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Porque é que os jardins zoológicos deveriam ser proibidos

Temos de acordar de uma vez e, como fez a Costa Rica, encerrar os jardins zoológicos.

Recentemente, uma inundação na capital da Georgia, Tbilisi, matou 19 pessoas - seis continuam desaparecidas. As chuvas fizeram com que o Rio Vere transbordasse, inundando a cidade e o seu Jardim Zoológico, matando alguns animais e deixando outros fugirem. Inicialmente, deram-se por mortos os sete tigres e os oito leões do Zoo, bem como dois dos três jaguares e 12 dos 14 ursos. Mas um dos tigres, que afinal tinha escapado, matou um homem, o que levou o primeiro-ministro, Irakli Garibashvili, a criticar publicamente os funcionários do espaço por divulgarem informações falsas. De acordo com o The Guardian, a polícia foi acusada de disparar desnecessariamente contra muitos dos animais. Além disso, a equipa do Jardim Zoológico foi vista a fazer selfies com leões, tigres e outros animais de grande porte que tinham sido alvejados. "Eu não podia acreditar nos meus olhos", diz um dos funcionários. E continua: "Eles eram como troféus para eles".

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Por mais terrível que seja, parece sempre inevitável um certo elemento de tragédia humana quando ocorrem desastres deste estilo. Nas cidades com uma elevada densidade populacional, é impossível que não existam pessoas que se vejam presas no caos quando acontece algo de muito grave. No entanto, a presença de animais selvagens nestes desastres - isso sim - poderia ser evitada. Deixando de lado a morte e o tratamento a que foram sujeitos neste caso em particular, isto de ter leões, tigres e outros animais de grande porte presos mesmo ao lado do sítio onde compramos o pão dá que pensar, para não mencionar que o fazemos por todo o mundo, atraindo 175 milhões de visitantes por ano.

Eu não sou um defensor activo dos direitos dos animais, mas tenho algum senso comum básico. E este diz-me uma coisa sobre o cativeiro de animais selvagens: provavelmente é algo que não deveríamos fazer.

Os jardins zoológicos, ou, como se chamavam originalmente "colecções de feras" - existem há uma quantidade de tempo surpreendente. O mais antigo foi descoberto em 2009 durante umas escavações no Egipto, onde os arqueólogos encontraram provas de um que datava de 3500 a.C. No entanto, até ao início do século XIX, eram meras representações de poder real, como a colecção de feras que Luís XIV tinha em Versalhes. Quando os jardins zoológicos modernos começaram a aparecer em Londres, Dublin e Paris é que se centraram na educação e no entretenimento do público.

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Em consonância com o desenvolvimento da nossa visão dos direitos dos animais, os jardins zoológicos têm evoluído ao longo dos últimos 30 anos: as jaulas foram quase inteiramente substituídas por fossos e vidros, e a maioria tem contratados veterinários a tempo inteiro para a administração de medicamentos e controlo das dietas. O reforço positivo é também a linha geral, e dar mangueiradas aos animais para que façam alguma coisa deixou de ser considerado ético. O uso de dardos tranquilizantes é cada vez mais raro, porque provoca demasiado stress aos animais.

Quando se trata de certas coisas, no entanto, ainda existem diferenças irreconciliáveis entre jardins zoológicos, parques e o habitat natural dos animais. Em relação ao espaço, o leão ou o tigre médio tem 10 000 vezes menos espaço em cativeiro do que no estado selvagem; os ursos polares, um milhão de vezes menos. Dizer que isto afecta negativamente o animal é um eufemismo: em 2008, um estudo financiado pelo governo britânico descobriu que todos e cada um dos elefantes no Reino Unido são motivo de preocupação em termos de bem-estar: 75% deles têm excesso de peso, e apenas 16% pode andar normalmente. Além disso, os elefantes africanos vivem três vezes mais liberdade do que em cativeiro, e 40% dos filhotes de leão morre em jardins zoológicos, em comparação com os 30% que perece em liberdade. Estas podem parecer percentagens semelhantes, mas, uma vez que um terço das razões porque morrem em liberdade - sendo os predadores uma das principais - não acontecem nos jardins zoológicos, talvez não sejam tanto.

