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Μodă

Na Carne - As Máscaras Bizarras de Nader Sadek

Se você curte esse climão vítima degolada queimada coberta do catarro do demônio, dá uma conferida nas máscaras de Nader Sadek.

Se você curte esse climão vítima degolada queimada coberta do catarro do demônio, dá uma conferida nas máscaras de Nader Sadek. Nader nasceu no Egito e agora mora e trabalha em Nova York, onde faz dezenas de máscaras pro Attila Csihar  — vocalista do Mayhem e do Sunn O))) — ou qualquer um que queria aterrorizar seu público. Nader também faz sua própria música, performances ao vivo, desenha camisetas, cria diversas obras de arte não relacionadas com máscaras e se envolve com uma variedade de projetos de design. Ele é um cara bem prolixo, então tive uma conversa com ele sobre alguns dos seus trampos.

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VICE: Oi, Nader. Então, por que você começou a fazer máscaras?
Nader Sadek:  Bom, eu cresci no Egito e durante esses anos as coisas foram ficando muito conservadoras, o que levou a maioria das mulheres a usar véu -- isso não era comum na minha infância. A maioria das mulheres usava o hijab, que cobre os cabelos, mas na metade dos anos 90, muitas mulheres começaram a usar niqabs, e agora elas estão completamente cobertas. Obviamente, não há só mulheres cobertas no Egito, mas isso se tornou extremamente popular, o que diz muito sobre nossa cultura. Meus pais são cristãos, então eu já tinha visto freiras usando um tipo de véu também -- não é uma coisa necessariamente muçulmana --, mas isso diz muito sobre a condição egípcia.

O que, cobrir o rosto?
Sim, por que temos que nos cobrir? Por que nos escodemos uns dos outros? Por que não confiamos uns nos outros? Obviamente, há algo nas máscaras que ilude. É um reflexo do nosso interior ou é algo que desejamos nos tornar? Sempre fiquei intrigado com o mistério que um véu ou uma máscara representam, porque, mesmo pretendendo ser uma cobertura, eles demonstram uma nova dualidade.

Steve Tucker do Morbid Angel usando uma das máscaras de Nader no clipe "Sulffer (In the Flesh)".

E como você foi desse pensamento para o fazer máscaras para músicos de metal? Parece que foi um salto.
Bom, me mudei do Cairo para Nova York e continuei um projeto que tinha começado no Egito chamado Faceless. No Egito, eu tinha o look metaleiro completo -- cabelo longo e grosso cobrindo a minha casa, um cavanhaque comprido, camisetas preta do Deicide, etc -- e isso intimidava o pessoal local de um jeito que não era mais seguro pra mim andar em algumas áreas da cidade, porque eu era rotulado como adorador de Satã. Quando me mudei pra Nova York eu quis experimentar provocar a mesma reação nos nova-iorquinos, então me vesti como uma mulher usando niqab, andei pela Times Square e pela Herald Square, e fui a lojas de roupas femininas como a Victoria's Secret. Os vendedores não sabiam como me abordar. Foram muitos momentos esquisitos.

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Attila Csihar.

Mas até agora não vi relação nenhuma com máscaras.
[Risos] Não. Mas fiz uma série de desenhos baseados nas minhas experiências, que foi o que me levou a ideia das máscaras, imagem e autoprojeção.

Agora sim.
Depois eu conheci o Attila Csihar, vocalista do Mayhem e do Sunn O))), entre outros, e conversamos muito. No começo eu queria fazer moldes dos rostos das pessoas pra ter um tipo de suvenir delas.

Uou! Bizarro! Da cara de quem você fez moldes?
Nessa época eu fiz moldes da maioria dos meus amigos, da minha mãe e de alguns dos meus parentes. Depois do Steve Tucker, ex-vocalista do Morbid Angel, do Trym, o baterista do Emperor e do Stephen O'Malley do Sunn O))), que foi como eu conheci o Attila. Conversamos muito sobre máscaras e me ofereci para fazer algo pra ele, mas ele não tinha muita certeza sobre isso porque não queria alguma coisa que lembrasse Halloween ou o tipo de máscara do Slipknot, nem nada que fosse reconhecível. Em comparação, minhas máscaras são abstratas e emocionais, então fiz a máscara e ele usou num show, aí ele ficou tão empolgado que imediatamente me pediu mais dez, e foi assim que começou.

