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Babacas Fascistas Marcharam até o Parlamento em Londres

Desde o assassinato de Lee Rigby, o Reino Unido tem enfrentado um surto de islamofobia. A Liga de Defesa Inglesa — antigos oponentes do Islã e basicamente nazistas de butique — vem tentando capitalizar em cima disso organizando uma série de marchas e...

Desde o assassinato de Lee Rigby em Woolwich na quarta-feira passada, o Reino Unido tem enfrentado um surto de islamofobia. A Liga de Defesa Inglesa — antigos oponentes do Islã e basicamente nazistas de butique — vem tentando capitalizar em cima disso organizando uma série de marchas e protestos por todo o país. Sem dar a mínima para o fato de que todos os grupos e líderes muçulmanos sãos da Inglaterra condenaram unanimemente os bastardos que massacraram o soldado gritando “Allahu Akbar!” (Deus é grande) — ex-colegas de escola idiotas continuam postando atualizações desonestas e gramaticalmente terríveis no Facebook, dez mesquitas foram atacadas e incidentes de violência contra muçulmanos dispararam desde a morte horrível de Rigby.

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Antes dos eventos de quarta passada, as patrulhas de rua irracionais da Inglaterra estavam passando por maus bocados. Eles se acostumaram a ser pastoreados pela polícia e xingados pelos antifascistas onde quer que iam, o que levou a várias brigas e desunião. Felizmente para a Liga de Defesa Inglesa (LDI) e infelizmente para o resto das pessoas que ainda possuem uma centelha de decência e inteligência, a morte trágica de um homem nas mãos de fanáticos se provou justamente o que eles precisavam para colocar as diferenças de lado e morfar novamente numa máquina islamofóbica coesa, como o T-1000 se refazendo no Exterminador do Futuro 2, se o T-1000 fosse um racista bêbado.

Depois de tomarem as ruas de Woolwich na sequência imediata da morte de Rigby e realizar um protesto em Newcastle no sábado — onde um discurso com a ideia central de “mandar esses filhos da puta pretos para casa” foi entusiasticamente aplaudido —, a LDI marchou mais uma vez em Londres, aproveitando o feriado nacional de segunda-feira.

Fomos até a Leicester Square onde o LDI estava congregando. Nesse ponto, eles estavam defendendo a civilização ocidental dos fundamentalistas islâmicos enchendo a cara de cidra Jacques num bar em Yates. Lá eles matavam o tempo gritando para as crianças que estavam na fila do ingresso do musical das Spice Girls para “enfiar a porra da sua jihad na bunda”.

Juntamente com várias manchetes gritantes de jornais, muitos membros da LDI estavam putos com o primeiro-ministro David Cameron, que atualmente está de férias em Ibiza, bem no meio do que a mídia está disposta a rotular como uma “crise do terror”, e gritavam sem parar: “Onde diabos está Cameron?”. Não sei como a presença do primeiro-ministro tentando parecer importante em frente às câmeras iria ajudar nesta situação. Ninguém pensou que ele pode ter orquestrado todas as dez prisões conectadas ao assassinato direto da beira da piscina, entre um drinque e outro?

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Depois de um tempo eles rumaram para a Downing Street e mais manifestantes foram se juntando à marcha no caminho. Quem anda prestando atenção na LDI recentemente pode ver pela foto acima que esse foi o maior protesto de rua de extrema-direita em muito tempo. Lembrei com saudades da última vez que a LDI veio para Westminster, não faz tanto tempo, quando eles só conseguiram juntar umas 85 pessoas que realmente sentiam muito tesão em passar o final de semana gritando coisas idiotas para policiais entediados. Infelizmente, a raiva mal direcionada pela morte de um soldado e tempo bom se combinaram para tirar mais diletantes do armário.

Conforme a marcha seguiu seu caminho até Whitehall, ela foi topando com as vaias e provocações de alguns antifascistas que não queriam deixar o protesto acontecer assim tão tranquilamente. Por alguma razão, esse pessoal não comprou a conversa da LDI de que eles não são racistas.

Acho difícil apontar exatamente o porquê, mas algo me diz que os antifascistas podiam ter alguma razão aí. Dito isso, seria injusto olhar para o comportamento maníaco de uma ou duas pessoas e supor que suas ações representam a vontade de toda uma comunidade.

