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O Futuro dos Videogames Segundo a VICE

Pode chamar de brinquedo, pode chamar de cultura, pode chamar de distração enquanto você espera o ônibus – seja qual for sua visão dos videogames, eles serão ainda mais populares em 2015.

Em verdade, 2015 promete ser bem parecido com o ano anterior em termos de como jogamos videogames. Você tem um controle, um console e uma TV. E talvez alguns amigos – na sua casa ou do outro lado de uma conexão de banda larga. E é isso. Não espere nada muito radical nos próximos 12 meses.

A menos que… dentro dos limites do avanço da tecnologia, pode haver alguns desenvolvimentos interessantes. Primeiro, podemos finalmente ver o lançamento da versão de mercado da Steam Machine(s) da Valve, um computador de jogo feito por vários fabricantes, mas que roda todos os jogos no mesmo SteamOS baseado em Linux, pensado para caber embaixo da sua TV como um PlayStation. Segundo, a realidade virtual – seja o Rift, da Oculus VR, o Project Morpheus, da Sony, ou o já disponível Gear VR, da Samsung – pode finalmente achar um lugar no mainstream depois de várias tentativas fracassadas.

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"Veja o PS4 e Xbox One: a única diferença técnica real entre essa e a geração anterior são processadores melhores, mais RAM", me disse a desenvolvedora Brianna Wu, cofundadora do estúdio indie Giant Spacekat, de Boston. "Essas são diferenças muito interativas que fazem do Oculus uma coisa realmente grande. Mas ainda há problemas a serem resolvidos. Vi muita gente jogando com o Oculus, com a versão da época, no Boston Festival of Indie Games [realizado em setembro de 2014]. As pessoas ficavam enjoadas, e a interface precisava de mais trabalho. Acho que isso vai chegar ao grande público – mas não acho que isso vai acontecer em 2015."

Volume de Mike Bithell, trailer do Gamescom 2014.

Outro desenvolvedor indie, Mike Bithell, acha que o salto do jogo em frente a consoles de alta definição – ou mesmo em aparelhos móveis – para a realidade virtual total não é algo tão importante assim.

"O que muita gente não entende é que a tecnologia de realidade virtual, hoje, é relativamente barata", ele me falou. "[Essa tecnologia] é basicamente [feita de] lentes muito boas, software muito inteligente e telas de alta definição, que é como a tecnologia móvel. É uma repaginada muito esperta da tecnologia que já recebeu muito investimento, o que derrubou os preços ridiculamente. Antes, realidade virtual era pesada e cara para produzir, mas agora isso é basicamente um celular com um vidro bom em termos de fabricação. Isso pode ser feito em grande escala. Então, acho que isso tem uma chance. É preciso atingir um ponto de preço baixo, mas acho que a realidade virtual tem a chance de fazer o que o Wii fez e trazer essa incrível tecnologia de ficção científica para o público. Estou muito ansioso por isso."

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Assim como Sam Watts, da Tammeka Games, de Brighton, cujo jogo Radial-G: Racing Revolved foi criado primariamente para o Rift. "Claro, esperamos um lançamento comercial do Oculus Rift CV1 [o modelo para consumidor] em 2015. A Oculus disse que estamos a meses, não anos, do lançamento; então, tenho certeza de que vamos ver alguma coisa. Com mais de um headset de RV em andamento, é provável que mais de um chegue ao mercado em 2015. Mas vemos o plano da Oculus como a mesma abordagem da Apple: ser o aparelho mais popular e conhecido para que todo mundo se refira aos headsets de RV como um 'Oculus Rift', assim como os MP3 players geralmente são chamados de iPod independentemente do fabricante."

Watts concorda com o desenvolvedor de Thomas Was Alone, Bithell, quando se trata dos avanços tecnológicos oferecidos por esses headsets de RV emergindo agora: isso não é algo tão longe do que já temos. "A tecnologia não é exagerada ou estranha demais para não ser aceita nas casas comuns", ele afirmou. "Quem é contra RV já experimentou isso? Acho que quem experimenta é imediatamente fisgado, e sei que quero tentar mais demos e experiências. Pouca gente acha isso um pouco demais, mas há uma escala de conforto com todos os softwares e experiências. Como toda nova tecnologia, sempre teremos luditas que querem descartar e desdenhar da tecnologia, mas agora o mercado está pronto e o hardware está disponível para quem quiser tentar.

