Mossless in America: Young Suh
Onde há fumaça, o fotógrafo Young Suh vai estar.

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Mossless in America: Young Suh

Onde há fumaça, o fotógrafo Young Suh vai estar.

A Mossless in America é uma coluna que apresenta entrevistas com fotógrafos documentais. A série é produzida em parceria com a revista Mossless, uma publicação fotográfica experimental comandada por Romke Hoogwaerts e Grace Leigh. Romke começou a Mosslessem 2009 como um blog em que ele entrevistava um fotógrafo diferente a cada dois dias. Desde 2012, a revista já teve duas edições impressas, cada uma lidando com um tipo diferente de fotografia. A Mosslessfoi destaque na exposição Millennium Magazine, de 2012, no Museu de Arte Moderna de Nova York, e conta com o apoio da Printed Matter, Inc. A terceira edição, um volume dedicado à foto documental norte-americana dos últimos dez anos, é intitulada The United States (2003 - 2013) e foi lançada recentemente.

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Onde há fumaça, o fotógrafo Young Suh vai estar. Suh, que vive na Califórnia, se incorpora aos bombeiros do Oeste Americano para fazer fotos de incêndios controlados pelo Serviço Florestal Americano. Em suas fotos pictóricas, processa a paisagem simultaneamente como um espaço projetado e uma força imprevisível da natureza. A fumaça obscurece cenas banais e vistas imaculadas, e figuras são encolhidas pelo âmbito do enquadramento de Young. Conversamos com ele sobre as dificuldades de fotografar incêndios em lugares como o Parque Nacional Yosemite, o uso de presidiários americanos como mão de obra para controlar queimadas e a influência da Escola de Pintura do Rio Hudson.

Mossless: Quanto tempo você passou caçando queimadas com os bombeiros?
Young Suh: Comecei a fazer fotos de queimadas em 2008. Nos primeiros anos, não trabalhei realmente com os bombeiros. Eu procurava informação sobre queimadas nos jornais locais e na internet e ia até a área com pouca noção do que encontraria lá. Essas viagens levavam três ou quatro dias. Eu era atraído originalmente pelas paisagens vernáculas próximas dos incêndios e imersas em fumaça, sem necessariamente fotografar a cena do incêndio. Muitas fotos da minha série Wildfires foram feitas nessa época. Aí, por volta de 2010, comecei a contatar vários departamentos de bombeiros da Califórnia, incluindo o de Yosemite, para ganhar acesso a operações de incêndio controlado. Normalmente, incêndios controlados incluem vários dias de preparação antes da queimada. Como cada incêndio tem de ser aprovado pela Comissão de Controle da Qualidade do Ar local e depende das condições meteorológicas ideais, fiquei muito tempo esperando nos campos de incêndio. Uma vez, passei uma semana inteira com os bombeiros por apenas uma hora de acesso ao local da queimada. Em outro lugar, eu podia passar um dia inteiro no meio da operação de incêndio.

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Qual é o seu processo para fazer essas fotografias?
Viajo com uma câmera de mão de médio formato e uma câmera de grande formato na mochila. Ando pelo local do incêndio o máximo possível, porque o fogo e a fumaça estão constantemente mudando de formato. Quando decido fazer uma foto, preparo rapidamente minha câmera de grande formato e faço uma ou duas exposições; depois, movo o tripé três ou seis metros e bato outra, até sentir que tenho o que quero. Às vezes, fotografo com minha câmera de médio formato se preciso responder rapidamente. Estou sempre me movendo. O processo é mais como uma versão lenta da fotografia de rua. É como se a paisagem estivesse constantemente mudando sua forma.

A fumaça causa algum problema técnico?
Leva tempo para montar uma câmera de grande formato e bater a foto. A fumaça em si não cria nenhum problema mecânico, exceto que meu equipamento fica cheirando a churrasco de frango.

Qual sua opinião sobre os detentos que trabalham na operação de incêndio controlado?
A foto foi tirada durante um incêndio controlado conduzido na propriedade de uma prisão no sul da Califórnia. A área é geralmente usada para treinar bombeiros. Quando os presos são trazidos para ajudar com a operação, isso cria uma cena onde os bombeiros têm que lidar com duas ameaças diferentes à sociedade: uma natural e uma humana. Não dominamos nenhuma das duas.

A fumaça das queimadas tira essas paisagens da realidade e as coloca como que num cenário de sonho. As cenas parecem tão pitorescas assim pessoalmente?
Sou seduzido por essas cenas. Ou melhor, seduzido pelo desaparecimento delas. As cenas são pitorescas, mas o desaparecimento das paisagens é sublime. Acho que a noção de sublime implica cegueira. É uma sensação esmagadora de perda.

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Quem são seu pintores favoritos?
Estou pensado em dois pintores agora: Luc Tuymans e Sanford Robinson Gifford. As pinturas de Tuymans mexem com um senso de história em mim. De repente, a história parece não ter mais ordem. Não há hierarquia em seus temas, sejam eles vindos do passado ou do presente. Tuymans magicamente coloca todos lado a lado. Gifford fez uma série de estudos assistindo ao pôr do sol através de um desfiladeiro nas Montanhas Catskill. A paisagem desaparece com a luz ofuscante do sol, mas as pinturas também antecipam a perda da luz e a morte final da paisagem.

Young Suh é professor-assistente de fotografia na University of California, em Davis. Ele estudou no Pratt Institute no Brooklyn e na School of the Museum of Fine Artsem Boston.

Tradução: Marina Schnoor