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As Desvantagens da Cocaína

SÃO VÁRIAS, E TERRÍVEIS. Há algumas semanas recebi uma ligação do meu pai dizendo que meu primo tinha sido morto em uma chacina de um cartel colombiano.

SÃO VÁRIAS, E TERRÍVEIS

Há algumas semanas recebi uma ligação do meu pai dizendo que meu primo tinha sido morto em uma chacina de um cartel colombiano.

O Carlitos tinha 27 anos e morava no Panamá. Ele foi encontrado em um jipe abandonado em uma estrada, o motor ainda estava ligado, junto com outros dois corpos. Todos os três tiveram os olhos e bocas cobertos por fitas adesiva marrons. Suas mãos e pés estavam amarrados com cabos. Eles foram esfaqueados na cara e na perna, e depois executados com tiros de 9mm na parte de trás da cabeça.

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Carlitos e eu jogávamos Nintendo, andávamos de skate e íamos à praia juntos quando crianças. Quando ouvi a notícia sobre sua morte, disse ao meu pai que entraria no próximo avião de Londres rumo à Cidade do Panamá para ir ao funeral.

Cheguei lá e vi minha família chorando, e a cara do meu primo estava em todos os jornais. Imagens da sua morte sangrenta estavam nas capas (tablóides latino-americanos publicam fotos sempre que possível). A mídia disse que o triplo homicídio foi um assassinato do tráfico.

A morte de um lavador de dinheiro colombiano chamado “Jabon” (sabão, em tradução livre) iniciou uma série de assassinatos de vingança entre os gângsteres panamenhos.

A polícia divulgou um comunicado dizendo que todos os mortos eram “maleantes” (meliantes). Um cara havia sido preso por assalto armado e fraude, o outro era traficante e o meu primo tinha um histórico de se envolver com drogas e carros roubados.

Ninguém na família podia acreditar que Carlitos tinha sido presto, muito menos morto por traficantes. Nunca achei que ele metesse a napa no pó. Ele não bebia, não fumava, não andava tão cheio de jóias assim. Não era pobre/indigente o bastante. Era um moleque educado da classe média. Como ele entrou nessa violência do tráfico?

Gotas da chuva tropical caíam sobre o teto da Igreja de Guadalupe durante o funeral. O padre negro e gordo estava suando enquanto abençoava o caixão.

O antigo padre dessa igreja, minha madrinha depois me contou, foi assassinado a tiros por meliantes.

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Segurei minha avó enquanto ela chorava ao lado da irmã, do irmão, da mãe, da ex-esposa e da namorada do Carlitos na primeira fila. Algo como 100 pessoas passaram para dar os pêsames. Chorei vendo meu tio Carlos, que estava em pedaços atrás de óculos escuros, relembrando como mais cedo, naquela mesma tarde, ele havia descrito como foi até o necrotério e lavou o corpo de seu filho para a cremação.

No final da missa, minha tia leu uma mensagem da nossa família sobre como as pessoas não deveriam acreditar em especulações sensacionalistas da mídia sobre o ocorrido. Eles não queriam acreditar que o Carlitos era envolvido com gangues. Eles não sabiam o que tinha acontecido, e não queriam saber… Mas eu queria.

O Carlitos era dono de uma loja de carros onde ele instalava sons, pára-choques de corrida e rodas. Tinha certeza de que seu assassinato estava conectado a tipos de meliantes que ele tinha conhecido através da sua loja. Então fui até lá para achar pistas.

Sentei na mesa do Carlitos, dei uma olhada no seu computador na esperança de achar alguma coisa – qualquer coisa que ajudasse a explicar por que essa tragédia tinha acontecido na minha família. A maioria dos arquivos eram contas e planilhas. Havia fotos dele de férias com sua esposa e seu filhinho. Fotos dele em reuniões de carros de corrida, posando com modelos peitudas ao lado de carros cromados. Nada que parecesse incriminador.

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Mas então encontrei uma pasta chamada “Miami”, na qual achei fotos estranhas. Havia uma foto de um dos meliantes assassinados com Carlitos. Havia fotos de mulheres deitadas em uma cama. Na mesma pasta, uma foto de uma mala cheia de notas de US$20 – acho que o equivalente a $ 250 mil.

Não demorou muito para eu entender que o dinheiro naquela foto era muito provavelmente ligado à morte do meu primo. Não sei a quem pertencia, mas era uma quantidade criminosa de dinheiro, provavelmente proveniente de lucros de tráfico de cocaína.

O Panamá está banhado por de coca e dinheiro proveniente da coca. Um grama custa £1. O crack é 20p a pedra. Cocaína entra pelo lado vizinho da Colômbia, é mandado para o México e depois para os EUA. O dinheiro ganho com a venda na América do Norte volta ao Panamá porque, como é o paraíso fiscal favorito da América Latina, lá o dinheiro pode ser facilmente lavado.

Com tanta coca e dinheiro de droga por aí, a tentação de entrar nessa narco-economia, seja por tráfico ou por lavagem de dinheiro, é grande – ainda mais para os 40% dos panamenhos vivendo abaixo da linha da miséria. Mas os riscos associados são mortalmente sérios, dada a ultra-violência com que os gangsteres operam o país.

Como a maioria das capitais na região do Caribe, a Cidade do Panamá é cheia de crackeiros armados que curtem reggaeton andando perto dos caixas eletrônicos.

Mas a violência das gangues surgiu com o fluxo de meliantes colombianos que atravessam a fronteira cheia de buracos, fugindo dos US$3.5 bilhões da guerra contra as drogas dos EUA daquele lado. O crime local começou a ter uma característica de tráfico: corrompendo policiais, ataques de granada e ataques de execuções ultra-violentas, como o que matou o meu primo.

TEXTO POR DOM TOONY VICE UK
TRADUÇÃO POR EQUIPE VICE BR