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Quem é que vai comprar as tuas fotos no Instagram?

Gatinhos, comida e pés: temáticas prementes do quotidiano.

O Joãozinho, quando tinha 10 anos, era a cara chapada da sua mãe.

Provavelmente, vocês são demasiado novos para se lembrarem disto, mas há algum tempo existia um objecto francamente belo e útil que dava pelo nome de “álbum de fotos”, onde as pessoas guardavam todos os momentos Kodak da sua vida familiar — e não só — para que, naquelas ocasiões em que os primos e os avós e os concunhados da amiga da vizinha estivessem todos reunidos, se pudessem lembrar da vez em que tu, jovem bebé, mijaste para a boca da tua mãe enquanto ela te mudava a fralda, ou em que o teu primo levou no ombro com uma bela de uma bosta de um pombo sobrevoando a Ribeira do Porto, ou até aquele estranho momento em que as lampreias coladas ao aquário de um hotel perdido em Ponte de Lima te fascinavam. Eram tempos simples, em que a ditadura do

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like

ainda nem sonhada era, e em que as fotos vinham com efeito

retro

natural. Depois surgiram o Facebook e o Instagram e foderam isto tudo.

olhaeutambémalmoçoecomoarroz

Uso o Instagram, claro, quanto mais não seja para partilhar com o mundo coisas que sei que não interessam puto para o mundo — mas ei, é essa a génese da ideia que inspirou as redes sociais. Aparentemente, muita gente ficou indignada, porque os tipos vão passar a poder vender as fotos que a malta lá coloca a agências exteriores para efeitos de publicidade, o que, a bem dizer, é uma bofetada nas chamadas “leis da privacidade”. Não me interessa que já tenham vindo negar estes rumores. Isto porque temos de ser honestos e analisar esta hipotética mudança: a partir do momento em que colocamos, de livre e espontânea vontade, uma foto na Internet, não podemos esperar qualquer espécie de privacidade. Há sempre alguém que, com a melhor ou a pior das intenções, vai dar de cara com a fotografia que tiraste ao teu jantar de há dois dias, ao concerto que viste no Mexefest, à frase engraçada com que deste numa parede do Bairro Alto. Se a única solução que existe é apagares a tua conta e migrares para o Flickr, não há revolta que chegue para alterares a verdade universal que é o facto de que a Internet é a expressão máxima do “Eu Sei O Que Fizeste O Verão Passado”.

Este gajo tem 15 segundos de fama, porque tem amigos.

Além disso, vivemos numa época em que os 15 minutos de fama de Andy Warhol se tornaram 15 segundos. Um vídeo tosco no Youtube, uma mensagem palerma tornada estado no Facebook, uma fotografia em que estás agarrado a um polícia, porque sentes a paz e o amor a brotar-te nas veias: isto basta para fazer de ti uma

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personalidade

. Que o Instagram passe a vender as tuas fotos sem consentimento é apenas uma forma mais de acelerar o processo.

A figura mais popular do Instagram: o teu gato.

Hoje estás a comer um pedaço de chocolate Milka, amanhã substituis a vaca malhada enquanto mascote da empresa. Tornas-te famoso. E podes sempre tentar arrastar esses quinze segundos, processando quem quer que seja e gerando cabeçalhos e notícias intermédias de telejornal, ou posando nu para uma revista da cena. Quem quereria trocar isso pelo anonimato, direito que abandonaste a partir do momento em que entraste na Internet? (E não, também não é o Tor que te safa — credo, se andas por aí presumo que a PJ te vá brevemente bater à porta). Apenas loucos como o tipo que, na semana passada, matou vinte putos —

lo and behold

, não tinha conta no Facebook, só poderia ser alguém doido. A realidade é triste, mas factual: essas fotos que partilhas pertencem agora à rede e não a ti. É a mesma coisa que desenhares uma pila no muro de alguma casa; o grafiti não pertence a ninguém. Por isso, se não podes vencê-los, junta-te a eles…

Achas que alguém vai mesmo quer pagar por esta foto? Really?

(Estou evidentemente a ser sarcástico: de dia para dia esta coisa que vai pelo nome de World Wide Web se torna mais assustadora. Já pegávamos nuns archotes e forquilhas. Ou, então, dávamos uma de Unabomber. O neo-ludismo vai ser tão

in

em 2013.)