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A Vida É Dura Quando Se É um Pedófilo Condenado

Peter Gibson foi acusado de ter estuprado sua sobrinha em 1979. Encontrei com ele num apartamento tosco no subúrbio de Melbourne, onde sua esposa indonésia cozinhou rolinhos primavera para nós e chorou pacas.

No espectro da criminalidade, nada enoja e enraivece mais as pessoas do que a pedofilia. Peter Gibson, da cidade de East Geelong, em Victoria, na Austrália, descobriu isso em 2007, quando sua sobrinha o acusou de tê-la estuprado em 1979, quando ela tinha oito anos. Peter negou veementemente a acusação, mas o juiz o considerou culpado e ele foi preso por nove meses em maio de 2009. Desde sua libertação, Peter se viu isolado no extremo mais baixo da pirâmide social. Encontrei com ele num apartamento tosco de um conjunto habitacional social no subúrbio de Melbourne, onde sua esposa indonésia cozinhou rolinhos primavera para nós e chorou pacas. Enquanto isso, Peter arrancava os pelos da sobrancelha e resmungava sobre sua inocência. Não sei dizer se ele é inocente ou não (você pode ler os dois lados da história aqui e aqui), só fiquei pensando como seria sua vida atual. Como é passar de uma pessoa completamente normal para um tipo universalmente odiado?

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VICE: Peter, qual foi exatamente sua acusação?
Peter Gibson: Fui acusado de forçar minha sobrinha de oito anos a me masturbar num trailer. O que é uma grande mentira, eu estava vivendo em Mornington na época.

Você não estava lá?
Não.

E você não é um pedófilo?
Não, eu não acredito nisso. Isso é nojento, acho que as pessoas que são assim são doentes e que nunca deveriam sair da cadeia ou que deveriam ser injetadas com alguma coisa para não ter mais esses impulsos. Não dá para sair por aí fazendo isso. Não é ético. É nojento.

Você não fez isso então?
Não. Juro pela Bíblia Sagrada e pela morte da minha mulher. Eu não estava lá.

Como você explica ter sido condenado no tribunal?
Acho que foi porque esse é um assunto polêmico, as pessoas têm toda uma carga emocional em relação a isso e não querem nem ver os fatos. Tudo que as pessoas enxergam é a vítima, mas às vezes a vítima joga com isso. Foi isso que aconteceu, só uma briga de família que saiu do controle.

Como a sua esposa respondeu a essa acusação?
Minha esposa ficou devastada porque ela me conhece. Ela não duvida de mim, ela sabe que eu sempre falo a verdade.

E o relacionamento de vocês mudou por causa disso?
Antes desse pesadelo começar, tínhamos uma vida ótima. Tínhamos um relacionamento apaixonado que a maioria das pessoas invejava, e o sexo não era problema. Desde que isso aconteceu o sexo se tornou inexistente.

Por quê?
Por causa dessa situação em que fui colocado e da medicação que tem afetado meu desejo por sexo.

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Que medicação você toma?
Na época da minha sentença eu tomava 20 mg de Lexapro, um antidepressivo. Quando fui libertado, meu estresse aumentou e minha dosagem subiu para 80 mg, que eu tentei baixar para 60, mas fiquei muito deprimido e pensando em cometer suicídio. Agora também tomo Ozapram para dormir, porque que meu cérebro nunca para.

No que você pensa quando não consegue dormir?
Sempre penso em como superar esse problema. O próximo processo é provar que sou inocente. Não quero ser um eremita.

E agora você é um eremita?
Basicamente.

Você nunca sai em público?
Nunca. Fico paranoico com a possibilidade de alguém me reconhecer, já chegaram a publicar meu nome num jornal.

Sobre o que era o artigo?
Bom, foi basicamente porque meu irmão também estava envolvido. Dois irmãos que estupram crianças — essa foi a matéria. Então acho que se alguém me vir na rua, com certeza vou apanhar.

Alguém já te reconheceu antes?
Não, essa é a parte mais idiota. Nunca me reconheceram.

Você foi ameaçado na cadeia?
Todo dia eu era provocado. Eles me chamavam de KFC (Kiddy-Fucking Cunt, algo como Puto Comedor de Crianças). Quando eu saía para ir ao médico ou algo assim, minha cela era destruída, coisas eram roubadas. Quando eu estava no telefone eles costumavam cortar a linha e todo tipo de coisa assim. Eles acham que estão acima de você mesmo sendo criminosos.

Você me disse que gosta de soltar animais de gaiolas.
É, sinto que eles não deveriam ficar trancados porque sei como é isso. Não é natural. Eles estão presos contra a vontade. Eu disse isso para minha sobrinha e ela não me deixa mais chegar perto da casa dela, porque eu posso soltar o coelho.

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Você fica nervoso perto de crianças?
Ah, sim. Fico pensando no que eu faria se visse uma criança atravessando a rua na frente de uma caminhão, se eu deveria pegar a criança e correr o risco de me encrencar com a polícia ou se deveria ir embora e lidar com a vergonha de não ter ajudado a criança atropelada.

Seus amigos ficam relutantes em te deixar sozinho com os filhos deles?
Sim e não. Por exemplo, estávamos tendo uma festa no 19º andar e minha amiga queria vir, mas ela ficou pensando no que aconteceria se a polícia aparecesse — porque tínhamos convidado umas 50 pessoas — e descobrisse que os filhos dela estavam lá. “Não quero que eles pensem que sou uma mãe ruim”, ela me disse. Então ela não veio.

Você trabalha?
Não consigo emprego porque sou ex-presidiário e fui classificado como pedófilo. Estou na lista de criminosos sexuais.

Você chora muito?
Ah, no começo eu chorava sim, mas agora não choro mais. Eu meio que choro por dentro, mas não por fora. Acho que o pior já passou. Eu estive lá e saí, já se passaram quase quatro anos. O único problema é que a polícia sempre aparece fazendo perguntas idiotas. Isso me chateia.

Por que eles vêm? Que perguntas eles fazem?
A polícia aparece aqui todo mês. “Tem alguma criança morando aqui?” Não. “Você mudou de endereço?” Não. Só esse tipo de coisa.

E por quanto tempo isso vai continuar?
Até eu morrer. 30 anos. Acho que 26 na verdade. É como se você tivesse uma ferida e alguém sempre colocasse sal quando ele está quase se curando.

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E o que te ajuda? Você jurou pela Bíblia… Você frequenta a igreja?
Bom, fui forçado a deixar de ir à minha igreja porque tinha muita criança lá. Agora vou a uma igreja diferente e sempre com outra pessoa, para ter um álibi caso alguém diga alguma coisa.

Mas você ainda acredita em Deus?
Quando fui preso, perdi minha fé. Fiquei paranoico quando saí da cadeia e não queria mais ir a lugar nenhum. Então voltei para a igreja e ganhei muita força, voltei a acreditar em mim mesmo. Encontrei força n'Ele, mais agora do que antes quando eu estava na cadeia. Essa é outra coisa que me faz continuar — saber que um dia tudo vai mudar. Sei que Deus sabe que sou inocente e que minha família sabe que sou inocente. Isso me mantém forte.

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