Legal. Algumas das suas máscaras parecem super demoníacas. Já em outras parece que a carne do rosto está descascando. Por quê?
Não tenho certeza, eu só deixo os produtos químicos agirem — é uma coisa meio catártica. Eu sempre penso na pessoa pra quem estou fazendo a máscara, então, naturalmente, isso acaba sendo um tipo de interpretação dela. Um bom exemplo disso foi quando fiz uma máscara do próprio rosto do Attila e ele a cobriu com aquela tinta típica do black metal que você vê todas as bandas de black metal usando hoje em dia. Acho que foi uma coisa genial, porque confundiu ainda mais as pessoas. Eu tinha feito a máscara danificada e com cicatrizes, então quando ele adicionou a tinta isso realmente realçou as cicatrizes e o público não conseguia saber se ele estava usando máscara ou não.

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Parece convenientemente maligno. Você já fez alguma máscara feliz?
[Risos] Não conheço ninguém que seja feliz e nunca ninguém feliz me pediu pra fazer uma máscara. No entanto, eu fiz uma máscara para o Andrew WK — que é um cara festeiro — e ele queria uma máscara ultra realista da cara dele, com a mesma barba, marcas de nascença, ao ponto de eu ter que inserir cada pelo individualmente no queixo. Conceitualmente, eu achei que era uma grande ideia, porque era para o clipe da música "I'm A Vagabond", e a letra sugere que as pessoas nunca vão conseguir entendê-lo. Então usar uma máscara dele mesmo era o jeito perfeito de mostrar isso simbolicamente.

Um molde do rosto da mãe de Nader para seu projeto  Paradox Complex .

Você já pensou sobre o lado sexual das máscaras? Conversei com um cara recentemente que curtia female masking, que são caras usando máscaras de látex de mulher.
Não, mas isso me lembra um episódio de Contos da  Cripta no qual uma mulher conhece homens em festas de Halloween, seduz os caras e depois transa com eles. Como é Halloween, o cara pensa que ela está usando uma máscara e tenta arrancá-la, mas na verdade era o rosto real dela, que parecia uma máscara de Halloween.

Nader antes e depois de seu projeto Faceless .

Dá pra imaginar suas máscaras num contexto de alta moda. Você curte moda ou gosta de algum estilista específico?
Sim, quer dizer, eu fico curioso e dou uma olhada, ou se vejo uma revista de moda dou uma folheada. Se vejo algo que gosto, tento lembrar o nome do estilista pra procurar depois, mas sempre esqueço. Fico mais interessado nos materiais usados, especialmente nos sapatos femininos, porque alguns estilistas têm um grande orçamento e podem usar vários materiais atraentes.

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Attila Csihar.

Você já pensou em fazer roupa que combinem com as máscaras?
Sim, já fiz dois ternos — um pra mim e outro para o Rune, do Mayhem, mas não sei se ele já usou alguma vez, já que precisa ser usado no cenário correto. Eu geralmente uso meu terno nos meus próprios shows. É uma mistura de terno militar de comandante e de terno elegante da realeza que eu mesmo cortei e um alfaiate costurou. Ele representa um tipo de ditador imaginário e eu só uso com minha máscara de cabelo, que usei como personagem principal do meu álbum/vídeo conceitual In The Flesh.

Carmen do Ava Inferi.

Qual a importância das máscaras na sua própria música e nos seus shows?
Elas são muito importantes. Elas ajudam a completar os personagens que estou tentando alcançar, no palco ao vivo assim como nos clipes. Acho que é muito importante para todos os músicos que sua imagem conte uma história. Sabe, gosto muito da banda Portal, da Austrália. O som e a aparência deles são únicos e todos os membros da banda usam sacos pretos como máscaras, o que esconde o rosto deles completamente. O vocalista usa um colar de relógio e eu acho que tempo é um assunto crucial no death metal.

Bem louco. Qual seria a máscara definitiva?
Eu adoraria fazer máscaras com tecido vivo — vivo, respirando, tecido clonado. Eu eventualmente quero fazer esculturas de humanos e animais clonados que eu possa alimentar com nutrientes e tal. Também gostaria de converter máquinas, como motores de carros, em motores feitos de carne, músculos e ossos, e seria necessário alimentar com nutrientes os músculos para fazer o motor funcionar.

Essa é a coisa mais incrível e nojenta que já ouvi na minha vida.