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"Vimos mais de 2 mil pessoas jogarem a demo de Radial-G: Racing Revolved, sendo que a maioria nunca tinha usado ou experimentado RV ou o Oculus Rift antes, e menos de 30 tiveram de parar e retirar o headset em 30 segundos. Tudo o que podemos dizer – e é por isso que a RV tem de se tornar popular – é: 'Experimente e descubra por você mesmo'. Mas esse é o X do problema encarado pela RV: você precisa experimentar para entender. Não dá para assistir a um vídeo de outra pessoa usando e não dá para assistir a um vídeo de visão dupla de um jogo rodando no Oculus Rift. Você tem de experimentar; então, temos que ter um monte de pods de demonstração em lojas por aí para que isso se torne um sucesso com os jogadores comuns."

Radical G: Racing Revolved, da Tammeka, desenvolvido para OculusRift.

Realidade virtual provavelmente será o único desenvolvimento significativo em termos de hardware em 2015. Isso será "o lar dos novos jogos e ideias mais espetaculares", segundo jornalista de games Jon Hicks. Mas que isso vá acontecer nos próximos 12 meses – bom, o diretor criativo da Mind Candy, Michael Acton Smith, não tem muita certeza: "O novo Oculus é realmente sensacional, mas, mesmo estando otimista com o potencial da RV de transformar várias indústrias, não apenas a do entretenimento, isso não vai realmente começar a ser viável para o consumidor até pelo menos 2016". Quanto aos consoles que você já conhece, mesmo os que já estão por aí há mais de uma década, eles não vão a lugar nenhum em 2015.

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"Acho que vamos ver um foco mais concentrado nos novos consoles em 2015", destacou Bithell, que atualmente está desenvolvendo o título Volume, com uma temática Robin Hood, para PS4, Vita, PC e Mac, "mas o Xbox 360 e o PlayStation 3 ainda vão estar aqui. Eles vão ficar embaixo das TVs por muitos anos ainda".

Wu concorda: "Aposto que esses consoles vão ficar aqui durante todo 2015. O que estamos vendo agora é que os desenvolvedores não estão dispostos a apostar completamente nesta nova geração: eles escolhem dividir a diferença; então, você sempre tem o mesmo jogo para 360 e Xbox One. Veja Forza Horizon 2: o One tem sombras mais bonitas, texturas de maior resolução e algumas diferenças de partículas, mas isso está crescendo. É por isso que digo que, se você quer comprar um novo console agora e já tem um PS3 ou um 360, compre um Wii U, porque todos os grandes jogos ainda estão saindo para os sistemas antigos."

O Wii U da Nintendo, amado pelos donos (como eu), tem passado por maus bocados por ser de pouca potência comparado ao PS4 e ao One, e é permanentemente o console atual menos vendido da Sony. Com o One pegando velocidade agora – as vendas da máquina da Microsoft foram maiores que as da Sony antes do Natal –, será que a Nintendo corre o risco de ficar para trás completamente em 2015 e com ainda mais problemas se a Steam Machine tiver um impacto genuíno no mercado de consoles? Para Bithell, ninguém devia se preocupar.

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"Não acho que esse console esteja em competição direta com ninguém", ele opinou. "O Wii U é um aparelho incrível para jogar alguns jogos simplesmente fantásticos. Então, não acho que ele está na mesma corrida – para mim, ele não está competindo com o PS4 e o Xbox One. O Wii U é um hardware adorável para um tipo muito específico de jogo." Wu – cujos projetos para 2015 incluem um título de ficção interativa "similar ao Danganrompa, uma história que você joga e na qual pode agir" – não está tão confiante, mas não acha que a Steam Machine vá ter qualquer papel no futuro do competidor atual.

