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​Não é elogio: A campanha ‘Jornalistas contra o assédio’ denuncia situações sofridas por mulheres da profissão

As jornalistas e idealizadoras da campanha, Thaís Nunes e Janaína Garcia, estão ajudando a divulgar as histórias tenebrosas de repórteres que sofreram assédios descarados durante o trabalho.

Inconformadas com a demissão da repórter do IG após ter sofrido assédio do MC Biel enquanto o entrevistava, duas jornalistas se juntaram para lançar a campanha Jornalistas Contra o Assédio na sexta-feira (17), acendendo ainda mais o debate de situações humilhantes que muitas mulheres jornalistas sofrem no dia-a-dia.

Assim como o Noisey já abordou, toda mulher jornalista já passou por apuros na profissão — seja para entrevistar políticos, artistas ou até mesmo quando o assédio vem de dentro da redação. Cientes dessa realidade, as repórteres Thaís Nunes e Janaína Garcia iniciaram a campanha para discutir um assunto que até então era invisível para muita gente da profissão. O apoio foi rápido, em poucos dias a página do Facebook já conta com quase 14 mil curtidas e a hashtag #jornalistascontraoassédio já entrou hoje (22) para os Trending Topics do Twitter.

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"Foi algo extremamente espontâneo", conta Thaís. "A gente ficou surpresa com o tanto de gente que acabou aderindo à essa campanha. Essa é uma caixa preta dentro do jornalismo."

"Mulheres em todas as profissões sofrem assédio, mas o jornalista tem o costume de não falar sobre si mesmo. Isso ajuda a silenciar os problemas da profissão como a desigualdade salarial entre homens e mulheres e também essa cultura do assédio. Somado ao fato de que o Brasil é um país extremamente machista, ajuda também pra mulher não querer denunciar o caso. O assediador, dentro ou fora das redações, ajuda a criar uma cultura de que pode fazer o que quiser porque ninguém vai falar nada."

Muitos casos escabrosos sofridos por inúmeras profissionais já estão pipocando nas redes sociais. As abordagens vão desde assédios justificados como um elogio, até graves ameaças recebidas por repórteres mulheres de fontes e entrevistados.

Rapidamente, Thaís relata dois casos pessoais. Um deles, foi no começo de carreira quando o seu chefe de redação pedia sem melindre para fotografar os pés das estagiárias. O pedido gerava desconforto. "A gente tinha uma consciência que aquilo não estava certo, mas não sabíamos nem como denunciar." O outro caso foi quando um tenente da Polícia Militar, após ter acesso ao seu WhatsApp por causa de uma reportagem, começou mandar diversas mensagens agressivas pedindo para sair com ela. Ao receber imediatamente uma negativa, o tenente partiu para as ameaças, chegando até a mudar a foto do WhatsApp para outra dele segurando uma arma. Assustada, Thaís teve que denunciá-lo para a Corregedoria da Polícia Militar. "Há uma diferença muito clara entre uma cantada e assédio. É uma abordagem diferente, tem muito a ver também com relação de poder entre as partes," explica.

Além de diversos jornalistas, homens e mulheres se solidarizarem com a causa, políticos e figuras públicas como Jean Wyllis, Lula, Erundina e Luciana Genro também elogiaram a campanha. "É bom deixar claro que essa campanha é apartidária. Esses políticos que nos apoiaram fizeram de forma espontânea. Todo apoio é válido", diz.

Agora, as idealizadoras pretendem lançar mais um vídeo sobre o tema e também viralizar ainda mais a hashtag como um meio para colegas da profissão contarem mais casos de assédio que sofreram quando estavam fazendo o seu trabalho. Thaís também frisa achou positivo ver colegas homens da profissão apoiando a campanha e descobrindo que esses tipos de assédio, muitas vezes, são silenciosos. Principalmente no meio do jornalismo. "Vejo apenas uma minoria masculina criticando, mas vários homens estão nos procurando e acho que isso será um legado importante da campanha, servindo para os homens repensarem suas atitudes e a importância da mulher dentro e fora das redações. Agora nós estamos organizadas."

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