Desde 2015, o site Quem a Homotransfobia Matou? compila mortes de LGBTs que ocorrem em todo o país. Só neste ano, o projeto contabilizou 289 homicídios. Desse total, 127 eram T. A maioria dos casos trazem causas mortis cruéis, como asfixia, pauladas, facadas, tiros e pedradas.Responsável por publicar esses casos está o cientista social Eduardo Michels, administrador do banco de dados do Grupo Gay da Bahia (GGB), associação que atua na defesa dos direitos humanos de LGBTs em todo o país e alimenta o site. "Recebemos informações de todos os estados e municípios brasileiros", explica o organizador. São pessoas anônimas e voluntárias que entram em contato com o GGB para denunciar as mortes. Rolar a barra lateral da publicação é lidar com fotos estarrecedoras e histórias pouco apuradas. Muitas vezes, a imprensa local e blogs sensacionalistas tratam as vítimas com desrespeito.Procurar informações sobre mortes de pessoas T (transgêneros, transexuais e travestis) no Brasil é lidar com um enigma.
A dificuldade em obter números oficiais de mortes entre LGBTs brasileiros parte também da falta de suporte jurídico encontrado por essa população. "A homofobia ainda não é tipificada no Código Penal Brasileiro como crime", justifica Eduardo.PESSOAS T (TRANSGÊNEROS, TRANSEXUAIS E TRAVESTIS) MORTAS EM 2016
Travestis - 75
Mulheres trans - 50
Homens trans - 12
TOTAL - 127 pessoasFonte: Site Quem a Homotransfobia Matou Hoje?
Colaboradora do Processo Transexualizador do Sistema Único de Saúde (SUS), a psicóloga e psicanalista Maya Foigel ressalta que, além das questões individuais de cada uma dessas pessoas que tirou a própria vida, pode-se apontar a violência, a discriminação e o preconceito como elementos agravantes.A maioria dos casos trazem causas mortis cruéis, como asfixia, pauladas, facadas, tiros e pedradas.
É comum amigos e parentes muitas vezes não lidarem bem com uma pessoa trans ou uma travesti na família. "Precisamos urgentemente aprender a respeitar o lugar de fala, escutar o sofrimento, vencer preconceitos e superar diferenças", ressalta a profissional, que também é professora do curso de Sexualidade da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo (FCMSCSP).DENÚNCIAS DE LGBTS NOS ÚLTIMOS ANOS
Abaixo, números de denúncias que foram recebidas pela Secretaria de Direitos Humanos nos últimos anos através do Disque 100.
2013 - 1.695 denúncias
(72% discriminação, 80% violência psicológica, 28% violência física, entre outros)2014 - 1.013 denúncias
(85% discriminação, 77% violência psicológica, 28% violência física, entre outros)2015 - 1.983 denúncias
(42% discriminação, 39% violência psicológica, 17% violência física, entre outros)Fonte: Secretaria Especial de Direitos Humanos
Para Foigel, outro fato que interfere não só na falta de políticas públicas como também no preconceito são representantes religiosos e do governo de vertentes conservadoras que se opõem à liberação de direitos à essa população, como a tentativa de impedir que transexuais e travestis usem o nome social ou a questão sempre polêmica sobre a utilização de banheiros públicos."A postura fundamentalista de muitos líderes encoraja a violência contra essa população – o que miseravelmente já faz parte do cotidiano no nosso país –, juntamente com a falta de conhecimento da sociedade em geral acerca das pessoas trans", finaliza.Siga a VICE Brasil no Facebook, Twitter e Instagram."A postura fundamentalista de muitos líderes encoraja a violência contra essa população", afirma a psicóloga e psicanalista Maya Foigel