"A Nintendo é o azarão agora, mas 2015 tem jogos como Splatoon chegando para Wii U, o que pode ser algo realmente grande para eles", ela me disse. "Quanto a Steam Machine, tenho de ser honesta: acho que é uma missão suicida. O custo adicional de desenvolver para Linux é algo completamente impraticável. O custo baixo dos jogos no Steam também é um problema – aqui temos de desenvolver para um novo sistema operacional, a um custo maior, quando o consumidor está acostumado a pagar o mínimo. Não vejo um mercado para isso. Adoraria estar errada, mas isso me parece uma missão suicida." Bithell é mais otimista: vai trazer Volume para a Steam Machine "mais tarde".

Trailer de Monument Valley: Forgotten Shores.

Um dos grandes sucessos para aparelhos móveis em 2014 foi Monument Valley, feito pelo estúdio ustwo, de Londres. Mas recebi muitas avaliações de usuários irritados quando os desenvolvedores ousaram (!) cobrar, em novembro, US$ 2,25 (!!) pelas fases extras Forgotten Shores. O que tem menos a ver com a qualidade do jogo – que é maravilhoso, aliás –, e mais com a expectativa do público crescente dos aparelhos móveis de ter algo de graça, um resultado do sucesso do modelo "grátis para jogar", como visto em jogos do tipo Clash of Clans e Candy Crush Saga.

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"Não podemos culpar apenas o consumidor por esse comportamento", frisou o diretor de jogos da ustwo, Neil McFarland. "A economia das lojas de aplicativos é estranha, mas também é fluida, o que significa que os desenvolvedores têm a oportunidade de tentar novos modelos, novas maneiras de se envolver com os jogadores e de cobrar pelos jogos. A indústria da música sofreu nas mãos da pirataria e mudou por causa do streaming, e a mesma coisa vale para o cinema. Os videogames agora encaram desafios similares por causa do preço baixo cobrado antes e, mais recentemente, com os modelos grátis para jogar. O que significa que vivemos em tempos econômicos muito interessantes."

Então 2015 vai ver mais desses jogos casuais lotados de microtransações para o mercado dos aparelhos móveis? Sim, claro, porque o modelo funciona. Mas jogos do tipo Monument Valley, lançamentos da Simogo (incluindo The Sailor's Dream) e até Hitman GO, produzido pela Square Enix, mostram que jogos "premium" para aparelhos móveis podem vender muito, encorajando uma maior criatividade no mercado.

"Espero que projetos mais ambiciosos sejam colocados em prática", reiterou McFarland. "Os desenvolvedores precisam sentir que podem contar com os aparelhos móveis para entregar um retorno financeiro realista para seus jogos a fim de que eles possam realmente se comprometer com títulos mais ambiciosos. E espero ver uma maior confiança em 2015. Acho que todos esperamos fazer declarações significativas e nos ver como criadores sérios num meio incrivelmente empolgante e importante. Os jogos nos aparelhos móveis podem ter propriedades únicas: é uma forma incrivelmente estimulante e vibrante de arte."

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A Mind Candy se formou nessa área "grátis para jogar" ao ter lançado Moshi Monsters Village em maio de 2014; seu recente sucesso para iPad, World of Warriors, também apresenta uma variedade de compras em dinheiro de verdade, disponíveis depois que você adquire o jogo de graça. "O mercado dos aparelhos móveis é brutalmente competitivo", disse Acton Smith, apontando também que World of Warriors irá além dos aparelhos de touchscreen em 2015: "A franquia tem um coração digital, mas também vai se espalhar offline com cartas de troca, livros, brinquedos, roupas e assim por diante. Acho que vamos ver mais jogos de aparelhos móveis crescendo para além disso – e franquias offline".

World of Warriors, trailer do jogo.

