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O Congresso Democrático das Alternativas não traz alternativa nenhuma

Infelizmente para o país.

A apresentação pública da Conferência "Vencer a Crise com o Estado Social e com a Democracia", organizada pelo Congresso Democrático das Alternativas, encheu o auditório do liceu Camões para, ao todo, cinco intervenções — todas elas muito semelhantes entre si. O tema era o Estado Social e o debate foi marcado, sobretudo, pela ideia de que o mesmo deve ser reforçado, já que essa é a única forma de garantir o “bem-estar social” (expressão que, segundo Boaventura Sousa Santos, já foi erradicada pela classe política dominante) dos mais desfavorecidos. Mas, para quem não está familiarizado, é bom perguntar: que congresso é este? Que espaço político e ideológico ocupa? Que ideias novas ou alternativas contempla? Ontem, estas dificuldades ficaram a nu perante quem assistiu. No campo da estratégia política, sejamos francos, este congresso não é mais que um laboratório onde se testa a coligação. Este congresso alberga um espaço político e ideológico respeitável, interessante e não ocupado. Embora o seu preenchimento (que não se fará com este ou congressos semelhantes) possa abrir brechas no debate actual sobre as dívidas e o seu pagamento, o seu sucesso está condenado. Esta plataforma é, assim, apenas um impulsionador dos diálogos entre PS e BE. Poderá resultar nesse sentido, mas não muito mais. Porquê? Porque mais cedo ou mais tarde teremos que falar de propostas concretas e é aí que toda a ajuda é pouca. No ideário político (para não falar das respectivas agendas) a confluência é apenas aparente. Este congresso ainda não inscreveu nem uma proposta no debate nacional. Aliás, lendo a última declaração do congresso, assinada por 1700 pessoas, encontramos intenções batidas como a “reversão da tendência para a crescente desconsideração do trabalho”, “acabar com o trabalho não-remunerado”, entre outros. E sobre a troika? Defende o congresso que “aprofundar um combate frontal às políticas da troika e do governo”. Mas há partido (de esquerda) que não diga o mesmo? O PC di-lo repetidas vezes. O BE igual. Os partidos mais pequenos só sabem dizer isto. A certa altura, um dos oradores falou de “ofensiva”. É preciso uma “ofensiva contra este governo”. Como iremos construir uma ofensiva? A baralhação é tamanha no congresso e no país que as únicas pessoas que parecem ter um plano são as do Governo. Um plano horrível, é inegável, mas um plano. Este congresso tudo desmente e nada ambiciona e é por isso que não pode ser visto como uma alternativa ou alavanca do que quer que seja. Como dizia Boaventura Sousa Santos nessa tarde, é preciso reinventar uma solução e é preciso “ter um plano” ou não será alternativa nenhuma.