Steve Schapiro mostra-nos como vivem os novos hippies

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Steve Schapiro mostra-nos como vivem os novos hippies

O que faz com que estas imagens sejam especialmente alucinantes é o facto de terem sido tiradas em 2014.

Este artigo foi originalmente publicado na nossa plataforma i-D.

No novo livro do fotógrafo Steve Schapiro, intitulado "Bliss", podemos ver hippies peludos e sem roupa enquanto dançam e meditam. Numa das suas fascinantes fotografias, um ruivo despido, com o corpo coberto de barro, lança um sorriso em direcção ao céu enquanto dança. Noutra, um grupo está sentado em círculo, a rezar, com os braços cruzados de forma a fazerem um coração com as mãos entrelaçadas umas nas outras.

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Este tipo de reuniões são recorrentes em fotos dos anos 60, mas o que faz com que estas imagens sejam especialmente alucinantes é o facto de terem sido tiradas em 2014. "Muita gente pensa que os hippies foram um fenómeno dos anos 60, princípios dos 70", escreve o filho de Schapiro, Theophilus Donoghue, no prefácio do livro. "O movimento nunca acabou, apenas saiu das cidades para se instalar em povoações ecológicas e reunir-se em festivais anuais"

Para fazerem "Bliss", Schapiro e o filho foram a vários festivais dos Estados Unidos da América - como o "Mystic Garden", o "Rainbow Gathering", ou o "Electric Forest" - onde o fotógrafo captou retratos íntimos de neo-hippies em danças eufóricas, em projectos de arte visionária, em curas através do som, meditação e yoga. Não era a primeira vez que fotografava esta sub-cultura. No primeiro trabalho que a revista Life lhe encomendou, em 1967, Schapiro documentou os hippies de Haight-Ashbury, em São Francisco (ainda que, como explica mais adiante, várias coisas tenham mudado).

Steve Schapiro começou, então, uma carreira em que documentou vários momentos históricos, como a Marcha de Selma até Montgomery com Martin Luther King Jr., retratou algumas celebridades, como Steve McQueen, Sophia Loren, Andy Warhol, Michael Jackson e David Bowie, mas também criou cartazes para cinema, de filmes como "Taxi Driver", ou "O Padrinho III". Apesar disso, o fotógrafo de 82 anos continua em busca da imagem perfeita. "Ainda não tirei a minha melhor foto", afirma Schapiro na entrevista que se segue. "Não sei qual será".

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Como descobriste o novo movimento hippie e porque decidiste fotografá-lo?

No 4 de Julho de 2001 fui com o meu filho Theophilus ao "Rainbow Gathering", em Michigan, onde encontrei um ambiente de grupo genial. Tinham um lema que dizia: "Tudo o que precisas é de uma tigela, uma colher e um umbigo", e se souberes tocar batuques, melhor.

Em 2008, o Teophilus voltou a surpreender-me e, no Dia do Pai, ofereceu-me um bilhete para o "Burning Man", que, para mim, foi uma experiência artística alucinante. Levei a máquina e creio que foi aí que se plantou a semente.

Tendo tu vivido o movimento hippie original, surpreendeu-te ou preocupou-te que o teu filho tivesse decidido converter-se num neo-hippie?

O Theophilus sempre teve valores espirituais tremendos e sempre adorou dançar. É uma inspiração constante para os que estão à sua volta e leva-os, eu incluído, a serem pessoas mais ligadas ao espírito. Os neo-hippies têm uma perspectiva da vida e uma atitude em relação a eles próprios e aos outros que é bastante diferente do que experiencei em São Francisco.

Podes explicar isso melhor? Em que é que os hippies contemporâneos são diferentes dos seus antecessores dos anos 60?

Em 1967 fotografei o bairro de Haight-Ashbury para uma reportagem sobre "hippies e aborígenes" para a revista Life. São Francisco era, basicamente, uma cidade psicadélica e as drogas e as relações fortuitas pareciam estar na cabeça de toda a gente. As bandas que tocavam em Fillmore West (Grateful Dead, Jefferson Airplane, The Doors e a Janis) eram emblemáticas e toda essa música alucinante ainda anda por aí.

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No entanto, em relação aos hippies do passado, a actual geração está mais interessada na meditação, nas orações e na dança eufórica como meio de acesso a estados alterados, em vez da utilização de substâncias psicadélicas. Há também um maior cuidado com o corpo, através das dietas veganas, ou dos alimentos crus.

O que se passa nesses festivais? Podes descrever-nos um dia na vida de um hippie no "Mystic Garden", ou no "Electric Forest", por exemplo?

Durante o verão há festivais de música em todo o lado, não apenas no Oregon, ou no Norte da Califórnia. Estão por todos os Estados Unidos e pela Europa. Os próprios festivais convertem-se numa espécie de reunião de família a que os hippies voltam ano após ano, para se reunirem com velhos amigos e viver em tendas e caravanas durante uma semana.

Nos festivais verdadeiramente familiares, como o "Mystic Garden", não há álcool, as famílias chegam com os seus filhos e vivem nas suas tendas durante uma semana. A música começa a meio da manhã e prolonga-se noite dentro. Existem alguns grupos e projectos preferidos destes festivais, como Nahko e Medicine for The People. E vende-se todo o género de comida, desde alimentos crus, a pratos tailandeses.

Há também muitas actividades, desde o yoga, à meditação de olhos abertos, mas o mais importante é a dança extremamente enérgica. Em São Francisco, o mais importante eram as bandas, os intérpretes, e todas as atenções estavam voltadas para eles, enquanto que nestes festivais de transformação, o mais importante é o espírito de todos os que dançam. O que cria o ambiente de grupo.

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Participaste em alguma dessas actividades dos festivais?

Fiz muitos amigos, tive muitas conversas, dancei um bocado e tirei muitas fotografias. Toda a gente gostava de ser fotografada e se olhares para a última página do livro verás uma foto que é o reflexo desse espírito e que te fará rir.

O que queres que as pessoas pensem ou entendam, ao verem as tuas fotos?

Com um bocadinho de sorte, o sentido do valor da vida.


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