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Anarquia Ateniense

Ao longo deste ano, os gregos aperfeiçoaram sua receita de pandemônio. Primeiro, encha uma praça com milhares de pessoas putas da vida. Adicione alguns comunistas fanfarrões equipados com porretes de madeira e uns anarquistas empunhando refrescantes...

Palavras por Alex Miller
Fotos: Henry Langston

Ao longo deste ano, os gregos aperfeiçoaram sua receita de pandemônio. Primeiro, encha uma praça com milhares de pessoas putas da vida. Adicione alguns comunistas fanfarrões equipados com porretes de madeira e uns anarquistas empunhando refrescantes coquetéis molotov. E finalmente, quando a multidão estiver em pânico e as pessoas estiverem pisoteando umas as outras, peça para a polícia temperar tudo com gás lacrimogêneo. Os gregos estavam protestando contra as medidas de austeridade apresentadas no parlamento pelo Willy Loman da União Europeia, o primeiro-ministro grego George Papandreou, que tentava desesperadamente persuadir o resto da UE a socorrer seu país completamente falido. Quando chegamos lá, pilhas enormes de lixo enchiam as ruas e todos estavam visivelmente deprimidos. Essa passeata foi uma confederação tosca de facções: os comunistas, que sempre marcham sozinhos; sindicalistas, que tinham ocupado vários prédios estatais há uma semana; os estudantes e os “Desperados” — gregos que não seguem uma ideologia em particular, mas que gostariam de viver num país que não fosse comandado por imbecis corruptos. E por último, mas não menos importantes, os anarquistas, que se atrasaram depois que os comunistas tentaram impedir sua participação. Os fãs de levantes sociais violentos sabem que ninguém se revolta como os anarquistas gregos, e que se eu fosse identificar a facção estrela no meio dos vários grupos manifestantes, seriam eles. Muitas pessoas odeiam os anarquistas, já outras acham que eles são a linha de frente da guerra contra a opressão — uma infantaria remelenta de punkinhos crust. O “movimento” anarquista levou um tiro no braço em 2008, quando um anarquista de 15 anos foi morto pela polícia. O anarquismo, no entanto, tem influenciado a política grega desde os levantes estudantis de 1973, quando o exército usou um tanque para derrubar os portões da Politécnica Ateniense ocupada pelos manifestantes, matando 18 pessoas que tinham se amarrado aos portões da universidade, o que provocou um movimento nacional que depois derrubaria a junta militar de direita. Hoje a universidade está ocupada novamente, e os anarquistas e socialistas se parabenizam em todo o país com a convicção de que a Grécia vai explodir em violência indiscriminada muito em breve, como naqueles gloriosos dias de 73. Outro fator que ajuda a causa é que a força policial grega é uma das mais odiadas de toda a Europa. Todos com quem conversamos afirmaram que as forças especiais MAT (aka tropa de choque) estão ligadas aos neofascistas locais do Aurora Dourada [Hrisi Avgi, em grego]. No primeiro dia das greves organizadas parecia que todas as ruas estavam cheias de manifestantes. Isso pode parecer romantismo da minha parte, mas eu me sentia mais numa revolução do que num protesto. Não havia uma causa comum, só a premissa de que a vida seria melhor sem esse governo (o que parece ser o fio condutor comum dos protestos pelo mundo todo este ano). Todos marcharam juntos em direção ao parlamento na Praça Sintagma e deram tudo de si para invadir a sede do governo. Mas eles não chegaram nem perto — a polícia usou suas armaduras, granadas de luz, escudos, cassetetes e muito, muito gás lacrimogêneo. Parecia que a maioria das pessoas lutando ali eram tiozões pançudos que provavelmente já tinham feito isso antes em 1973 — eles pareciam profissionais em quebrar pedras enormes com qualquer coisa que parecesse vagamente com um mandril. Depois a polícia começou a jogar as pedras de volta na gente, mesmo assim foi uma puta experiência edificante de comunhão. O segundo dia não foi assim tão legal. A PAME, uma das muitas subseções comunistas, fez um cordão em frente ao parlamento, se recusando a deixar qualquer outro manifestante passar. Os anarquistas encararam isso como uma ofensa pessoal e responderam jogando pedras e bombas incendiárias em qualquer um que estivesse na frente. Depois de algumas horas de briga feia, os policiais do MAT removeram — e recolocaram — os caras do PAME em frente ao parlamento. Desperados e anarquistas recuaram, vagando sem rumo e resmungando alguma coisa sobre “guerra civil”. Um anarquista, durante uma pausa nas rodadas de pancadaria com a polícia, gritou: “Não vai haver amanhã!”. Naquela hora, isso soou profundo pra caralho, mas infelizmente ele estava muito, mas muito errado.

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