Não que Tommy Robinson (nome real Stephen Yaxely-Lennon), o mandachuva da LDI, tenha estendido essa cortesia aos muçulmanos durante seu discurso na marcha. Nele, Robinson criticou os islâmicos por não condenarem os assassinos de Lee Rigby, ignorando convenientemente o fato de que 5 mil deles se reuniram numa mesquita de Morden para fazer exatamente isso na sexta-feira passada. Ele também não deve ter visto as numerosas e inequívocas declarações de muçulmanos britânicos sobre o assunto em todos os meios de comunicação.

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Aí ele citou Martin Luther King, o equivalente político a dizer que você não é racista porque “até tem um amigo que é negro”. Num floreio retórico ridiculamente sublime, ele também comparou os mil e poucos babacas bêbados presentes ali com o exército do Sacro Império Romano que derrotou o exército otomano na Batalha de Viena em 1683. Isso foi como um taxista bêbado citando O Pêndulo de Foucault.

Aí foi a vez de Kev Carroll, outro paquito da LDI, dizer mais algumas coisas idiotas. Ele decidiu continuar com a afirmação de que o protesto de Newcastle contou com 7 mil participantes, massageando o número real em até quatro vezes mais. Depois ele igualou o ódio da LDI com o ódio de Lee Rigby. O que é ainda mais absurdo que o fato deles tentarem armar um comício fascista num bar gay naquele mesmo dia.

Quando os discursos cessaram, os gritos de um grupo de antifascistas começaram a se tornar audíveis e os dois grupos, separados pela polícia, passaram a vaiar e atirar garrafas um no outro. Foi mais ou menos assim (Robinson é o cara de camisa camuflada):

Algumas garrafas acertaram seus alvos cabeçudos com efeitos sanguinolentos, o que provavelmente não é um grande consolo para os antifascistas, que têm dado duro para envergonhar a LDI, mas que estavam em desvantagem numérica e não conseguiram usar esse truque de novo.

Superando o incidente, a marcha voltou para a Yates gritando “Lee, Lee, Lee Rigby” — bizarramente transformando o cara num mártir da extrema-direita, enxugando inúmeras garrafas e latinhas e assustando turistas em sua homenagem. Isso eventualmente levou o pessoal do bar a admitir que continuar enchendo esses caras de álcool não era uma boa ideia, então eles resolveram fechar mais cedo.

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Desprovidos de goró, um pequeno grupo decidiu voltar para a Downing Street, porque um protesto na Grã-Bretanha moderna não está completo até alguém gritar com os policiais da tropa de choque.

E foi isso, então nos sentamos num café próximo. Alguns minutos depois, um partidário da LDI passou pela gente e, se referindo a uma família asiática sentada numa mesa próxima, cuspiu: “Odeio esses malditos muçulmanos marrons” (Porra, cara, pelo amor de Deus). Ele seguiu em frente, se contraindo todo de raiva e deixando a gente, dois caras brancos, sentindo a necessidade de se desculpar com a família em nome de todas as pessoas não marrons do mundo.

Mesmo parecendo a coisa certa a fazer, na verdade isso é algo bobo, porque não insultamos racialmente a família asiática, do mesmo que jeito que todos os muçulmanos do mundo não mataram Lee Rigby. Esse é o ponto que precisará ser repetido pelos antifascistas muitas e muitas vezes enquanto a adorável LDI capitaliza com o sentimento islamofóbico para poder continuar depois do que foi, na verdade, um dia memorável para eles. Um grupo que parecia uma piada interna uma semana atrás, agora não parece tão engraçado.

Ainda bem que esses caras têm uma história gloriosa de inépcia, então podemos torcer para eles estragarem tudo na primeira chance que tiverem. Nos discursos, eles deram a entender que seu próximo movimento será algum tipo de turnê patrocinada pelos memoriais de guerra do país. Mas a credibilidade do líder da LDI, Tommy Robinson, já levou um duro golpe quando a Help for Heroes — a organização de caridade do exército cuja camiseta Rigby estava usando quando foi assassinado — anunciou que não aceitaria o dinheiro da LDI.

Talvez alguns dos participantes da marcha fossem racistas de ocasião que agora vão voltar a se esconder debaixo das pedras, satisfeitos por terem chamado todos os muçulmanos de assassinos de uma vez só. Se não, podemos esperar que a extrema-direita britânica e aqueles que se opõem a ela se enfrentem muitas vezes ainda neste verão.

Siga o Simon e o Henry no Twitter: @SimonChilds13 e @Henry_Langston

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Fotografamos a Multidão de Bêbados Raivosos da LDI que Atacou a Polícia de Londres