Mossless in America: Carl Gunhouse

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Mossless in America: Carl Gunhouse

Carl Gunhouse cresceu nos subúrbios de Nova Jersey, onde, mais tarde, encontrou consolo na raiva e na ética DIY do punk rock hardcore. Foi aí que ele começou a fotografar.

A Mossless in America é uma coluna que apresenta entrevistas com fotógrafos documentais. A série é produzida em parceria com a revista Mossless, uma publicação fotográfica experimental comandada por Romke Hoogwaerts e Grace Leigh. Romke começou a Mossless em 2009 como um blog em que ele entrevistava um fotógrafo diferente a cada dois dias. Desde 2012, a revista já teve duas edições impressas, cada uma lidando com um tipo diferente de fotografia. A Mosslessfoi destaque na exposição Millennium Magazine, de 2012, no Museu de Arte Moderna de Nova York, e conta com o apoio da Printed Matter, Inc. A terceira edição, um volume dedicado à foto documental norte-americana dos últimos dez anos, é intitulada The United States (2003 – 2013) e foi lançada recentemente.

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Carl Gunhouse cresceu nos subúrbios de Nova Jersey, onde, mais tarde, encontrou consolo na raiva e na ética DIY do punk rock hardcore. Foi aí que ele começou a fotografar. Estudou história na Europa, com formação paralela em fotografia, depois fez mestrado em história americana e finalmente recebeu seu mestrado em fotografia em Yale. Suas fotos são concisas e um tanto engraçadas também – até um pouco sarcásticas às vezes. Suas imagens são críticas, assim como sua prosa. Falamos sobre o blog dele, Searching for the Light, o subúrbio, a internet em geral e alguns de seus jovens fotógrafos favoritos.

Mossless: Suas fotos às vezes se fixam em justaposições dissonantes morais e culturais, como a placa dizendo “Coolin Out” [“relaxando”] com o mural retratando um soldado ferido sendo levado para um helicóptero ao fundo. O que te atrai nessas cenas?
Carl Gunhouse: A maioria do trabalho para a série America foi feito dirigindo pela cidade, entre um semestre e outro, enquanto eu fazia meu mestrado em artes. Ocasionalmente, eu já tinha algo em mente que queria fotografar, mas, na maioria das vezes, eu só seguia até qualquer destino arbitrário na esperança de achar algo interessante no caminho. Eu esperava que isso dissesse algo sobre como me sinto sobre os eventos atuais. Depois de trabalhar alguns anos nisso, as viagens começaram a se tornar mais pontuais: eu procurava fotografar coisas específicas, mas tentando manter uma certa abertura para o mundo.

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A foto “Coolin Out” foi feita em Virginia Beach, que eu tinha ouvido que era uma área turística decadente, então achei que o lugar tinha potencial para descrever uma crise econômica maior. Chegando lá, ficou claro que a cidade também é uma base militar, e simplesmente topei com aquele mural. Quando eu estava tirando a foto, um cara apareceu perguntando o que eu estava fotografando. Eu disse que o mural me parecia muito intenso, e ele me olhou intrigado e disse: “Acho que sim”.

Li uma vez que a ideia de subúrbio não funciona corretamente, porque divide muito os modos de vida. Como coberturas de uma pizza, você não quer tomate só num pedaço, queijo só no outro. Quais são suas experiências dessas divisões quando era garoto?
Sou de uma cidade white trash de classe trabalhadora em Nova Jersey chamada Dunellen, mas, quando eu tinha nove anos, meu pai conseguiu um emprego melhor e nos mudamos para Summit, um subúrbio rico de Nova Jersey, onde estávamos no lado mais pobre das coisas. Naquela época, meu melhor amigo de Dunellen se mudou para um subúrbio recém-construído nos arredores de Princeton, então acho que pude ver um espectro muito amplo da vida suburbana e, de muitas maneiras, fui sempre um estrangeiro. Sendo um moleque pobre branco num subúrbio rico, eu me sentia muito consciente de que eu não era como os outros garotos, mas, comparado com de onde eu tinha vindo, estávamos indo bem. Lembro que, quando era criança, todos os garotos ricos se referiam a si mesmos como classe média alta. Parecia que era um ato de coragem para eles reconhecer que vinham de famílias ricas.

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Como os meus pais eram do Brooklyn e queriam que eu e minhas irmãs tivéssemos acesso a muita cultura, passamos boa parte da infância na cidade; então, quando era garoto, eu achava meio limitador e estranho morar no subúrbio. O que deve ter desencadeado muito do meu interesse adulto pelo subúrbio como lugar para fazer meu trabalho. Mas o que mais sinto é que no subúrbio há muita falta do que fazer, especialmente se você é adolescente. Acho que isso cria um desespero para experimentar coisas, e, quando você vê, está cheirando cola com uns caras na linha do trem.

Como você foi afetado por esses tempos de mudança?
Como era aquela frase de Walker Evans? “A depressão não afetou muito a mim e aos meus amigos, nós já éramos pobres.”

Não sei. Acho que muito disso vai me afetar naquela parte da vida em que seria legal ter uma casa e um emprego com benefícios. Como membro adjunto do corpo docente, consigo viver bem apenas ensinando, mas ter algo mais estável seria legal.

