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Domingão Verde e Amarelo em Copacabana

O ato "Fora Dilma" no Rio de Janeiro foi tranquilo. Quer dizer, mais ou menos.

Saí de casa rumo ao ato "Fora, Dilma" do Rio de Janeiro muito curioso para ver com meus próprios olhos esse movimento tão plural que venho acompanhando pela internet através dos posts do Batman dos protestos. O ato estava marcado às 9h30 no Posto 5, na orla de Copacabana. O deputado Jair Bolsonaro, outro puxador do movimento no Rio de Janeiro, marcou uma concentração própria, às 8h, no Leblon, de onde caminhou até Copa. Ainda, assim, mesmo depois de todo esse rolé, Jairzinho não foi feliz em agradar seus coleguinhas de pauta, pois foi vaiado e impedido de discursar no carro de som.

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Cheguei a Copa mais ou menos na hora marcada. Uma legião verde e amarela rumava para a concentração soprando apitos, que eram distribuídos aos baldes nas esquinas das ruas que dão acesso à orla. Parecia Copacabana na época da Copa do Mundo – só que sem argentinos, chilenos ou black blocs. Na verdade não via tanta gente com a camisa da seleção desde aquele 7x1. "Nossa bandeira jamais será vermelha" era um dos coros que a galera puxava. Havia alguns grupos de policiais por todo o trajeto; além disso, volta e meia helicópteros davam rasantes – quando isso acontecia, o povo batia palmas.

No Posto 5, um carro de som tocava uma versão antiPT de "Para não dizer que não falei de flores", um dos hinos da resistência à ditadura militar. Tinha mais uns três ou quatro carros de som – o que tinha a trilha sonora mais criativa era o do vemprarua.net, que deve ter feito vários artistas se revirarem na tumba. Além do Geraldo Vandré, teve também Cazuza ("Brasil"), Renato Russo ("Vamos celebrar a estupidez humana"), Chorão ("Não é sério"), Plebe Rude ("Até quando esperar") e aquela que sempre me dá arrepios, seja em manifestação ou no carnaval: "Eu quero é botar meu Bloco na Rua", de Sérgio Sampaio.

Mais intervenção militar…

Esta faixa fez bastante sucesso na internet por conta da suástica. Mas na foto compartilhada não apareciam a foice e o martelo, o que torna sua mensagem um pouco mais light — mas não menos fascista.

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Já tinha lido que a Força Sindical estaria apoiando o ato, mas, fora essa faixa, não vi nenhuma outra expressão sindical.

O Batman de Marechal Hermes tava lá, claro!!!

Volta e meia uma tia doida me pedia foto. Eu atendia o pedido sempre; afinal, minha memória é uma merda e podia ser, sei lá, a mãe de algum amigo ou de um vizinho.

Tinham uns cartazes bem criativos.

Tinham vários leleks também. Vi até um bebê com uma camisa da seleção com uns desenhos da Pepa Pig.

Aviões com todo tipo de publicidade não paravam de voar pela orla. Vendedores pediam R$ 5 numa água, culpando os depósitos que aumentaram o preço do gelo e da água naquela data. Ambulantes também aproveitaram pra desencalhar o estoque da Copa do Mundo.

Felizmente, volta e meia alguns grupos vaiavam essa galera da intervenção militar, puxando o coro "Democracia! Democracia!". Era gente vestida de verde e amarelo com cartaz "Fora, Dilma" e discurso de "Basta de corrupção", mas que, nem por isso, vai apoiar o trelelê desses fascistinhas golpistas.

"Você não viveu essa época", gritou um coroa para esse boneco aí.

O caso do prefeito Celso Daniel, supostamente assassinado a mando do PT, foi lembrado em cartazes e discursos no carro de som.

De repente, brota um maluco com um capacete com o adesivo do MST. Ele vestia uma polo escrita "O Petróleo tem que ser nosso! Privatizar faz mal ao Brasil". O pessoal começa a vaiar e partir pra cima, mas felizmente a polícia foi bem rápida e fez um cordão de isolamento em torno dele. "Aqui, a gente vem de graça! Mas eu pago seu lanche, seu safado" e "Estamos lutando por você" foram algumas das frases que eu me lembro de ouvir. Um cara apareceu e disse "Esse cara mora do meu lado, na rua!!!". Eu não consegui ficar muito tempo, porque uma tia pegou no meu braço e começou a encher o saco: "É isso que você quer, né? Sua mídia chapa branca!!!". Aí achei melhor cair fora.

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Este coroa estava passeando o cachorro e daí resolveu chamar a galera do protesto de "bando de branco filha da puta", logo, levou um banho de cerveja sob o coro de "Vai pra Cuba!" e foi escoltado pela imprensa para fora do protesto. Policiais ficaram observando à distância.

Não tenho como dizer qual a profissão das mães da galera que estava lá, mas o que eu notei nitidamente é que este daí foi um dos dois negros que eu vi no ato que não estava vendendo ou catando latinha de cerveja.

Outro corinho que bombou foi: "Eu vim de graça! Eu vim de graça!".

"Brasil sem aborto, Brasil sem drogas"! Nada é tão ruim que não possa piorar!

Teve um cara que subiu no carro de som e disse "A Globo disse que não podia falar palavrão! Mas eu falo! Dilma vagabunda! Dilma vagabunda! Dilma vagabunda!!!". Uma coroa do meu lado gritou "Sem baixaria!".

Esta mina fez um discurso pedindo intervenção militar e disse que Dilma e Lula não deveriam sequer ser presos para que não fosse gasto o dinheiro de contribuintes com quentinhas. Segundo ela, eles têm de ser fuzilados — e, se as Forças Armadas não o fizerem, o povo é quem vai fazer, "que nem lá no Oriente Médio".

A manifestante cachorra mais fofa do ato.

Por volta das 13h, o ato chegou à Rua Santa Clara e começou a se dispersar. Uma galera distribuía panfletos convocando para um ato às 14h na Candelária sob a chamada "Impeachment ajuda e intervenção militar constitucional resolve". Resolvi ir embora; no caminho de volta, cruzei com este mano trazendo uma bandeira do Império Brasileiro.

O número oficial do ato, segundo a PM, é de quinze mil pessoas, mas manifestantes alegam que esse número foi reduzido, uma vez que o governo do Rio é aliado do PT. Não houve nenhuma prisão ou confusão maior do que eu já narrei aqui. Um dos carros de som encerrou o ato pedindo agradecimentos à Globo e à PM.

Assim como no ato petista do dia treze, o pessoal do carro de som lembrou várias vezes que "Este será um ano intenso! Um ano de lutas!". Outro ato foi marcado para o dia 12 de abril, oito dias antes de outra manifestação pró-governo. Só espero que o bom senso continue nos dois lados e que os paga-paus de milico continuem mantendo suas fantasias bélicas apenas nos cartazes.