David Lynch plantou na minha cabeça. Foi isso que aconteceu com o disco homónimo dos Pão, o trio formado por Pedro Sousa, Tiago Sousa e Travassos, que preenche aquela que é apenas a segunda edição da Shhpuma. Pois então, Pedro Sousa toca saxofone tenor, como se o instrumento fosse uma tarântula a trepar pela barriga e um gajo fica um bocado horrorizado com as três composições incluídas no disco chamado Pão. O Bill Pullman, que não é lá grande actor, toca também saxofone no Estrada Perdida e, a partir da daí, a associação passa a ser mais fácil. Contudo, quando “It was all downhill after the sling” começa a tocar, o Estrada Perdida dá lugar a uma espécie de banda-sonora para cenas românticas entre o anão e a velha do tronco, dois ilustres cidadãos de Twin Peaks. Esta é a segunda referência ao universo do David Lynch e isso só pode significar que não encontrei metáforas de jeito para falar dos teclados do Tiago Sousa ou das eletrónicas do Travassos. Mas gostei bastante deste disco.