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Vice Blog

Ativistas pelos direitos dos homens ganham milhões porque moleques brancos querem se sentir oprimidos

Caras como Roosh V sabem que muitos caras brancos e frustrados sentem profundo prazer de imaginar uma opressão contra eles. É o jeito mais fácil – e lucrativo – de não confrontar a realidade.

Daryush "Roosh V" Valizadeh (foto por Bartek Kucharczyk via).

O Movimento pelo Direito dos Homens (MRA, na sigla original) tem todas as características de uma típica teoria da conspiração. Há a transferência de fracassos pessoais para outro grupo social; há a convicção de que o tal grupo se infiltrou nos altos escalões da sociedade para promover a própria agenda; e, por fim, há a crença de que o movimento "tomou a pílula vermelha" e percebe a realidade que membros normais da sociedade não conseguem ver.

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Como muitos cultos de teorias da conspiração, aqueles que pregam o evangelho do MRA podem lucrar muito com a devoção de seus seguidores. E é aqui que devemos nos concentrar. Por mais violento e misógino que seja, o pick-up artistDaryush "Roosh V" Valizadehque disse que estupro deveria ser legal "se feito em propriedade particular", entre outras asneiras – está nessa pelo dinheiro.

Sim, pela grana.

Na semana passada, saiu a notícia de que Roosh planejava organizar uma série global de encontros para seus "colegas de tribo". Jornais, políticos e ativistas de mais de 40 países descobriram que hordas de ativistas pelos direitos dos homens congregariam em 165 localidades do mundo para um "Encontro Internacional". A cobertura da imprensa foi colérica desde o começo, como Roosh pretendia desde o início. O objetivo dele, afinal, não é unir os homens contra as forças opressivas do empoderamento feminino; é, sim, lucrar com o desejo de jovens homens brancos de se sentirem oprimidos.

Em 2015, Roosh virou manchete no Canadá depois de uma campanha que ele chamou de "Batalha de Montreal". Um nome grandioso para um evento esquecível. Feministas canadenses, revoltadas com a ideologia neomasculinista de Roosh, protestaram contra apresentações dele em Vancouver e Montreal. Roosh convocou seus seguidores a "contra-atacar" e ameaçou as feministas na internet. Num desfecho chocante, uma manifestante jogou uma cerveja na cara de Roosh. E foi isso.

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Uma análise do Google mostra como as buscas por Roosh e seu site decolaram nas semanas da "Batalha", antes de despencarem mais uma vez para o nível normal. Ficou muito claro que ele aprendeu com os eventos do ano passado e decidiu, em 2016, bolar uma polêmica caça-cliques numa escala muito maior:

"Você é um idiota. Não estou ganhando dinheiro com isso", me disse Roosh, quando contatado para comentar o assunto. Mas se o encontro global devia mesmo ser clandestino, o canadense não teria publicado os locais e as senhas num site público.

Roosh construiu uma armadilha para a mídia e usou seus fervorosos seguidores como isca. Aí ele se sentou e ficou assistindo à cobertura da imprensa e os internautas sendo guiados para sua loja online. Quando a história dessa semana apareceu, ele compartilhou um gráfico com a explosão de visualizações em seu site, comparou seu ranqueamento na ferramenta de busca com o ultracontroverso Milo Yiannopoulos e se gabou de sua "infâmia".

Ao rejeitar as noções de masculinidade do patriarcado, a teoria feminista oferece soluções para questões que afetam os homens, a exemplo das altas taxas de suicídio e a estigmatização de doenças mentais. Mas a principal preocupação de Roosh é a "infâmia", não o sofrimento dos homens.

Por isso Roosh apresenta o feminismo como uma "guerra" contra os homens. "[A existência dos homens] é um mero purgatório até um ultraje recém-criado mandá-los para o inferno", ele escreve. "Aqueles que não pegarem em armas… vão sofrer mais." Sua retórica pseudomilitarista é calculada para atrair homens jovens revoltados, desesperados por um senso de inclusão e importância.

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Os pick-up artists geram lucro de maneira muito similar ao complexo industrial militar ocidental. Funciona assim: pegue, primeiro, homens marginalizados, amargos e frustrados com a falta de oportunidades de avanço financeiro/sexual na sociedade civil/beta; segundo: convença-os de que você pode dar um significado a vida deles os unindo a outros homens para garantir a dominância de corpos inferiores. (Corpos marrons degenerados em um caso; corpos femininos biologicamente inferiores em outro.) Diga a eles que guerra é essa e que a participação deles é significativa.