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Então, pensar que os jardins zoológicos têm evoluído é um erro. No Reino Unido, tem havido inúmeros casos de abusos, como no Parque SafariWoburn, onde em 2010 foi descoberto que confinavam os leões em espaços minúsculos e completamente inadequados durante 18 horas por dia e que os funcionários treinavam os elefantes com chicotes eléctricos de 4.500 volts. Sem ir mais longe, em 2013, a Associação Animalista Libera! e a fundação Franz Weber descobriram o horror no Zoo de Barcelona, onde os animais também passam de 15 a 17 horas por dia sob o piso do jardim zoológico trancados em jaulas pré-históricas. Existe também o caso do Knowsley Safari Park, onde em 2011 vieram à luz algumas fotos em que se podia ver como se livravam dos animais em contentores depois de serem alvejados por pessoal sem formação. Na Irlanda, no polémico parque temático Tayto, foram impostas proibições em 2013 e 2014 para impedi-los de adquirir mais animais por causa da "alimentação inadequada", recintos "inadequados" e "altos níveis de agressão e stress observado nos animais".

A nível mundial, têm havido dezenas de relatórios sobre os treinos com chicotes, locais inadequados e maltrato físico, mas a maior associação de jardins zoológicos, a WAZA (Associação Mundial de Zoos e Aquários), ainda não expulsou ou condenou qualquer um dos jardins zoológicos associados a estas práticas.

Psicologicamente, os efeitos ainda estão presentes: no Reino Unido, 54% dos elefantes mostra problemas comportamentais, e os leões passam 48% do tempo a caminhar, que é outro sinal de problemas de comportamento; os animais em cativeiro mostram muitas vezes este comportamento "estereótipo" repetitivo ou ritualizado, que é provocado normalmente pelo tédio e pelo confinamento. Outros exemplos incluem lamberem-se excessivamente, auto-mutilação e o balançar da tromba. A depressão também é comum nos animais quando são perseguidos pelos visitantes, quando as suas dietas não são variadas ou quando não se atende ou se atrasa as suas necessidades de acasalamento.

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Um argumento habitual a favor dos jardins zoológicos é o trabalho de conservação que realizam. No entanto, se observarmos com atenção, descobrimos o que durante muito tempo tem sido um mito: na verdade, menos de 1% das espécies dos jardins zoológicos se devem a qualquer esforço de conservação; muitos são o resultado da endogamia e têm pouca "integridade genética" ou "valor de conservação", de acordo com um estudo de 2013 do Dr. Paul O'Donoghue, geneticista comportamental da Fundação Aspinall.

Longe de voltarem a reintegrar os animais na natureza, acabam por retirá-los: 70% dos elefantes europeus são arrancados do seu habitat, assim como 79% da população dos aquários do Reino Unido. De facto, observou-se que a população animal em cativeiro pode ver a sua conservação impedida. Existe um estudo que afirma que dão "uma falsa impressão de que uma espécie está a salvo, de modo que a destruição do habitat e a população selvagem possa continuar."

No ano passado, o Zoo de Londres gastou 5,3 milhões de libras num recinto para três gorilas. Em contrapartida, o Sea Life Aquarium, destina apenas três libras por visitante para os esforços de conservação. A diferença entre o dinheiro gasto com animais em cativeiro e o que é usado para os que vivem em liberdade é enorme, apesar de que manter os animais nos jardins é 50 vezes mais caro do que protegê-los nos seus habitats naturais.

Imagem via Flickr.

O mais irónico, no entanto, em relação a este mito é o número de animais que são mortos nos jardins zoológicos. No ano passado, depois de que a girafa Marius tenha sido morta no Zoo de Copenhaga, a Associação Europeia de Jardins Zoológicos e Aquários descobriram que cada ano se sacrifica entre 3000 a 5000 animais saudáveis na Europa.

Outro argumento a favor dos zoológicos é a educação que oferecem no entanto, 41% dos aquários do Reino Unido não têm as informações básicas nos seus cartazes, então o que é que poderia aprender uma pessoa que não possa aprender com documentários existentes no YouTube?

Sendo honestos, os jardins zoológicos fazem parte de um problema maior, que é a forma como nos relacionamos com nosso entorno natural. Levamos para lá os nossos filhos e acabamos por ensinar-lhes a perturbar os animais se não os entretêm, depois chegamos a casa e o jantar são douradinhos e nuggets de frango - comida impossível de distinguir, pulverizada e transformada numa massa - em vez de nos perguntarmos por que razão o planeta está como está.

Estamos tão ocupados a satisfazer as nossas necessidades mais básicas, aquelas que foram herdadas há séculos, que não vemos o mal que estamos a causar. Temos de acordar de uma vez e, como fez a Costa Rica, temos de iniciar o desagradável processo de encerrar os jardins zoológicos.

@0jnolan