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Quem é Eunício Oliveira, novo presidente do Senado?

Segundo senador mais rico do país, pemedebista era dono de empresa acusada de tentar fraudar contratos com a Petrobras em R$ 300 milhões.

Foto: Agência Brasil

Sem muito alarde ou choradeira, diferente do que é esperado para a Câmara dos Deputados, Eunício Oliveira (PMDB-CE) faturou nesta quarta-feira (1º) a presidência do Senado. O substituto de Renan Calheiros (PMDB-AL) no comando da Casa marca 12 anos consecutivos de PMDB na presidência do Senado – na verdade o partido praticamente  comanda  sozinho a parada desde a redemocratização, em 1985, com apenas duas interrupções: Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA), entre 1997 e 2001, e o curto mandato tampão de Tião Viana (PT-AC), de outubro a dezembro de 2007, quando Renan havia renunciado para se livrar de ser cassado por um escândalo que lhe persegue até hoje.

Se a disputa parece tranquila do lado de fora, por dentro do PMDB Eunício teve que bater o pé para descolar a posição. Renan, o eterno, queria Romero "vamos estancar a sangria da Lava Jato" Jucá (PMDB-RR) para a presidência, uma opção assaz ousada em tempos de delação da Odebrecht. Porém, Eunício queria Raimundo Lira (PMDB-PB) como líder da bancada, cargo que acabou sendo assumido por Renan, num acordão final com o selo Michel Temer de aprovação.

Se a escolha de Eunício pôde ser prenunciada por estar mais afastado do centro de escândalos da Lava Jato – diferente de Jucá, um dos primeiros ministros defenestrados do gabinete interino por conta dos reveladores diálogos gravados pelo ex-presidente da Transpetro Sergio Machado – as delações da Odebrecht podem mudar essa situação rapidamente. Já no primeiro depoimento vazado ainda em 2016, de Cláudio Melo Filho, o novo presidente do Senado é apontado como um dos membros do "núcleo dominante" do PMDB no Senado, ao lado de Renan e Jucá, e que Eunício teria recebido R$ 2,1 milhões pelo auxílio inestimável na aprovação de medidas que auxiliassem a empreiteira, o que ele, obviamente, nega. Antes disso, ele havia apenas figurado como coadjuvante na estrepitosa delação de Delcídio do Amaral.

Porém, este está longe de ser o maior escândalo da carreira política do pemedebista. Empresário e agropecuarista, Eunício entrou para a vida pública em 1998, ao se eleger deputado federal pelo Ceará. Participando inicialmente da frente ampla que elegeu Lula em 2002, Eunício teve uma passagem rápida pelo Ministério das Comunicações no primeiro mandato do ex-presidente. Em 2010, depois de três mandatos na Câmara, se elegeu senador, ocupando o cargo de líder do PMDB no Senado. Em 2011, o Estado de S. Paulo apurou que uma empresa da qual Eunício era sócio, a Manchester, faturou R$ 300 milhões em contratos supostamente fraudados com a Petrobras. Mais tarde, em 2015, O Globo descobriu que a Manchester na verdade havia faturado mais ainda, cerca de R$ 1 bilhão, com a estatal. Os negócios da Manchester inclusive acabaram ligando o senador ao chamado "mensalão do DEM". Para evitar a fadiga, Oliveira vendeu sua parte na empresa, e a investigação do TCU parece não ter ido em frente. Quando Eunício se candidatou a governador do Ceará em 2014 (saindo derrotado na ocasião por Camilo Santana, do PT), sua declaração de patrimônio saltou de R$ 36 milhões, em 2010, para R$ 99 milhões, fazendo dele o segundo senador mais rico da Casa. Recentemente o Estadão apurou também que Eunício é dono de empresas que mantém contratos no valor de R$ 703 milhões com bancos estatais. Pelo jeito a presidência do Senado pode ser mais um bom negócio para Eunício Oliveira.

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