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Como um General da Gangue de Prisão Irmandade Ariana se Tornou um X9

As regras para os membros de gangues de prisão são claras, e “não delatar” está no topo da lista. Então o que poderia levar um líder hardcore a se tornar um X9 da própria gangue?
Foto via Hubert Yu no Flickr.

Mês passado nos EUA, um juiz federal sentenciou Terry "Lil' Wood" Sillers, um general da Irmandade Ariana do Texas (IAT), a dez anos de prisão. Esse foi um acordo oferecido pelos promotores a Sillers, que ajudou a condenar membros de sua antiga gangue a aproximadamente mil anos atrás das grades.

Para um gângster de carreira como Lil' Wood, isso é praticamente impensável.

As regras para os membros de gangues de prisão são claras, e "não delatar" está no topo da lista. Ser chamado de rato no submundo criminal é um dos piores insultos e geralmente leva a um banho de sangue. "Blood in, blood out", "Omertà" e "Morte antes da desonra" são os credos. Então o que poderia levar um líder hardcore a se tornar um X9 da própria gangue?

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Vemos esse tipo de história na mídia o tempo todo, e a questão geralmente fica sem resposta. Por que o condenado trairia seus irmãos, seus camaradas, sua família? Muitas explicações, nenhuma muito satisfatória, surgem aí: Ele estava cansado daquela vida, ele não gostava do caminho que a gangue estava tomando, ele queria fazer a coisa certa. Na verdade, isso é simplesmente uma questão de vingança. Se você sente que alguém vacilou com você de alguma maneira, e se vê numa situação onde a única saída é através da lei, o jeito mais fácil de escapar é se tornando informante.

E foi exatamente isso que aconteceu com Lil' Wood.

Conheci o condenado baixinho porém musculoso na Instituição Correcional Federal Forrest City Low, Arkansas, logo depois de chegar lá em janeiro de 2011. Ele era um dos mandachuvas do lugar e eu acabei o conhecendo porque vários detentos texanos viviam na cela de seis ocupantes onde eu estava. Logo que conheci aquele cara branco durão, percebi que ele já tinha cumprido muito tempo. Quando você está preso há algum tempo, é fácil notar outros que fizeram o mesmo caminho. Lil' Wood era coberto de tatuagens de cadeia e tinha a arrogância típica de um chefe acostumado a ter tudo do seu jeito. Depois de sua primeira aparição no meu espaço, perguntei sobre ele para seus camaradas.

"Ele é um general da IAT. Ele responde pelos caras do Texas", meu colega de cela, B-Rad, me disse. "Ele cumpriu pena no sistema texano e era um membro original da gangue. Ele se juntou ao grupo no começo dos anos 80 e é altamente envolvido desde então. É assim que as coisas são no Texas."

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Eu tinha minhas dúvidas. Se Lil' Wood era um general da IAT, o que ele estava fazendo numa prisão de segurança média em Arkansas? A história não fazia sentido. Eu tinha estado em instituições de segurança maior, e pelo que vi, a maioria dos membros ativos de gangues – especialmente do alto escalão – não podiam nem entrar nas filas principais. Eles geralmente eram mantidos em unidades fechadas ou na solitária.

Mas Lil' Wood continuou por ali. Ele manteve uma certa distância no começo, mas depois até nos demos bem. Conforme fui conhecendo outros garotos brancos do local, ouvi mais histórias sobre Lil' Wood. "Eu não me meto com esse cara", me disse um texano que respondia pelo apelido de Big G. "Eu estava na FCI Beaumont quando os outros pegaram ele. Lil' Wood chegou a Beaumont com toda aquela conversa de gangue, mostrando as tatuagens e falando do seu escalão, e todos esses moleques do Texas se encontravam com ele para ir à igreja, pagavam dívidas e basicamente faziam qualquer merda que ele mandasse. Mas os caras ficaram de saco cheio dele, e uns membros mais novos da IAT decidiram derrubá-lo. E foi isso que eles fizeram."

Cair em desgraça e ser traído por sua própria gangue – por caras com metade da sua idade e que não passaram pelas mesmas lutas que você – fariam a cabeça de qualquer um ferver.

Lil' Wood tinha um chip no ombro e não tinham medo de cair dentro, o que quer dizer que ele sempre estava pronto para brigar. Todo mundo sabia que ele tinha um estilete. Os caras que acham que têm que provar alguma coisa na prisão são os piores, porque quando se sentem encurralados, eles são capazes de absolutamente qualquer coisa. Não tenho dúvida que Lil' Wood esfaquearia alguém.

