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Uma breve história da polémica e violência à volta de Charlie Hebdo

Charlie Hebdo chegou pela primeira vez às letras gordas internacionais em fevereiro de 2006.

Ontem, no distrito 11 de Paris, três homens armados entraram nos escritórios do semanário satírico de esquerda Charlie Hebdo. Os homens, disfarçados e armados de metralhadoras, mataram 12 pessoas (incluindo 12 polícias) e feriram a outras doze. Abandonaram o local, e ainda não foram capturados. Segundo as autoridades gritaram "Allahu Akbar" e "O profeta foi vingado".

Charlie Hebdo tem uma longa trajectória de publicações de material polémico, e está na mira de radicais muçulmanos desde há já muito tempo. O semanário é acusado de odiar o Islão e de ser racista, por causa dos seus desenhos e da forma como representam o Profeta Maomé. A publicação foi alvo de ameaças e atacada em várias ocasiões.

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Charlie Hebdo chegou pela primeira vez às letras gordas internacionais em fevereiro de 2006, quando publicou uma série de vinhetas (entre as quais uma que mostrava Maomé com uma bomba como turbante), num jornal dinamarquês Jyllands-Posten. Este evento provocou fortes protestos no Médio Oriente. O presidente francês, naquela altura Jacques Chirac, qualificou a acção de "provocação descarada", e vários grupos muçulmanos franceses processaram a revista e o seu editor Philippe Val, por "ofensa pública a um grupo de pessoas devido às suas crenças religiosas".

A partir desse momento, os grupos islamitas juntaram-se contra Charlie Hebdo (e contra outras publicações satíricas que também publicaram estes desenhos). Houve inclusive uma suposta mensagem de audio de Osama Bin Laden, na qual qualificava estas vinhetas como "uma nova cruzada".

Em Novembro de 2011, Charlie Hebdo publicou na sua capa outro desenho de Maomé, onde dizia que este tinha sido nomeado Editor Chefe. No dia seguinte, os seus escritórios foram incendiados. A polícia chegou à conclusão de que fogo tinha sido provocado. O site de Charlie Hebdo também foi atacado por hackers e substituído por uma mensagem que dizia: "Continuais a rir-vos do todo poderoso profeta do Islão com os vossos desenhos asquerosos, em nome da liberdade de expressão". A acção foi atribuída a um grupo de hackers turcos chamado Akincilar. Numa entrevista a um jornal francês, um dos seus membros declarou que se tratava de "um protesto contra o insulto aos nossos valores e crenças", embora negasse qualquer relação com o incêndio.

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Em setembro de 2012, o semanário voltou a publicar umas vinhetas de Maomé (desta vez nu), e o governo francês fechou as embaixadas e as escolas de todo o Médio Oriente, com medo a represálias. As autoridades francesas prenderam um homem por pedir a decapitação de Stephane Charbonier, também conhecido como Charb, o editor da revista. Charbonier foi também alvo de ameaças em março de 2013, quando a revista da Al Qaeda, Inspire, o colocou numa lista dos mais procurados. Esta lista incluía outros editores e cartoonistas, de vários lugares do mundo, que também tinham publicado desenhos de Maomé.

Nos últimos anos, (durante os quais as tensões entre os muçulmanos e o resto da população francesa aumentaram), Charlie Hebdo continuou na sua linha habitual. Em 2013, um vendedor de jornais foi ameaçado por jovens muçulmanos por ter na sua montra um exemplar da revista.

Nenhuma dessas polémicas, ou momentos de violência, podem comparar-se ao ataque de ontem. Os atacantes continuam em paradeiro desconhecido.