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Estaria Obama Prestes a Mandar um Repórter do New York Times pra Cadeia?

A Casa Branca já botou 8 em cana por espionagem, mas condenar um jornalista por resguardar sua fonte abriria um capítulo completamente novo e perigoso para as liberdades civis nos EUA.

Jornalista James Risen em Washington, DC. Foto pelo autor. 

Estamos vivendo um daqueles momentos gratificantes em que se desnuda por completo a dupla moral da Casa Branca.

Num discurso televisionado, o presidente americano, Barack Obama, declarou que “a polícia não deve oprimir ou prender jornalistas que estão apenas tentando fazer seu trabalho”. Referia-se à prisão de dois repórteres na última quarta-feira, em Missouri, pela ridícula brigada paramilitar também conhecida como Departamento de Polícia de Ferguson.

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Quase simultaneamente ao discurso de Obama, James Risen, jornalista do The New York Times, e vários dos principais grupos que lutam pela liberdade de imprensa faziam um apelo ao Departamento de Justiça, que há anos tenta obrigar Risen a revelar suas fontes confidenciais sob ameaça de prisão.

No Clube Nacional da Imprensa, em Washington, o jornalista apelou para que o governo Obama arquivasse seu caso, presumindo algum respeito pela Primeira Emenda à Constituição.

“O Departamento de Justiça e o governo Obama são os responsáveis por essa luta contra a liberdade de imprensa. Fico feliz por fazer parte dessa luta, mas não fui eu quem a começou”, diz Risen.

Em 2008 e 2010, ele foi intimado por um júri por ter supostamente publicado informações confidenciais num capítulo de seu livro State of War, publicado em 2006, a partir de vazamentos do ex-agente da CIA Jeffrey Sterling.

Risen se recusou a depor, alegando direito à proteção de suas fontes. Embora o tribunal de primeira instância tenha ficado a seu favor, o Departamento de Justiça venceu um recurso posterior. Em junho, a Suprema Corte se recusou a julgar o caso dele, que será preso ou pagará multas pesadas por desobediência civil caso continue a resistir à intimação.

Após anos de batalha judicial, Obama agora enfrenta um dilema que ele mesmo criou: continuar a repressão contra vazamentos de informações e, com isso, perder o respeito da mídia, ou se manter fiel à premissa de liberdade de imprensa e ignoraros homens furiosos que comandam as instituições de inteligência.

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Desde que assumiu o cargo, o presidente acusou mais pessoas de espionagem - oito, no total - do que todas as administrações anteriores juntas. Contudo, a prisão de um jornalista da importância de Risen seria um ato completamente diferente.

“Não acho que os EUA queiram ser como Cuba, o único país do Ocidente a ter um jornalista preso”, afirmou Courtney Radsch,um dos diretores do Comitê de Proteção a Jornalistas, na coletiva de imprensa.

Nesta semana, 20 vencedores do Pulitzer declararam seu apoio a Risen, assinalando que ele estava apenas fazendo seu trabalho.

“Nos últimos 14 anos, durante os governos de George W. Bush e Barack Obama, cada vez mais ações governamentais foram classificadas como confidenciais, negando ao público informações relevantes para o julgamento da situação da democracia no país. Foi assim que a tarefa de manter os americanos informados e de questionar aeficácia deste governo que age às escurasrecaiu sobre jornalistas como Risen. Será pior para todos nós se esse caso continuar”, declarou Dana Priest, do Washington Post. Simpatizantes do jornalista também entregaram ao Departamento de Justiça uma petição com 100 mil assinaturas.

“Seu esforço para compelir James Risen, jornalista do The New York Times, a revelar suas fontes é uma agressão à liberdade de imprensa”, lê-se na petição. “Sem confidencialidade, o jornalismo estaria reduzido a histórias oficiais – situação incompatível com a Primeira Emenda à Constituição. Pedimos veementemente que todas as ações legais contra o senhor James Risen sejam suspensas e seja protegido o direito de jornalistas a manter a confidencialidade de suas fontes.”

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A decisão tomada pelo governo Obama, qualquer que seja, deixará uma marca em seu legado. Também haverá implicações no projeto da “lei de proteção”, que atualmente está no Senado.

O projeto foi retomado ano passado, após a revelação de que o Departamento de Justiça usava escutas telefônicas na Associated Press para combater o vazamentos de informação. O projeto de lei já passou pelo Comitê Judiciário do Senado, mas ainda será debatido.

Frente à intensa reação da mídia quanto ao escândalo da Associated Press, a Casa Branca declarou seu apoio ao projeto de lei de proteção e o Departamento de Justiça continuou com o Caso Risen.

Os que são a favor da lei de proteção esperam que, caso o jornalista seja preso por mau comportamento no tribunal, isso dê força suficiente para que o projeto de lei seja votado ainda neste ano Legislativo.

Embora 48 Estados americanos tenham promulgado algum tipo de lei de proteção a jornalistas relacionadasà confidencialidade de suas fontes em tribunal, não existe nenhuma lei federal quanto ao assunto.

“Meu filho mais velho, Tom, é jornalista, e eu quero ter certeza de que os futuros jornalistas terão a mesma proteção que eu tive”, frisou Risen.

A VICE entrou em contato com o Departamento de Justiça, mas nenhum telefonema ou e-mail foi respondido. No entanto, o porta-voz Brian Fellow publicou no Twitter seu apoio aos dois jornalistas detidos na quarta-feira: Ryan Reilly, do The Huffington Post, e Wesley Lowery, do Washington Post.

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“O Departamento de Justiça tem a sorte de ter um repórter corajoso como Ryan J. Reilly”, publicou Fellow no Twitter. “Nós sabíamos disso, antes mesmo da noite de hoje. Fico feliz de que ele e Wesley Lowery estejam bem.”

“Como você distingue um repórter ‘corajoso’ do repórter que o governo está ameaçando colocar na cadeia?”, indagou Jake Tapper, da CNN, em um tweet.

Fellow não respondeu.

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Tradução: Flavio Taam