Há um grande distanciamento agora do trabalho sindicalizado e uma dependência cada vez maior de trabalhadores de meio período. Isso começa a me afetar quando me candidato a algum trabalho de tempo integral. O número de de professores de período integral vem diminuindo a cada ano, e, com a aposentadoria das pessoas ligada ao mercado de ações, você vê cada vez menos gente se aposentando. Você vê professores que já teriam se aposentado na geração passada segurando essas posições de período integral. E com a economia se arrastando, você vê gente de nome escolhendo ensinar, porque os trabalhos freelance estão secando. Mas, apesar das minhas lamúrias, estou indo bem financeiramente.

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Você também escreve sobre fotografia. Sobre que tipo de trabalho você mais gosta de escrever? O que mais te envolve?
Lembro que perguntaram algo similar para Tod Papageorge e ele respondeu “Boa fotografia”. Venho de uma linha bastante tradicional de fotografia, então isso foi meu primeiro amor. Mas eu gosto de muitas coisas que estão bem longe do meu campo e faço o melhor possível para me envolver com coisas que não entendo muito bem, ou até de que não gosto. Por exemplo, foram anos de desdém enraivecido até começar a gostar de Roni Horn. Agora ela é facilmente uma das minhas artistas favoritas.

Pouca gente tem seu próprio blog de resenhas de fotografia e menos gente ainda realmente escreve sobre isso. Seu blog, Searching for the Light, é raro nesse ponto. Por que você acha que é assim?

Comecei o blog para os meus estudantes, para encorajá-los a ir ver algumas exposições, e aí me pediram para escrever a alguns sites. Isso veio principalmente de descobrir que, digamos, a lista de exposições doVillage Voice era muito pouco informativa e universalmente positiva. Eu queria escrever algo que lançasse um olhar mais crítico sobre as coisas, tipo um antiVince Aletti, mas com um milésimo dos leitores dele. E as pessoas vêm respondendo a isso e gostando do que escrevo. Às vezes, alguém fica nervoso comigo, mas as pessoas geralmente parecem entender. Não sei por que mais artistas não escrevem. Acho que quando você tenta ser articulado quando está sendo crítico, as pessoas não se ofendem. Quer dizer, a maioria dos artistas já passou por uma crítica ou duas, e eles não são tão sensíveis assim. Além do mais, quem sou eu? Não é só porque não gosto do que você está fazendo que isso vai afetar o que as pessoas pensam do seu trabalho.

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Jerry Saltz escreveu alguma coisa sobre a morte da crítica, e acho que isso se resume basicamente a duas coisas. Primeira, o mercado de arte é uma besta gigantesca, então nenhum crítico no mundo é poderoso o suficiente para ser um criador de gostos como, digamos, Clement Greensberg foi. E existem tantos blogs despejando afirmações descritivas maliciosas que acabam afogando a crítica real. Segunda, as pessoas do mercado de arte estão preocupadas com os valores alcançados nos leilões e não passam muito tempo lendo teoria da arte. Então a crítica realmente não afeta como galerias, e, em certo ponto, artistas vendem e fazem arte.

O que você acha das fotos na internet?
Quanto ao enorme volume de imagens que estariam sobrecarregando o meio, que é o que acontece com qualquer painel de foto hoje, acho besteira. Escritores não reclamam que o número de e-mails na internet está sobrecarregando de alguma forma o meio deles. Acho que se você não consegue ver a diferença entre arte e o instagram do seu amigo, então falta um entendimento básico do meio aí.

Mas, pessoalmente, não sei. Acho que é ótimo que as pessoas estejam tirando e vendo tantas fotos. Isso certamente aumentou o alfabetismo visual e o interesse no meio. Lembra da Times dos anos 2000, quando Thomas Friedman ficava dizendo como a tecnologia tinha tornado o mundo plano e como a China e a Índia iam tomar o mundo? Bom, acho que a internet fez bem para a fotografia; você tem acesso a muita arte online. Acho que há menos polarização sobre, digamos, ser um fotógrafo tradicional ou um fotógrafo conceitual – ou qualquer subgênero que você quiser, porque a torta é tão grande agora que há espaço para ser um Christian Patterson sem ter de lutar por um lugar com, digamos, um Lucas Blalock. Mas, de vez em quando, começo a entrar no buraco de coelho do Tumblr ou dos blogs de fotografia e fico muito consciente de quanta fotografia boa há por aí. E mesmo que eu me sinta bem com o que faço, não consigo deixar de pensar que sou só um entre muitos, o que pode me fazer sentir horrivelmente medíocre.

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Quem são seus fotógrafos jovens favoritos?

Cara, muitos. Além disso, quanto mais velho eu fico, “jovem” se torna um termo meio relativo. Os que vêm primeiro à minha cabeça: Elle Pérez, Ben McNutt, Maureen R. Drennan, Kyle Tata, Zak Arctander e John Vigg, mas eu poderia continuar e continuar.

Desde que concluiu seu mestrado em artes em Yale, Carl Gunhouse tem dado aulas na Montclair State University, Cooper Union, Marymount Manhattan College e Nassau Community College. Ele também é conhecido por sua escrita simples e direta sobre fotografia para sites como Searching for the Light, Lay Flat e American Suburb X.

Siga a Mossless no Twitter.

Tradução: Marina Schnoor