Na Manifestação da Última Sexta-Feira, A Situação Dos Estudantes de Diadema Melhorou - Mas Não Se Resolveu

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Educação Ocupada

Na Manifestação da Última Sexta-Feira, A Situação Dos Estudantes de Diadema Melhorou - Mas Não Se Resolveu

O adiamento por tempo indeterminado dos mandatos de reintegração de posse dos colégios estaduais foi motivo para comemorar, mas as reivindicações dos estudantes de Diadema continuam.

Da coluna 'Educação Ocupada'

Na última sexta-feira (16) foi quando chegou o mandato de reintegração na Escola Estadual Diadema, o primeiro colégio a ser ocupado por alunos contrários à reorganização proposta pelo Governo do Estado São Paulo. O clima era de muito calor e muitas incertezas, o que não impediu que, a partir do meio dia, movimentos sociais e simpatizantes dos alunos afetados pela medida começassem a fazer vigilha na porta do colégio. A Polícia Militar iria fazer a reintegração na base da força? Como ficaria o movimento de reinvindicação dos alunos de Diadema? Quem iria pagar, junto com o Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (APEOESP), a multa diária de R$100 mil citada no mandato caso o colégio não fosse desocupado? Essas eram algumas das questões do boca a boca local, que também armava para aquela tarde uma manifestação pelo bairro. Até aquele momento, ninguém sabia que, de noite, os mandatos de reintegração de posse para todos os colégios ocupados no estado seriam suspensos por tempo indeterminado.

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A estudante Suzan Martina era uma das responsáveis por receber a imprensa no portão do colégio. Foto: Guilherme Santana / VICE

Organizados, os alunos se dividiram para cumprirem diferentes tarefas na ocupação. Suzan Martina, de 17 anos, era uma das responsáveis por atender a imprensa. "O mandato nos deu 24 horas para desocupar a escola e diz que a APEOESP está aliciando os alunos", explicou a estudante do primeiro ano do ensino médio. "Isso não é verdade. A ocupação foi uma ideia e realização dos próprios estudantes. Também estão cobrando uma multa de R$100 mil para o sindicato dos professores e de 'terceiros incertos e não identificados'. Nós, alunos, vamos decidir o que fazer em relação ao mandato, mas não vamos desistir."

O estudante Luiz Felipe em frente a uma das fachadas da Escola Diadema. Foto Guilherme Santana / VICE

"Hoje, a Polícia Civil esteve aqui, e foi mais tranquilo", disse o estudante Luiz Felipe Bonfim, de 17 anos. "Mas ontem, estávamos fazendo uma música sobre nossa situação, e um dos policiais disse que iria quebrar o nosso tambor. Eles querem fazer pressão psicológica, mas a gente não vai parar de lutar pelo nosso colégio, isso é fato".

Funcionários permitiam que apenas alunos, professores e pais entrassem na Escola Diadema, onde acontecia uma reunião interna dos estudantes com o conselho diretor do colégio para discutir a reintegração. Alguns alunos que foram entrevistados estavam descontentes com a diretora principal, que era contra a ocupação. Após a reunião, ela saiu rápida pelo portão e não quis dar entrevista.

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A professora Marina Nascimento estava visivelmente decepcionada com a falta de apoio da direção do colégio em relação aos estudantes. Foto: Guilherme Santana / VICE

A professora Marina Nascimento, que estava dentro do colégio durante a reunião, saiu de lá indignada. "Estou aqui para apoiar os professores e alunos de Diadema. No colégio onde eu trabalho, e neste aqui também, há banheiros sem porta e falta até papel higiênico que os professores pagam do próprio bolso para dar aos alunos. O conselho diretor do colégio não aciona o Estado para denúnciar estes e outros crimes contra a qualidade do ensino, mas quando os estudantes estão reivindicando os seus direitos, eles acionam o conselho tutelar!"

Grupo de alunos discute os termos do mandato de reintegração de posse. Foto: Guilherme Santana / VICE

Depois da movimentação no período da tarde, professores e alunos da Escola Diadema partiram para a Praça Castelo Branco. Lá, eles encontraram-se com estudantes de outros colégios e demais apoiadores, entre eles integrantes da bateria da Universidade Federal do ABC e representantes do grupo Mal-Educados, da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e do Movimento de Luta dos Bairros, Vilas e Favelas (MLB). Então, entre músicas feitas por eles mesmos, os alunos de Diadema deram as diretrizes da manifestação para os ali presentes e sairam na linha de frente.

Concentração na Praça Castelo Branco, no centro de Diadema. Foto: Guilherme Santana / VICE

Durante o trajeto, que paralisou o trânsito nas duas vias da Av. Fábio Eduardo Esquível, houve panfletagem sobre a luta dos estudantes contra a reestruração no ensino proposto pelo Governo Alckmin, que irá afetar 94 instituições estaduais. Todos que tivessem algo a dizer, podiam pegar o microfone ligado a um amplificador para deixar seu recado.

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Todos tiveram a oportunidade de falar no microfone. Foto: Guilherme Santana / VICE.

Com excessão de um homem que surgiu esbravejando para que a caixa de som fosse desligada, muitas pessoas que passavam pela avenida se solidarizaram com o protesto e juntaram-se à ele. Um pequeno grupo de moradores de rua, com seus cachorros e bêbidas, fizeram o mesmo. A VICE contou cerca de 200 manifestantes.

A manifestação parou uma das principais avenidas de Diadema. Foto: Guilherme Santana/ VICE

Conforme o avançar da multidão, notícias menos ruins para a atual situação dos estudantes secundaristas do ensino público de SP iam chegando. A primeira delas era que a reintegração da Escola Diadema havia sido adiada para esta segunda-feira. A segunda era de que novos colégios estavam sendo ocupados. De noite, assim que a manifestação voltou para a porta do colégio, chegou a última e mais comemorada notícia: a de que, agora, as reintegrações de todos os colégios ocupados estão suspensas por tempo indeterminado. Até a chuva parecia estar a favor dos alunos: assim que o movimento cessou e todos partiram, começou uma baita ventania e caiu um forte pé d'água.

Rumores dão conta que a reintegração pode acontecer ainda no dia de hoje (18/11).

Saque mais fotos:

Todos as fotos por Guilherme Santana / VICE