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Este Advogado Quer Colocar Alertas de Mudanças Climáticas nas Bombas de Gasolina

O advogado de Toronto está hipotecando sua casa para abastecer a missão pessoal de convencer cidades da América do Norte a colocarem adesivos que ligam o consumo de combustível a catástrofes como fome e extinção de espécies

Screenshot via YouTube.

Em tom de brincadeira, Rob Shirkey diz querer que bilionários liguem para ele, mas Shirkey fala sério. O advogado de Toronto está hipotecando sua casa para abastecer a missão pessoal de convencer cidades da América do Norte a colocarem adesivos de alerta sobre mudanças climáticas em suas bombas de gasolina.

Os adesivos – que imitam os avisos em vermelho e preto dos maços de cigarro e ligam o consumo de combustível a catástrofes como fome e extinção de espécies – enfrentam várias barreiras legais, políticas, sociais e financeiras para que possam ser implementados; além disso, não está claro se eles realmente vão funcionar.

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Mas nada disso perturba Shirkey, que largou seu trabalho como procurador municipal três anos atrás para fazer lobby pelos adesivos em várias cidades.

"Muitos ativistas vão vilipendiar a indústria e dizer que isso é um problema com as areias betuminosas, um problema com os oleodutos", o advogado disse à VICE. "Mas penso o seguinte: a única razão para tudo isso existir é porque usamos o produto e há um mercado para isso. Então, se você quer realmente abordar a questão, você tem de abordar o lado da demanda da equação."

E sua ideia está prestes a ser adotada.

As cidades de West Vancouver e Moncton têm apoiado a ideia, e Guelph planeja apresentar a proposta para a câmara municipal na semana que vem.

A resolução de que "todos os vendedores de produtos de petróleo no varejo do Canadá forneçam rótulos de alerta em todos os bicos ou painéis de bomba de combustível e de que as empresas que não tiverem alertas em seus bicos de bomba sejam obrigadas a colocar cabos plásticos que permitam que os rótulos sejam colocados" será colocada sob consideração da Federação de Municipalidades Canadenses (FMC) em junho de 2016. Se a federação concordar, isso vai dar o apoio de que as cidades precisam para aprovar leis que façam os postos colocarem os adesivos de alerta.

A ideia também está começando a criar raízes na Califórnia: São Francisco e Berkeley estão trabalhando para adotar os rótulos depois que a 350.org pressionou por um sistema de alerta similar.

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Bob Bell, um vereador de Guelph, ficou impressionado quando encontrou Shirkey falando sobre sua ideia numa barraca de feira. Para Bell, os adesivos são uma maneira barata de lembrar os consumidores de que suas ações também têm um efeito nas mudanças climáticas.

"Acho que vai funcionar – a questão é até que ponto", ele falou à VICE.

Assista: Apocalipse, bicho

Nos próximos dois anos, Bell espera que Guelph aprove a lei que torna os rótulos de alerta obrigatórios para todos os postos de combustível, mas, enquanto isso, ele está pedindo aos varejistas que os adotem voluntariamente.

Um posto de Guelph, o Norm's Esso, topou imediatamente. O dono do posto contou a Bell que estava preocupado com as mudanças climáticas; mesmo assim, ele também questionava o efeito que os rótulos poderiam ter. O proprietário do Norm's Esso, Brian Flewelling, não estava disponível para comentar.

Jeff McDonald, porta-voz do prefeito de West Vancouver, afirmou que a cidade não tem planos imediatos de tornar os adesivos obrigatórios, mas que está esperando direções do FMC.

Porém, se as cidades aprovarem a lei, é bem provável que elas tenham de enfrentar os varejistas nos tribunais, de acordo com a Associação de Lojas de Conveniência do Canadá (CCSA, em inglês).

O presidente da CCSA, Alex Scholten argumentou que a obrigatoriedade de se usar os adesivos pode prejudicar pequenos negócios, que já são exageradamente regulados. "Implementar algo assim só acrescenta outro golpe na morte desses pequenos negócios por mil alfinetadas", ele disse à VICE.

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"Se um posto de combustível sente que precisa conscientizar seus consumidores sobre a questão, acho ótimo", ele acrescentou. "Mas, em termos de se obrigar todos os varejistas a fazerem isso às custas deles, não acho que esse seja o jeito certo de se chegar aí."

Ele considera os custos iniciais uma preocupação maior para os varejistas do que qualquer possível queda nas vendas, mas Shirkey explica que os adesivos devem custar meros 25 a 50 centavos de dólar para imprimir. A cobertura de borracha que vai sobre os bicos (e que muitos postos já usam para propaganda) custa cerca de US$ 15, estima o advogado.

Scholten também questiona se o efeito percebido nos rótulos de alerta dos maços de cigarro não seria exagerado, já que os governos adotaram outras regulamentações antifumo que podem ter contribuído para a queda no número de fumantes. No entanto, pelo menos um estudo atesta que os rótulos de alerta derrubaram o número de fumantes no Canadá de 12 a 20% de 2000 a 2009.

"Os adesivos de mudança climática provavelmente são um exagero e vão se perder no ruído branco da questão", argumentou Scholten.

Shirkey apontou um estudo de 2009 encomendado pela União Europeia que destaca "evidências claras de que alertas nos maços de cigarro aumentam a conscientização do consumidor sobre as consequências para a saúde do uso de tabaco, contribuem para mudar a atitude do consumidor quanto ao fumo e mudam o comportamento do consumidor. Isso também é um elemento crítico para uma política eficiente de controle do tabaco".

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Como um ambientalista que começou seu próprio grupo de ação contra as mudanças climáticas, Dan Dolderman quer que a ideia de Shirkey funcione. Mas, como psicólogo social da Universidade de Toronto, ele não está convencido de que isso terá um grande impacto.

Mesmo que eles funcionem como impulso comportamental – como os adesivos de "Apague a luz" perto de interruptores – e possam mudar a percepção dos motoristas, Dolderman acredita que, com o tempo, o efeito vá diminuir à medida que as pessoas se acostumem com os rótulos.

Os adesivos de mudanças climáticas provavelmente serão menos efetivos que os alertas em maços de cigarro, ele argumenta. "Os alertas nos cigarros são sobre você: 'Se fumar, você vai morrer'.", ele enfatizou. "Mas os alertas sobre mudanças climáticas são: 'Se você dirigir, isso vai acontecer'. É muito menos pessoal, é muito mais difuso, muito mais abstrato. Se você não dirige, isso faz muito pouco pelo aquecimento global geral e pelas mudanças climáticas que estamos enfrentando."

Se Shirkey quer uma mensagem efetiva, aconselha o psicólogo, ele deveria dizer às pessoas como elas podem ter um impacto maior na questão das mudanças climáticas ao se tornarem, por exemplo, politicamente ativas. Precisamos que os governos ajam na questão das mudanças climáticas, segundo ele.

Até lá, Shirkey vai focar a mudança de uma cidade de cada vez. Ele espera viajar pelos EUA e Europa antes das discussões da ONU sobre o clima em Paris em dezembro.

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É um trabalho de amor, ele frisou, que começou com um cheque de US$ 7.500 deixado por seu avô e que já o fez desmaiar de exaustão em duas ocasiões.

"Para quem estiver lendo isso, espero que, bom, se você quiser, defenda isso para mim em sua comunidade. Não posso fazer tudo sozinho, certo?", ele questionou. "Se você tem uma organização ambiental, trabalhe comigo. Vamos trabalhar juntos."

"Ou, se você é bilionário", ele brinca, "me dê dinheiro".

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Tradução: Marina Schnoor