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viagem

Irmãs da Misericórdia E O Templo Do Amor

For Sarah Farris, Fotos por Pegah Farahmand.

Mala e Belavva em casa esperando seus clientes.

Mala e Belavva são melhores amigas e membros de um antigo culto hindu de prostituição. Elas têm os nomes uma da outra tatuados na parte interna do braço, ao lado das iniciais de seus clientes favoritos. As meninas são conhecidas como devadasis, ou “serventes de Deus”. Nos encontramos em uma vila em Karnataka, no Sul da Índia, e sentamos no chão de uma cabana de terra e fizemos chapatis juntas. O que eu fiz ficou com um gosto estranho.  Era minha primeira semana filmando um documentário para a VICE sobre esta prática religiosa secreta, na qual garotas pré-pubescentes “se casam” com uma deusa Hindu e são vendidas como escravas sexuais.  “Não há mais religião agora, só sexo”, diz Belavva, 19, que tinha oito anos quando sua mãe a vendeu para um fazendeiro local por 200 rúpias (8 reais). “Às vezes fico com raiva da minha família e digo ‘Como vocês puderam fazer isso comigo sabendo das consequências? Como puderam fazer de mim uma prostituta ao invés de me casar?’ Minha família diz ‘Se tivéssemos casado você, teríamos morrido de fome’.” Como devadasis e sem casta (ou intocáveis), Mala e Belavva são banidas da sociedade. “As pessoas nos olham com nojo porque vendemos nossos corpos, mas, para falar a verdade, somos deusas para as famílias que dependem de nós. Se pararmos de fazer este trabalho, quem vai nos alimentar?”, pergunta Belavva. Ela contraiu HIV recentemente, mas tem medo de falar para seus clientes usarem camisinhas, pois eles podem deixar de vê-la. Ela me diz: “Nós, devadasis, somos bonitas por fora. A feiura está escondida do lado de dentro. As pessoas só virão até nós se formos bonitas”. A prática foi tornada ilegal em 1988, mas famílias de castas baixas ainda são encorajadas por cafetões e traficantes sexuais para venderem suas filhas pela bagatela de 20 reais. Nesta região da Índia, 1.000 garotas ainda são vendidas todo ano.  Durante as três semanas posteriores, viajamos pelos vilarejos do Norte de Karnakata, onde vivem 25.000 devadasis, para descobrir como esta tradição hindu clandestina e ilícita continua a florescer na Índia em pleno século XXI. Quanto mais descobríamos, mais horrorizada ficávamos. Você pode conferir as nossas descobertas em nosso filme.

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Ha ha ha. Duas prostitutas devadasi rindo da minha falta de habilidade enquanto eu as ajudava a fazer chapatis em sua cabana de barro.

Uma multidão se juntou na janela quando nos apresentaram uma cerimônia durante o festival de Saundatti.

A primeira de muitas glamourosas viagens de trem de 12 horas pela Índia. Pena que o cara ao meu lado não estava tão bem preparado quanto eu.

Malavva está criando seus netos sozinha desde que sua filha, também uma devadasi, morreu de AIDS.

Uma revelação no meio de nossa viagem: aparentemente, homens também podem ser devadasis. Na esquerda, Pandu, uma travesti-prostituta, 

nos mostrou como fazer os clientes usarem camisinhas com um deslize da língua. Na direita, Sudir (esquerda), nosso tradutor do dia, posa com seu novo namorado.

Malava (esquerda), 45, foi vendida como prostituta por sua mãe quando tinha 12 anos. Ela agora vende seu corpo a cami-nhoneiros na beira da estrada por uma mixaria.

O evento mais importante do calendário Yellama: o festival de Saundatti.

Comprando saris com as devadasis. As garotas, que são da casta "intocável", geralmente não vão à cidade por medo de serem encaradas por pessoas de castas "superiores".

O notório bairro de luz vermelha de Sangli, Gokul Nagar, que ajudou esta cidade a conquistar sua trágica reputação de ser a segunda cidade do estado com maior índice de HIV.

Esta é Anita, a orgulhosa proprietária de um bordel em Sangli. Ela nos mostrou sua casa e sua incrível coleção de saris, sua TV em cor e "quarto de sexo".

Bem-vindos a um dos hotéis mais estranhos da Índia: Um Fawlty Towers indiano com lençóis manchados de sangue. Apenas uma ocidental havia se hospedado aqui antes de nós. Sei disso porque penduraram uma foto dela na parede.

O serviço de quarto levou coelhos brancos para os nossos quartos sem razão aparente. Como você pode ver pela sua expressão, o nosso câmera Pierre adorou esse agrado incomum.