A vida de costureiras do Carnaval
​Foto: Felipe Larozza/ VICE​

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A vida de costureiras do Carnaval

Cores e valores: brilhos, plumas e penas enquanto o Carnaval não vem.

Foto: Felipe Larozza/ VICE

Nos fundos de uma casa simples, no bairro do Limão, zona norte de São Paulo, fica o ateliê de Vera Soares, que há mais de 20 anos costura fantasias para escolas de samba. A velocidade do ventilador e o volume da televisão estão em potência máxima, assim como o calor e o número de produção para o Carnaval deste ano: mais de mil peças para a X-9 Paulistana e para a Mocidade Alegre.

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"Minha mãe sempre me levou no samba", conta, orgulhosa, a costureira. "Ela queria que eu estudasse, mas preferi trabalhar." Durante a adolescência, o presidente da escola que Vera frequentava no bairro do Tatuapé a convidou para entrar no time das costureiras e foi paixão à primeira vista. "Já gostei na hora. Adoro costurar."

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A poucos dias do Carnaval, a rotina de trabalho – que começou em outubro – se intensifica. Vera conta com a ajuda da filha, Jaqueline Juliana. "Mal dá tempo de parar pra comer e tomar banho. Dormir é luxo", relata a moça, que começou na profissão no ano passado.

Tais condições parecem bem problemáticas, mas Vera afirma que está acostumada. "Este ano está muito fraco. Temos de aproveitar e pegar um dinheirinho agora", afirma a profissional, que desfila em uma das alas para qual costurou. "Eu fico esperando o ano inteiro pra desfilar. É muito gostoso, é muito emocionante."

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Aos sete anos, Adriane França viu pela primeira vez uma escola de samba fervendo. Moradora do Capão Redondo na época, foi durante um passeio pelo bairro da Bela Vista junto com a mãe que ela presenciou um ensaio da Vai-Vai. "Vi o pessoal da bateria tocando e aquelas mulheres dançando… fiquei apaixonada, e aquilo nunca mais saiu da minha cabeça", suspira.

Técnica em moda de formação, ela passou a dançar na escola e produzir suas próprias roupas – o que chamou a atenção de outros membros da Vai-Vai. Principalmente das mulheres. "Elas começaram a pedir pra eu fazer roupas para elas." Hoje, ela possui o próprio ateliê dentro de casa, no bairro do Rio Pequeno, chamado Dona Esquindô.

Adriane costura fantasias específicas, como destaque de chão e de carro, além de roupas para musas e rainhas de bateria. Apesar de já ter costurado para várias escolas, suas clientes, na maioria das vezes, são pessoas físicas. Dessa forma, ela fica livre parar elaborar a fantasia de acordo com sua criatividade e o gosto da cliente. "Mas tem o caso de o carnavalesco mandar o desenho. Aí eu só executo."

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O dom no ofício vem de família. Desde a bisavó, as mulheres da árvore genealógica sempre costuraram. Adriane modela, corta, borda, costura. Faz tudo. Por isso, acredita que o termo "estilista" já não seja suficiente para defini-la. "Hoje em dia, infelizmente, as pessoas acham que a palavra 'costureira' é pejorativa. Eu adoro falar que sou costureira", relata.

Assim como Vera, Adriane também encara a rotina estafante enquanto se aproximam os grandes dias de desfile. "Às vezes, eu trabalho 15 horas num dia. Às vezes, mais. É muito louco. As fantasias têm solda, colagem, costura – inclusive, [feitas] à mão. São vários elementos."

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Nada tranquilo, nada favorável. "O povo do Carnaval fica louco. Vamos pegando trabalho e ficando louco", destaca a profissional, que, além de tudo, ainda cuida do filhinho Gabriel, de um ano de idade. O marido, Guto Bocão, entende bem a loucura. Desde criança inserido no Carnaval, ele, hoje, é músico profissional e diretor de bateria da Vai-Vai.

CORES E VALORES

Os preços das peças podem variam de acordo com o material. Segundo Adriane, elas custam, em média, de R$ 15 a R$ 20 mil. As mais elaboradas podem alcançar os R$ 30 mil.

Um dos elementos que encarecem as produções são as penas. "Avestruz, faisão, galo, chinchila. Tem de tudo quanto é bicho", frisa a costureira. "Mas já existe a pena fake. Hoje em dia, já tem artista que faz fantasia sem pena por conta da natureza. Eu quero encontrar um cliente assim."

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Algumas penas reais chegam a custar R$ 120 a unidade. "A mulherada fica louca com pena. Tenho cliente que até treme. Mas é muito caro."

Apesar da correria, o que fica para Adriane é o prazer em notar suas clientes satisfeitas. "Quando eu vejo a sensação que elas têm ao colocar a roupa… parece aquela brincadeira de antes e depois. Elas vestem, e o olho brilha… é isso que me motiva."

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