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Fotos

As Sociedades Amadoras de Escalada de Cambridge Eram Punks Antes do Punk Existir

O Thomas Mailaender apresenta fotos de estudantes de Cambridge escalando prédios da universidade nos anos 1930.

Thomas Mailaender é um francês que percebeu que as pessoas, às vezes, podem fazer sua arte ser divertida, além de comovente, evocativa e todas as outras coisas importantes. Em seu último livro, Extreme Tourism, ele colocou uma camisa havaiana e fez fotos sobrepostas dele assando pizzas em vulcões ativos. Gone Fishing, o livro anterior, é cheio de cartas para sua esposa, nas quais ele detalha suas viagens de pesca com os amigos, se desculpa por ficar tanto tempo longe e promete voltar logo. O livro também tem uma foto do Thomas com um olhar sentimental ao lado de um golfinho.

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O novo projeto do Thomas, The Night Climbers of Cambridge, está atualmente em exposição no Roman Road Project Space em Londres. A exposição é composta por 75 fotos de estudantes de Cambridge escalando prédios da universidade e da cidade durante a noite. Essas fotos foram usadas originalmente no livro cult de mesmo nome de 1937, que foi publicado sob o pseudônimo “Whippelsnaith” por Noël Howard Symington, um estudante de Cambridge.

Thomas apresenta essas fotos a um público novo, distribuindo-as em paredes de escalada temporárias dentro da galeria. Então, se você estiver esperando uma hora e pouco de simples contemplação artística, pode tirar seu cavalo da chuva. Compre um daqueles sapatos de escalada e se prepare fisicamente para passar uma hora dependurado numa parede, sem qualquer equipamento de segurança. Eu me encontrei com o Thomas para saber mais sobre isso.

VICE: Oi, Thomas. Como um francês colocou as mãos nessas fotos de Cambridge dos anos 1930?
Thomas Mailaender: Comprei esse material do filho de Noël Howard Symington, o autor do livro The Night Climbers of Cambridge. Ele era um estudante entediado da Universidade de Cambridge, então, ele e os amigos escalavam prédios da universidade e da cidade à noite. Era tipo o parkour da época – se o parkour não fosse besta. Nos anos 1930, escalar esses prédios era um ato real de desobediência. Se tivessem sido pegos, eles teriam sido suspensos.

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É, e eu sei que isso ainda acontece em Cambridge. Foram esses caras que inventaram isso?
Sim, foram esses caras, e isso só se tornou uma coisa clássica depois por causa do livro. Fotografar a coisa toda se tornou um ato político e eles queriam propagandeá-lo fazendo um livro. Eles estavam mandando uma mensagem para as autoridades: “Olha o que estamos fazendo. Venham nos pegar".

Você não acha que eles eram só um bando de caras ricos querendo se mostrar?
Não. Quer dizer, talvez não fosse uma coisa política. Eles eram uns moleques entediados e presos à universidade e seus papéis. Talvez eles tivessem que trabalhar durante o dia, mas à noite eles se tornavam criaturas que subiam em telhados. Eu gosto do fato de eles fazerem esses atos de desobediência à noite e, claro, da ideia de subir cada vez mais alto e se arriscar tanto.

Por que você decidiu usar essas fotos em seu próprio trabalho?
Como artista, uso muitas fotos de diferentes fontes. Claro, também faço fotos, mas muito do que uso são imagens de outras pessoas. Às vezes, são só fotos idiotas da internet, no entanto, às vezes – como nesse caso –, é algo mais histórico. Mesmo que essas fotos sejam dos anos 1930 e sejam muito Cambridge, elas ainda têm esse poder de idiotice.

Essa parece ser a conexão com Extreme Tourism e Gone Fishing. Esses livros são, obviamente, engraçados.
O que eu gosto nessas fotos é o estilo pegadinha. Pegadinhas são a melhor coisa do mundo, porque você está fazendo algo engraçado, mas o ato engraçado pode ser bem político de certa maneira. Há uma elemento de perigo nessas fotos também. Penso na vida como um parquinho e essas fotos realmente mostram isso. Elas podem ser dos anos 1930, mas, parecem realmente ligadas a meu trabalho.

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Os anos 1930 foram uma década importante aqui? A incerteza política e a depressão econômica – isso tinha um papel nessa história?
Ian Jeffrey escreve sobre isso nos textos que acompanham as fotos. Ele fala sobre a depressão dos anos 1930 e a associa aos escaladores noturnos. Talvez eles sentissem que não tinham futuro. É uma coisa meio punk, né? “Vamos colocar nossas vidas em perigo porquê… por que não?”.

Você pensa no seu tipo de humor e se isso é um tipo de humor francês?
As pegadinhas são muito importantes para mim, o que não acho que seja muito francês. Meu trabalho é mais mostrado fora da França. Há algumas galerias francesas que expõem meu trabalho, mas as pessoas às vezes ficam imaginando o que estou fazendo. Eu me sinto como um turista em Paris, mas gosto disso.

O que você acha que os franceses querem de você? O que constituiria um estilo mais francês?
A arte francesa agora é muito, muito séria, e muito mais conceitual. É irônica e conceitual. Muitas pessoas na França acham que meu trabalho é sobre ironia, mas não é realmente assim. Quando faço uma brincadeira, eu rio e depois mudo isso para outro contexto.

A exposição de Thomas, com as fotos penduradas em paredes de escalada.

Esse projeto de Cambridge parece um pouco mais sério, em parte porque você não se colocou nele.
Para mim, esse trabalho é mais um projeto de curadoria. No entanto, fiz uma parede de escalada enorme na galeria, então, isso torna tudo um pouco diferente. Fizemos uma exposição com as fotos colocadas a 6 metro do chão, e não é possível vê-las se não escalar. Ano que vem, vamos para a Suíça e teremos um instrutor de escalada e cordas, então, vai ser tudo mais seguro. Essa é uma maneira de reapropriar as imagens.

Isso também dá às pessoas uma ideia do perigo envolvido quando as fotos foram tiradas. Quer dizer, como elas foram feitas?
É possível ver que, na maior parte da subida, eles não tinham cordas de escalada, o que é realmente perigoso. A última foto da exposição é a de um cara no topo da Universidade Trinity – na cruz – que fica a uns 50 ou 60 metros do chão, e o cara está fazendo um sinal do lado da cruz.

Tem algo interessante sobre perigo em lugares supostamente seguros.
É o que eu gosto nessas fotos. As pessoas estavam tão entediadas e se sentiam tão seguras que precisavam desse relaxamento. Alguns amigos já me disseram que estamos tão a salvo em nossa vidinha na Europa, que, às vezes, seria legal se uma guerra acontecesse. Não legal, mas talvez mais interessante para nossas vidas. Em alguns de meus trabalhos, gosto de me colocar em perigo, só um pouco em perigo, que é uma maneira de deixar minha vida um pouco mais interessante por meio da arte.

The Night Climbers of Cambridge está em exposição na Roman Road Project Space, 69 Roman Road, Londres, até 20 de outubro. Para ver mais coisas do Thomas, visite o site dele.

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