Este artigo foi originalmente publicado na VICE Sports Espanha.Numa qualquer tarde de um mês de Maio particularmente fresco em Paris, o líder dos The Clash, Joe Strummer, e a namorada, Gaby Salter, bebem um copo na esplanada de um bar de Montmartre, o bairro dos artistas por definição. O look de Joe é bastante particular: barba grande e cabelo com corte moicano. Gaby, por sua vez, mais discreta, afaga o cabelo ruivo liso enquanto lê um jornal local.O casal está bem disposto e ri-se bastante, talvez porque os textos em francês lhes soem bastante exóticos e extravagantes. Joe e Gaby não podiam estar em mais lado nenhum, a não ser no bairro onde nasceu Maurice Utrillo e onde personagens como Picasso, Van Gogh e Modigliani adoravam passar os dias.Entre o pouco que Gaby percebe do que está a tentar ler no jornal, o mais relevante é que daí a dois dias se realizará a Maratona de Paris. Joe fica encantado. Já tinha participado na Maratona de Londres em 1981 e acha que a prova parisiense é uma ideia divertida para aproveitar da melhor forma o exílio forçado.Reza a história que Bernie Rhodes, o manager dos Clash, terá obrigado Strummer a desaparecer durante umas semanas antes do álbum "Combat Rock" ser lançado. As vendas de "Sandinista!" tinham sido baixas e o grupo parecia estar a perder o "hype". O visionário Rhodes entendeu que, se Joe desaparecesse, as pessoas voltariam a prestar atenção aos Clash.Sentado na esplanada, Joe, provavelmente, saca um cigarro do bolso do casaco de cabedal. Faltam apenas dois dias para a Maratona e está decidido a correr. No livro Redemption Song: The Ballad of Joe Strummer, Gaby explica que Joe não treinou absolutamente nada: "Claro que não. Comprou uns calções e disse: 'Vamos lá correr essa Maratona'" .Joe sabia perfeitamente que lhe fazia bem afastar-se dos estúdios de gravação e deixar de pensar em música durante um tempo. A sua escapadela poderia até ajudar toda a banda a regressar a um estado de paz, já que, nos últimos tempos, os problemas com Mick Jones tinham tomado proporções bastante sérias.Strummer abandonara as gravações de "Combat Rock" antes de estarem terminadas. A 16 de Maio de 1982, quando o disco é posto à venda, Joe fica surpreendido de encontrá-lo nas lojas. O mundo inteiro questionava-se sobre o seu paradeiro e ele perguntava quando tinha saído o seu último disco. Que fina ironia.
Não me obrigues a sacar-to à força.Ok, tu é que pediste. Bebi 10 pints de cerveja no dia anterior. Estás a ver? E não mexi uma palha nas quatro semanas antes da maratona.Não correste nem sequer um metro?Não, nada. E não te esqueças das 10 cervejas da noite anterior. Mas quero que salientes uma mensagem no teu artigo: "Não faças isto em casa". Ou seja, este tipo de treino funciona comigo e com o Hunter Thompson, mas seguramente não funcionará com a maior parte das pessoas. A única coisa que posso garantir é que o fiz.De acordo com o site norte-americano Grantland, não há praticamente nenhuma prova de que Joe strummer alguma vez tenha participado na Maratona de Paris de 1982. Na foto que aparece no documentário "Joe Strummer: The Future is Unwritten" não é visível qualquer número na camisola do músico, nem na de Gaby. Se tivesse mesmo participado apareceria o seu nome, ou o da sua namorada… mas não, nenhum dos dois aparece - nem sequer o nome verdadeiro de Joe Strummer, John Mellor.Contudo, temos de ter em conta que estamos a falar de Joe Strummer. É muito provável que não se tenha inscrito na Maratona de Paris… e que não tenha dormido sequer uma hora na noite anterior. Também é muito provável que não tenha acabado a corrida, claro.A única coisa que nos parece importante salientar é que até uma pessoa como Joe sabia que libertar toxinas do corpo, suar e fazer desporto pode, de vez em quando, ser bom para a saúde. Mesmo que o tenha feito da forma mais alucinada possível. O próprio confessou que sofreu bastante depois de correr maratonas, o que não nos estranha, se acreditarmos na dieta que seguiu e que revelou na entrevista.A 20 de Maio de 1982, os The Clash voltariam a tocar juntos em Lochem, Holanda. Poucos dias antes, Joe não teve como evitar o seu regresso às luzes da ribalta: um jornalista alemão viu-o num bar de Paris e a sua invisibilidade esfumou-se.John Graham Mellor morreu de enfarte em 2002, aos 50 anos de idade. Para trás deixou um buraco gigante de raiva e repressão, que nos anos 70 conseguiu encher com as suas letras. O seu punk-reggae, que com "London Calling" atingiu o auge, mudou o género musical para sempre…e com isso a vida de muitas pessoas, que com as suas letras se sentiam vivas e perfeitamente representadas.E agora, tudo a correr, a libertar toxinas, a esquecer merdas e a libertar-se de todas as ansiedades: mesmo que não tenhas treinado e desde que não sigas a dieta de Joe Strummer e ouças esta canção, não há dor nem cansaço que te travem.Segue o autor no Twitter:@nicolereboSegue a VICE Portugal no Facebook, no Twitter e no Instagram.Vê mais vídeos, documentários e reportagens em VICE VÍDEO.
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Joe não era propriamente um gajo atlético, nem achava que o desporto fosse um pilar fundamental da sua vida. Mas, verdade seja dita: tipos como ele sempre fizeram o que lhes dá na real gana. Numa entrevista ao jornal norte-americano Steppin' Out, publicada uns anos depois, Strummer confirmou que, ao longo da vida, tinha participado em três maratonas… e, para além disso, descreveu a sua preparação atlética, que recomendamos fervorosamente que NÃO sigas.É verdade que uma vez participaste na Maratona de Paris?Sim. Participei em três maratonas em toda a minha vida.Corrige-me se estiver enganado, mas é verdade que não treinaste para nenhuma delas?Não devias fazer-me perguntas sobre o meu treino…Porquê?Porque não é bom para a saúde e não quero que as pessoas tentem imitá-lo.
Vê também: "O mundo sobrehumano do 'Homem do Gelo'"
Não me obrigues a sacar-to à força.Ok, tu é que pediste. Bebi 10 pints de cerveja no dia anterior. Estás a ver? E não mexi uma palha nas quatro semanas antes da maratona.Não correste nem sequer um metro?Não, nada. E não te esqueças das 10 cervejas da noite anterior. Mas quero que salientes uma mensagem no teu artigo: "Não faças isto em casa". Ou seja, este tipo de treino funciona comigo e com o Hunter Thompson, mas seguramente não funcionará com a maior parte das pessoas. A única coisa que posso garantir é que o fiz.
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