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Leia Dois Capítulos em Português de ‘A Cidade & a Cidade’, do China Miéville

É o primeiro livro do escritor de ficção científica a sair traduzido aqui no Brasil pela Boitempo.

Finalmente. A cidade & a cidade é um livro fera que saiu originalmente em 2009 na Inglaterra, onde o escritor China Miéville vive e atua. No finalzinho do ano passado chegou oficialmente ao Brasil, traduzido pelo especialista em ficção cientìfica Fábio Fernandes, doutor pela PUC-SP e também responsável pelas versões em português de Laranja Mecânica (edição especial de 50 lançada pela Aleph em 2012) e Neuromancer (também da Aleph, 2008). O livro chega por aqui pelas mãos da Boitempo, que deve lançar os outros trabalhos do inglês no futuro próximo.

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Miéville já é um peso forte da ficção científica contemporânea e um desafiador habilidoso do gênero, que fica quase irreconhecível em A cidade & a cidade. Não há carros voando, não há espíritos digitalizados, muito menos superpoderes — na verdade, mal dá para dizer que a trama se passa no nosso futuro histórico. Pode até ser que ela esteja ambientada num planeta Terra que coexiste num mundo paralelo. Inclusive, esse lance da coexistência, da simultaneidade presencial, é o leitmotif do livro, que, em rasteiro resumo, trata da investigação de um assassinato. Uma mulher é encontrada morta, e acompanhamos o policial Tyador Borlú em sua jornada para revelar a misteriosa morte. O pano de fundo é a cidade Beszel, que parece estar perdida e isolada em alguma região do Leste Europeu (ou algo assim). O problema é que essa decaída metrópole ocupa o mesmo espaço físico que uma outra metrópole, Ul Qoma. As duas cidades são como dois países, com história, costumes, leis e até climas diferentes, mas que dividem a mesma topografia (Borlú usa o termo topolganger para explicar o fenômeno). Essa dinâmica é sustentada por duas forças: um árduo e crônico processo cognitivo, que Miéville expõe de forma lenta e sagaz; e a Brecha, uma terceira e fantasmagórica instância política e policial, que é o que (ou quem?) define as complexas fronteiras entre Beszel e Ul Qoma.

Antropologia, Sociologia, Agatha Christie, Philip K. Dick, Surfista Prateado e mais uma avalanche de referências pop/intelectuais-de-esquerda costuradas de uma forma cinematográfica e seca fazem de A cidade & a cidade um livro-chave para se curtir a nova ficção científica do mundo. Miéville tem 42 anos e é mesmo um acadêmico e ativista de esquerda (antropólogo pela Universidade de Cambridge e doutor pela London School of Economics, ele até ajudou a fundar um partido, o Left Unity). Ele usa as suas ferramentas críticas para criar um universo paralelo distópico, cujas medidas de tempo histórico foram destruídas para dar lugar a um novo status quo político, que mantém para se manter. Uma realidade que dobrou em si mesma, para o bem de todos.

China Miéville. Crédito: Kate Eshelby.

Li o livro durante o recesso de fim de ano e pirei. Muito. Naquele nível de "Porra, vocês tem que ler esse China aí, bicho!". Por isso, pedi à Boitempo e eles, muito gentilmente, nos cederam os dois primeiros capítulos de A cidade & a cidade para você ler bem de boa neste arquivo .pdf que você pode ler ou baixar logo na sequência.

- Texto por Eduardo Roberto.