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ceca

Os Nossos Vizinhos: Fafe

Praias de Guimarães são em Fafe.

Fafe é pouca terra. Das localidades vizinhas de Guimarães e sendo das mais próximas geograficamente, Fafe parece, no entanto, inexistente no nosso quotidiano de interesses. Ninguém vai a Fafe. Corrijo, desde os tempos do rali de Portugal que ninguém lá vai. Corrijo novamente — também vamos à barragem da Queimadela a banhos, mas aí, tal como no caso do rali, não se vai à terra com propósito, mas simplesmente se passa pela terra. Provavelmente, há mais vimaranenses a ir a Fafe em bicicleta desde que a antiga linha férrea foi transformada em ciclovia, do que quando nesta alinhava o comboio. Por isso, o perderam. Fafe teve uma pequena sorte política (ou um pequeno político com sorte) e assim recebeu vias-rápidas — rápidas o suficiente para nos trazer mais depressa do arrependimento. Os de Fafe, continuam a vir à cidade como antigamente. Às compras, ao médico, ou “resolver assuntos”. Fafe ficou para trás, nas costas. Este hábito lusitano de ter os olhos postos no mar, leva a que locais menos relevantes sejam esquecidos. Poderia sugerir que Fafe seguisse o exemplo inverso de Vizela e se aproximasse, integrasse e assim progredisse. Até existe uma certa tolerância entre as gentes. Claro, com uma certa inveja dos de lá, mas isso compreende-se. Imagine-se “Fafe, Património Mundial da Humanidade por afinidade” e Guimarães a receber barragem e boa vitela! Uma troca a pensar. Somos uma terra generosa, como o comprova a história. Não fossem os de Guimarães, Fafe, a ser espanhola, teria ar de Andaluzia inóspita, cor de pó, com ares de terra perdida e gentes de expressão árida, isoladas e desagradavelmente vítimas duma severa amplitude térmica. Fafe pode muito bem ser o último reduto castelhano como aparenta o sotaque peculiar que possuem, que os atira para a Idade Média ou, na melhor das simpatias, para o meio caminho entre o madeirense e o açoriano. Coisa de ilhas, portanto. Praias de Guimarães são em Fafe. Vá lá que as terras ao redor são agradáveis. Montanhas e montes de verde. E uma inevitável sensação de Fafe ser, aqui tão perto, uma porta para o interior norte de Portugal, pois se há terra que cresceu na exacta proporção do que sofreu com a proximidade a Guimarães foi esta: F.A.F.E. — Fracos para Avançar e Fartos de Esperar. NOTA DO AUTOR: Verifiquei que a publicação deste texto provocou um elevado mal-estar e indignação aos leitores, em particular, claro, aos cidadãos de Fafe, pelo que apresento as minhas desculpas e lamento ter provocado uma reacção tão negativa. A motivação para esta rubrica, e a intenção do artigo, era produzir uma discussão irónica, explorando, com humor negro, as rivalidades entre as terras vizinhas a Guimarães — de resto, o mesmo modelo que utilizei para fazer a crítica da minha própria cidade num outro artigo, pelo que a linguagem e argumentação utilizadas foram propositadamente construídas num enquadramento exagerado. Não era minha intenção lesar e/ou ofender a cidade de Fafe e/ou os seus habitantes. Finalizo reforçando as minhas desculpas sinceras aos leitores, à cidade de Fafe e aos seus habitantes. Como é óbvio, Fafe é muito mais interessante do que este texto retrata.  Nuno Rocha Vieira Leiam o artigo de resposta do Paulo Doellinger.