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Razões pelas quais já não faço mamadas

Ok, antes que me denuncies a algum grupo de activistas pelos direitos do homem quero deixar bem claro que não odeio pilas.

Foto vía WikiMedia Commons

Não chupo pilas. É isso mesmo que acabaste de ler. Sou consciente de que a minha declaração provocará a indignação de muitos homens, e até de algumas mulheres que consideram a mamada um elemento obrigatório no repertório sexual de qualquer um. É algo que posso perfeitamente entender. O único problema é que odeio fazê-lo. Nunca achei especialmente fixe encher a boca com a pila de alguém.

Ok, antes que me denuncies a algum grupo de activistas pelos direitos do homem, quero deixar bem claro que não odeio pilas. Não acho que sejam feias, nem muito menos asquerosas. Um pénis médio tem um desenho muito prático e elegante, característica que admiro profundamente. E embora também adore as vaginas, e as partes que as compõem, ás vezes tenho inveja da despreocupação com que vivem as pilas. Experimenta falar com um pénis sobre a menstruação, ou sobre o equilíbrio do pH, e vais ver que fica sem resposta. Sobretudo porque é um pénis, e os pénis não falam, mas também porque não tem que preocupar-se com essas coisas. Mais ainda, nem sequer precisa de limpar-se depois de fazer xixi. Sim senhora, pilas. Com isto quero apenas dizer odeio ter de metê-las na boca, e fazer movimentos que podia perfeitamente fazer com a mão ou com a vagina.

De momento ando, mais ou menos, com um gajo. Não é nada sério, mas ele vem cá a casa comer-me a passarinha uma vez por semana. A única coisa que lhe dou em troca é uma palmadinha nas costas, pelo trabalho bem feito. Alguns de vocês pensarão que é um trato um bocado estranho. Não vejo porquê, eu acho que é quase perfeito. No nosso segundo encontro dei-lhe a oportunidade de chupar-me o clitóris. Depois de agradecer-lhe o facto de me ter acompanhado até casa, perguntei: " Queres subir e comer-me a passarinha? ". Ele respondeu que sim, muito entusiasmado, e assim foi. Estive sentada em cima da sua cara até chegar ao orgasmo, e depois mandei-o para casa. Mantivemos este acordo durante cerca de dois meses. Se a pergunta é porque é que não temos sexo, a resposta é que prometi a mim mesma que não teria relações sexuais até estar numa relação estável. Apesar da generosidade deste gajo, não há química, aquela das pequenas coisas, dos detalhes, e das conversas. Quando comecei com ele decidi não voltar a chupar nenhuma outra pila. Também decidi que não levaria a cabo uma relação sentimental com um homem que se negasse a comer-me a passarinha. Sou uma cabra egoísta? Talvez, mas não me importa. Até acho que mereço sê-lo. Este egoísmo é o fruto de muitos anos de encontros sexuais com homens que quase não colaboraram. E daqueles que o fizeram, todos (excepto um ou dois) pararam antes de que pudesse chegar ao orgasmo.

A verdadeira origem do problema parece ser que há por aí muita malta que acha que as mulheres chegam ao orgasmo através da penetração. A única coisa que um homem me deu, ao penetrar-me, foi o VPH. Nunca pude vir-me só com a penetração, e faço parte de uma maioria: de 50% a 75% das mulheres precisam que se lhes estimule o clitóris para chegar ao orgasmo. Uma pequena (e sortuda) percentagem tem o clitóris suficientemente perto da vagina, para que possa lá chegar, apenas com a penetração. No meu caso, tenho-o muito separado, e por isso agradeço o estímulo do sexo oral. É como se o meu clitóris estivesse no Alaska, e a minha vagina estivesse na Rússia. (Se quiserem uma analogia menos fria ou opressiva, é só substituir Alaska por Coreia do Sul e Rússia por Coreia do Norte).

Sou plenamente consciente de que poderia estimular-me sozinha, enquanto me penetram, mas é coisa que, no meu caso, nunca funcionou. Para chegar ao orgasmo tenho de concentrar toda a atenção no clitóris. Não é fácil chegar a esse grau de concentração quando tenho um gajo a assediar-me com a sua pila, enquanto me pergunta retoricamente se gosto o que está a fazer.

Sim, o facto de ter passado tantos anos sem receber sexo oral é, em parte, culpa minha. Naquela altura eu era diferente. Nunca dava negas, com medo de parecer menos atractiva. É uma coisa que acontece com várias mulheres, ter esse sentimento de que é mais importante satisfazer o homem que os seus próprios desejos, para dessa forma mantê-lo ao seu lado. Mesmo mulheres mais progressistas, obstinadas e seguras de si mesmas, caíram nesta linha de pensamento. Eu consegui, finalmente, libertar-me dessas amarras relacionadas com o sexo, e agora sei que, não só posso exigir, como também posso negar-me a fazer o que não quero, ou seja, uma mamada.