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Falei com ele algumas vezes, mas mantendo à distância de um braço. Ele não era o tipo de pessoa que você queria que chegasse muito perto. Vi Lil' Wood extorquir discretamente seus camaradas, entrando na nossa cela, passando pelos armários deles e pegando o que queria, sempre dizendo que ia pagar, mas nunca cumprindo a palavra. Esse era o jeito dele.

Um condenado da minha unidade chamado Johnny Savage costumava andar com Lil' Wood. Não sei o que eles aprontavam, mas os dois tinham aquele jeito de louco nóia.

Mas sim, Lil' Wood cuidava de seus camaradas brancos. Era isso que o tornava conhecido: um bandido branco de prisão que não tinha medo de se meter em problemas. Seu camarada B-Rad me contou que "Em Marianna Upper, os brancos não tinham televisão quando Lil' Wood chegou. Ele simplesmente entrou lá, pegou a TV deles e disse 'Essa TV é dos brancos agora'. Chamaram ele pro pátio por causa disso, mas isso não deu em nada, e os brancos de Marianna Upper ficaram com a TV". É isso que se espera de um membro da IAT, já que a prioridade deles nas prisões é cuidar de seus irmãos de raça.

Mas o que mais notei em Lil' Wood profetizava sua futura traição. Ele era amargo e cheio de raiva – parecia que ele tinha sido traído, que seu direito a alguma coisa tinha sido negado.

E ele realmente queria sair daquela vida. Ele me disse que queria fazer um livro e contar sua história, algo inédito para um membro ativo de gangue, especialmente um general dando ordens e conduzindo os negócios. Havia essas rachaduras na fachada – a face de bandido de prisão estava desmoronando. Quanto mais velho ele ia ficando, mais difícil era manter viva a imagem e a reputação que ele tinha estabelecido.

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Então ele foi solto. Ele me deu um e-mail e me disse para manter contato, que ele queria contar sua história, talvez ganhar algum dinheiro com isso e ter uma vida legítima. Escrevi para ele algumas vezes mas nunca recebi resposta, mas B-Rad costumava ligar para ele e me dizia que ele estava se saindo bem.

Aí ficamos sabendo da perseguição de moto em junho de 2011. Vimos a cobertura do noticiário na prisão, foi uma loucura – todo mundo estava falando nisso. Lil' Wood, que tinha saído há poucos meses e ainda estava numa fase de transição para a liberdade, tinha chegado ao fundo do poço. Fora da lei até os ossos, ele se envolveu numa perseguição em alta velocidade com a polícia – em sua Harley, claro. A perseguição foi gravada e Lil' Wood virou um sucesso no YouTube, sua fuga da polícia logo acumulou mais de um milhão de visualizações.

Achei que era uma pena Lil' Wood ter voltado para o velho caminho. Ele era um general que tinha cumprido sua pena, então por que estava sujando as mãos de novo? Mas parece que ele achou difícil a vida do lado de fora. Depois da perseguição, os federais revogaram sua condicional e começaram a preparar um novo caso contra ele. Em maio de 2012, ele encarava acusações federais de conspiração a participação em extorsão, além de acusações por tráfico de drogas, tentativa de homicídio e homicídio. O que provavelmente significaria uma sentença de prisão perpétua.

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Foi aí que Lil' Wood fez o impensável. Depois de ser indiciado, ele tomou a decisão de delatar a gangue. Em FCI Forrest City, seus camaradas não conseguiam acreditar.

"Não acredito que Lil' Wood vai sair assim", me disse B-Rad. "Ele sempre falava dessa merda de morte antes da desonra e agora ele é um rato." Na verdade, Lil' Wood pode sair dessa como o maior informante da história da IAT. A informação que ele forneceu levou ao vasto indiciamento por extorsão contra a hierarquia da gangue no final de 2012. Lil' Wood contou tudo, voltando 25 anos para dar nomes em casos de assassinato nunca resolvidos dentro do Departamento Correcional do Texas e nas ruas.

Seu testemunho contribuiu para a condenação de 73 de seus antigos camaradas, membros da IAT que adorariam colocar as mãos em Lil' Wood agora. O lema da IAT é "Deus perdoa, os irmãos não". Lil' Wood terá que viver como um homem com a cabeça a prêmio. Se a gangue o pegar um dia, é o fim.

Aos 50 anos, a carreira de Lil' Wood como gangster acabou. Ele se mostrou arrependido durante seu julgamento, dizendo ao juiz que foi ficando cada vez mais desiludido com as ações da gangue que ele ajudou a colocar no mapa. Lil' Wood queria que acreditássemos que a IAT mudou dramaticamente e que ele não tinha mais estômago para aquilo. Mas não é tão simples assim. A verdade é que ele estava tentando se vingar da gangue que, para ele, não tinha lhe prestado o devido respeito – um caso claro de autopreservação através da desforra.

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