Por fim, venda a eles uma AK-47 ou um e-book autopublicado chamado Day Bang: Como Pegar Garotas Casualmente Durante o Dia e fique com os espólios da guerra.

Os lucros de Roosh vêm diretamente das contas do PayPal de seus acólitos do sexo masculino. O problema é que a opressão fantasma que ele engendra na mente de seus seguidores se manifesta como opressão real contra os corpos de mulheres do mundo todo.

Mulheres morrem nas mãos dos soldados do MRA na guerra contra as mulheres. Frustrado ao ponto do ódio com uma seca sexual de nove anos, George Sodini procurou aconselhamento de pick-up artists como Roosh. Ele participou de conferências deles, comprou seus livros e comentou em seus fóruns.

Mas seu investimento, para a surpresa de ninguém exceto ele, fracassou em gerar qualquer retorno sexual. Seu blog registra sua raiva contra as "30 milhões… de mulheres solteiras desejáveis", ele calculava, que o tinham "rejeitado". Então ele matou três dessas mulheres "desejáveis" a tiros e depois se suicidou.

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Os seguidores de Roosh se agarraram à morte de Sodino como prova de que "celibatários são mortos que andam", e usaram seu "fracasso" para vender seus produtos. "Não seja como George Sodini – Sério – melhore seu jogo e caia na real", escreveu um mercenário do MRA, linkando sua própria loja online.

Sodini é um caso extremo, mas encarna perfeitamente as mentiras propagadas por Roosh e sua laia. Sabemos que, na verdade, há algumas razões para os homens não estarem conseguindo transar: eles não se encaixam nas normas de atratividade impostas pelo patriarcado ou são babacas sexistas. Mas o MRA oferece uma terceira opção atraente, muito mais fácil que desconstruir valores patriarcais externos e comportamentos machistas internalizados. A "pílula vermelha" oferece um inimigo externo tangível e a oportunidade de chafurdar na autopiedade sobre a injustiça de uma sociedade supostamente matriarcal que não deixa você conseguir o que quer.

Roosh se alimenta dessa ânsia iludida por sofrimento para engendrar atitudes que levam mulheres a serem espancadas, humilhadas e marginalizadas. Os homens sexualmente frustrados, por sua vez, mais furiosos do que nunca com as mulheres – e assim mais propenso a comprar os livros de Roosh. Aqueles que compram sua ideologia neomasculinista não são leões liderados por burros. São "betas" liderados por "alfas".

Tanto a Batalha de Montreal quanto os encontros seguintes foram enquadrados como atos de resistência pseudomilitar. Matérias no site de Roosh sobre a "Batalha" fazem referência a "ataques aéreos", "campanhas de solo" e "guerra da informação".

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Ansiosos por se sentirem parte de um movimento de resistência real, muitos fãs compram essa retórica. Comentários sobre o encontro global salivavam sobre um "momento divisor de águas na história do mundo" e sublinhavam a importância de "manter uma segurança operacional básica" (tipo, publicar suas medidas de segurança num fórum público?).

"É hora de ficar na clandestinidade nas cidades que ameaçam a segurança dos meus apoiadores", tuitou Roosh quando a mídia bateu à sua porta na segunda, amplificando a paranoia dos fãs ao ponto do absurdo. O canadense sabe que seus fãs não correm risco real, mas quer que eles acreditem que suas vidas estão em perigo por causa da ameaça feminista. Aqueles que estão a salvo da opressão sentem um prazer voyeurista em imaginar o peso sobre si, como se estivessem assistindo a um filme de terror que pode ser desligado a qualquer momento.

Os encontros vão, inevitavelmente, estar cheio de jornalistas à espera de que algum antifeminista ingênuo alimente as câmeras com citações provocadoras. É um círculo vicioso, com a atenção negativa da mídia a reforçar a satisfação do MRA no conhecimento imaginário de que o mundo todo está contra eles.

Emprestando a terminologia das teorias de conspiração, a tempestade de merda da mídia com os encontros de Roosh é uma operação de bandeira falsa. Roosh trouxe de propósito a fúria da esquerda global para si. Os encontros são planejados para gerar compras do livro dele, não para estabelecer uma guerrilha internacional de ativistas dos direitos dos homens. Seus fãs tomando as trincheiras em seus sobretudos são apenas danos colaterais.

@hashtagbroom

Tradução: Marina Schnoor