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Minha Fuga Para a Líbia - A Fronteira

Tobruk, Líbia - Do outro lado da fronteira, os egípcios tinham ficado mais do que felizes por nos deixar sair naquela tarde friorenta. Havia trabalhadores estrangeiros aguardando pra entrar que existiam num tipo de limbo.

25 de março de 2011

Tobruk, Líbia – Do outro lado da fronteira, os egípcios tinham ficado mais do que felizes por nos deixar sair naquela tarde friorenta. Havia trabalhadores estrangeiros aguardando pra entrar que existiam num tipo de limbo. Sem dinheiro pra voltar aos respectivos países, lotaram estacionamentos nas cercanias da sala de embarque, que ficou completamente atolada por malas e cobertores. Um garoto ficou atrás de nós brincando com sua bola de golfe enquanto guardas da alfândega egípcios conferiam nossos passaportes. Carregando nossa bagagem, atravessamos a terra de ninguém entre a revista e a sala de embarque.

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“Credencial de imprensa, credencial de imprensa”, disse o guarda da fronteira líbio. Imediatamente deslizei uma carta de intenções pelo balcão. “Credencial de imprensa”, ele disse de novo. Pareciam ser aquelas as únicas palavras que sabia falar. Guardas adoram qualquer coisa de plástico que tenha IMPRENSA estampado. Meus amigos tinham as deles, mas eu tinha esquecido de fazer uma. Uma carta de um editor, ainda mais escrita em inglês, não ajuda muito.

“Sem credencial de imprensa”, disse o guarda balançando a cabeça. Anotou as informações do meu passaporte – tudo errado – no seu caderno e me devolveu a carta. “Não”, falou, sacudindo a cabeça de um jeito “infelizmente”. Eu deveria ter ficado feliz. (Ah, não vou poder ir à zona de guerra!), mas ia ser uma merda ter ido tão longe pra ser mandado de volta. Fiquei lá falando com as mãos, apontando pra carta até que me dei conta do quão burro eu tinha sido. Tenho uma credencial de imprensa salva no computador. Como pude esquecer?

Foi quando um barbudo interveio. “Sem credencial de imprensa?”, me perguntou em inglês.

Apontei pra carta. Parecia tão estúpido agora. “Só isso.”

Ele trocou algumas palavras em árabe com os guardas. “Você é o produtor deles?”, questionou enquanto apontava para os meus amigos.

“Hmmm, eu tiro fotos e escrevo”, respondi antes de me tocar que não deveria ter contradito seus pressupostos. “Sim, sou o produtor.”

Mais algumas palavras do cara, que viajava com uma emissora grande, e fui bem-vindo à Líbia. Um cara do lado de fora do escritório vestia uma bandeira da Líbia como capa por cima do seu sobretudo. Estávamos na Líbia.

Apesar da enxurrada de e-mails de micro-gerenciamento, o motoristas que tínhamos arranjado não apareceu. Ao invés disso, pegamos uma carona pra Tobruk com outra pessoa. Passamos por vilarejos cheios de apoiadores de Gaddafi, mas também vi vários grafites anti-Gaddafi. Cruzamos lugares desérticos. Uma das primeiras coisas que percebi foi que as estradas da Líbia são bem lisas. O movimento tranquilo do carro fez meu rosto formigar, e eu apaguei em poucos minutos.

Quando acordei, tínhamos chegado a um hotel quatro estrelas vazio com vista para o Mediterrâneo. A internet não estava funcionando e todo aquele lugar – o vento assobiando pela janela, o ar condicionado sussurrando pelos respiradouros – me entediaram e tranquilizaram. Celulares não funcionam. Telefones por satélite são rudiementares. Mas TV a cabo funciona. A Al Jazeera e a BBC fazem Benghazi parecer uma festa. O som de armas disparando numa demonstração flutuando sobre a água.

TEXTO E FOTOS POR JEREMY RELPH VICE US
TRADUÇÃO POR EQUIPE VICE BR