Luzzara, 1953

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Fotos

Luzzara, 1953

A série foi criada num período estendido de tempo e feita usando longa exposição e luz natural. Não há ironia aqui, apenas o desejo de fotografar um ecossistema humano de maneira lenta e fria, mas de jeito nenhum distante.

Paul Strand foi colocado num pedestal tão alto que é difícil para o público contemporâneo notá-lo. Em 1945, ele se tornou o primeiro fotógrafo a ter uma exposição solo no Museu de Arte Moderna de Nova York. Além disso, suas primeiras fotos de cenas urbanas e abstrações ajudaram a cimentar a fotografia como parte integral da estética moderna. Mas, se ele é tão seminal, por que uma exposição abrangente de seu trabalho não acontece desde 1971? Strand deveria, sem dúvida, ser considerado um dos maiores fotógrafos norte-americanos. Então, por que uma busca com seu nome no Google traz apenas algumas das fotos que estão abaixo?

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Strand achava que as reproduções de suas fotos não faziam jus às originais. Vistas pessoalmente, suas revelações por prata coloidal são cheias de sombras como tinta e delicados destaques impossíveis de se duplicar em impressões e que se traduzem mal na tela. Seu trabalho também é pouco discutido, porque suas fotos raramente têm um "gancho". São fotos sérias de um homem sério – de muitas maneiras uma antítese da arte pop. São imagens em preto e branco, permanecendo na parte escura do espectro, e formais na composição.

Amiga e tema de Strand, Georgia O'Keeffe relembrava em seus últimos anos que a primeira esposa do fotógrafo, Rebecca, "era uma jovem esguia e animada, e Strand era denso e lento". Ele aparecia na praça de uma cidade qualquer e esperava horas até que os locais deixassem de notá-lo. Assim que eles relaxavam e voltavam a suas rotinas diárias, ele fazia discretamente suas fotos. Ele frequentemente usava uma lente com prisma para fotografar as pessoas sem que elas percebessem. Quando apontava a câmera para uma direção, ele podia fotografar a cena acontecendo a 45 graus para a direita ou a esquerda.

Hoje, fotografar pessoas sem o conhecimento delas é considerado problemático, mas, graças à sua abordagem sensível, ele conseguia apresentar seus temas como iguais, não como outros.

Agora, o Museu de Arte da Filadélfia está realizando a primeira retrospectiva da carreira de Strand em quarenta anos. A exposição comemora a aquisição de 3 mil fotos e positivos sobre placas de vidro do Paul Strand Archive pertencente à Aperture Foundation. Combinadas a 600 peças doadas ao museu pela propriedade Strand nos anos seguintes à sua última retrospectiva lá, em 1971, o museu possui agora a maior coleção do trabalho do fotógrafo no mundo.

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Por anos, Strand sonhou em fotografar um vilarejo inteiro, uma ambição inspirada pelo livro Winesburg, Ohio, de Sherwood Anderson. Em 1949, ele conheceu Cesare Zavattini, que escreveu o roteiro do clássico neorrealista de Vittorio De Sica Ladrões de Bicicletas. O roteirista o encorajou a fotografar a cidade italiana de Luzzara, sua terra natal, por mais de cinco semanas, na primavera de 1953. Luzzara é uma pequena cidade agrícola no vale do rio Pó, conhecida pela indústria de queijos, chapéus de palha e arnês para cavalos. Strand e Zavattini escolheram focar nos artesãos locais e em estruturas familiares. Um homem chamado Valentino Lusetti, que tinha aprendido um pouco de inglês quando foi prisioneiro na Segunda Guerra Mundial, atuou como tradutor e contato deles na cidade. Na verdade, o retrato em grupo mais icônico da cidade feito por Strand mostra a família de Lusetti posando em frente à fachada de sua casa ancestral. Essa foto se tornou a capa da monografia da Aperture Un Paese, de 1955, com narrativas em primeira pessoa coletadas por Zavattini juntas às fotografias de Strand. Apesar do feito único de fotografar um vilarejo inteiro, as fotos seguintes contêm imagens em grande parte familiares para o público contemporâneo.

O retrato de Luzzara feito por Strand é sincero. A série foi criada num período estendido de tempo e feita usando longa exposição e luz natural. Não há ironia aqui, apenas o desejo de fotografar um ecossistema humano de maneira lenta e fria, mas de jeito nenhum distante. Enquanto mais e mais fotos autoconscientes são jogadas na humanidade todo dia, é importante parar e ver de perto o que consumimos. Ele entendia que a fotografia tinha o poder de mudar o mundo. Ele estava disposto a sentar e esperar o mundo ser do jeito que era quando ninguém estava olhando. Por isso, agora é uma boa hora de parar e notar Paul Strand.

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– MATTHEW LEIFHEIT

Tradução: Marina Schnoor