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Entretenimento

Celebrando a história trans dos EUA antes de Caitlyn Jenner

O diretor Rhys Ernst faz um perfil dos transgêneros norte-americanos pioneiros em sua nova série documental.

Entrevista originalmente publicada na i-D US.

We've Been Around, uma série de seis curtas documentais sinceros e profundos sobre os transgêneros que abriram caminho para a nova geração, começa com duas melhores amigas, Marsha P. Johnson e Sylvia Rivera, que, como a narração explica, "eram parte de uma comunidade de drag queens, trabalhadores sexuais e pessoas trans — gente que ficava no meio do caminho entre os mundos gay e hétero". Apesar de Marsha e Sylvia terem feito parte das revoltas de Stonewall em 1969, um evento que cimentou o movimento pelos direitos gays nos EUA, elas eram ostracizadas pela comunidade LGB. Num discurso no Christopher Street Liberation Day de 1973, em que ela teve que lutar para conseguir subir ao palco, Sylvia grita "Fui espancada, quebraram meu nariz, me jogaram na cadeia, perdi meu emprego, perdi meu apartamento pela liberação gay! E vocês me tratam assim?" O diretor indicado ao Emmy Rhys Ernst, criador de We've Been Around e coprodutor da série Transparent da Amazon, diz: "O discurso de Sylvia me dá arrepios toda vez que assisto."

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As outras histórias na série são igualmente poderosas, indo de Albert Cashier, um homem trans que lutou na Guerra Civil americana, a Wilmer Broadnax, um homem trans que se tornou um cantor gospel famoso nos anos 40. "O progresso que fizemos nos últimos anos do Movimento pelos Direitos Trans parece ter acontecido de repente, mas estamos sobre os ombros de muita gente", diz Rhys nesta entrevista para a i-D. "Os trans sempre estiveram aqui, na história, geralmente escondidos à vista de todos."

Por que é importante fazer We've Been Around agora? É por que temos um destaque das pessoas trans na cultura pop? É importante mostrar pessoas trans antes de Caitlyn Jenner? Ou há outra razão?
Como trans, sempre tive vontade de aprender mais sobre a vida dos que viveram antes de mim — ver a experiência de outros, como viveram ao máximo e provocaram mudanças. Tive sorte de encontrar mentores em trans mais velhas como Holly Woodlawn, Flawless Sabrina e Kate Bornstein. Mas tive bem menos acesso a homens trans mais velhos. Isso me impulsionou a descobrir mais sobre a história trans.

Como você selecionou essas seis histórias?
No começo, contratamos um assistente de pesquisa para comandar o desenvolvimento da série. Depois falamos com a acadêmica, historiadora trans e cineasta Susan Stryker, e com a historiadora, blogueira e ativista Monica Roberts. Elas trouxeram uma amplitude de conhecimento para a produção. Pesquisamos muito para encontrar as histórias mais completas e envolventes. Diversidade de raça, gênero, era e região também era importante para mim. Há várias outras histórias incríveis. Uma coisa que eu gostaria de expandir é nacionalidade. Só conseguimos abordar histórias passadas nos EUA na nossa primeira coleção. Se tivermos chance de fazer mais, eu gostaria muito de incluir histórias do mundo inteiro.

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Qual sua história favorita? Aquela com que você mais se identificou e por quê?
É difícil escolher uma favorita. Adoro a história de Lou Sullivan e sempre choro vendo essa. S.T.A.R. é outra que adoro — a música e a animação (dos colaboradores trans Jules Gimbrone e Clyde Petersen) se encaixam perfeitamente. Também adoro a história de Lucy Hicks Anderson — ela era uma socialite que comandava um bordel underground durante a Lei Seca. Camp Trans, Little Axe e Albert Cashier são incríveis também — não consigo escolher um só! Felizmente, cada filme tem apenas 5 minutos, então você não precisa assistir um só.

Fiquei particularmente emocionado com S.T.A.R. e o discurso de Sylvia Rivera naquele filme, que mostra como as pessoas trans foram excluídas do movimento pelos direitos gays na época. Os trans ainda enfrentam dificuldade para serem aceitos na comunidade LBG? Como podemos mudar isso?
Uma cineasta trans incrível chamada Reina Gossett, que faz a narrativa sobre Marsha e Sylvia, é responsável por encontrar e compartilhar o discurso de Sylvia na página dela no Vimeo. Devo muito a ela e sua colaboradora Sasha Wortzel, já que esse discurso é uma das partes mais instigantes da série. Os trans ainda não são iguais – tanto na sociedade heterossexual como na comunidade LBG. Nossas questões são novas em termos de atenção mais ampla. Espero ver mais aliados cis LGB e héteros abordando a causa trans – se educando, fazendo amigos trans, namorando pessoas trans e enfatizando identidades e causas trans.

Para onde você acha, ou espera, que a comunidade trans está indo?
Precisamos de mudanças políticas. Trans ainda podem ser legalmente demitidos ou ter moradia e acomodações públicas negadas – apenas por serem trans – em 32 estados. A violência contra os trans aumenta a cada ano, e os alvos são desproporcionalmente mulheres trans de cor. Desemprego entre os trans também é um grande problema. Espero que essa narrativa faça as pessoas pensarem e aumente o apoio público para mudanças nas políticas, e que assim as pessoas trans possam escrevam suas próprias histórias.

Tradução: Marina Schnoor

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