Sobre o tópico de franquias, 2014 não viu nenhuma digna de nota emergir para PS4 ou Xbox One. "Não vimos nada tão novo e influente como Gears of War foi na geração passada", destacou Hicks, "mas 2015 pode ser o ano da mudança". Já sabemos sobre Victory, o novo Assassin's Creed de 2015 que se passa na Londres vitoriana, mas essa linha de produção de títulos da maior franquia existente pode realmente ser sua ruína? Wu acha que o estúdio de Assassin's Creed, a Ubisoft, encara uma incerteza neste ano.

"Eu me preocupo muito com a Ubisoft. Eles conseguiram faturar em 2014, mas acho que a empresa prejudicou algumas de suas maiores franquias. Eles lançaram Watch Dogs, e muita gente reconhece que isso realmente não representou nenhuma inovação. Assassin's Creed de 2014 foi um desastre. Então, estou seriamente preocupada com a Ubisoft em 2015. Eles precisam tirar suas equipes desses cronogramas de produção ridículos e voltar ao básico, que é entregar bons jogos. Veja a EA também: eles prejudicaram a marca Peggle com Peggle Blast. 2014 foi o ano em que alguns dos maiores estúdios danificaram suas marcas mais importantes."

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Wu, Bithell e Hicks acham que o caminho do meio, entre os grandes estúdios como a Ubisoft e empresas menores, vai encolher ainda mais neste ano. "A ascensão de desenvolvedores independentes vai continuar, e a definição de 'indie' será colocada sob mais e mais pressão", disse Hicks, que está trabalhando no evento Rezzed, que acontece em março. "Equipes indie vão continuar na vanguarda – um espaço ocupado por editores de médio porte dez anos atrás."

Bithell viu seu próprio orçamento de produção crescer depois do sucesso de Thomas Was Alone, permitindo que ele juntasse uma equipe maior para Volume. "Você vai ver mais equipes de dez ou 20 pessoas fazendo jogos que não são como os produtos enormes de mundo aberto, como os da Ubisoft, mas que, ao mesmo tempo, têm muita substância, são bonitos e levam o hardware além", ele profetizou. "Mas acho que as pessoas sempre vão querer os jogos grandes, além dos estranhos e exotéricos em que os estúdios maiores não vão querer se arriscar."

No Man's Sky já é um dos títulos indies mais hypados de 2015.

"O eixo do desenvolvimento de jogos não é mais indie versus triplo A", explicou Wu. "É uma equipe de 20 pessoas versus uma equipe de muitas centenas. No Man's Sky, por exemplo – a equipe é muito pequena se comparada com o tamanho do time que trabalhou em Call Of Duty. Vamos continuar a ver uma verdadeira bifurcação nos riscos que os estúdios estarão dispostos a aceitar. Gostei de Call Of Duty: Advanced Warfare, mas é um jogo que não se arrisca em nada. Então, são os estúdios menores que vão continuar a abraçar inovações, trazer novos mecanismos e experimentar. Daqui para frente, acho que a mensagem é clara: se você quer uma experiência de jogo prazerosa e comprovada, que sabe que vai oferecer uma certa linha de diversão, procure os triplos A como Far Cry e Grand Theft Auto. Se você está procurando jogos que levam a indústria além, procure desenvolvedores indies. São esses que vão se arriscar."

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E, mesmo com toda a antecipação por novos games e novas oportunidades de jogo em 2015, a indústria ainda tem que superar o GamerGate.

"Eu estava dando uma entrevista para uma [estação de] rádio na Nova Zelândia", contou Wu, que é um dos principais alvos de ódio associado ao movimento GamerGate, "e a entrevistadora claramente não jogava. Nas perguntas que ela estava fazendo, ficou claro que os ataques contra mim e Zoe Quinn reforçaram ainda mais cada esteriótipo negativo dos gamers para ela. E isso realmente me magoou, porque sou apaixonada por videogames e quero que isso seja tratado com respeito, como uma forma de arte. Há algo muito triste nisso: as ações do GamerGate arrastaram a reputação dos gamers mais de uma década para trás. Acho isso péssimo."

Para Bithell, o GamerGate é uma "dor crescente", algo que sempre vai acontecer enquanto os videogames se tornam uma preocupação realmente mainstream. "Atualmente, a maioria das pessoas joga", afirmou. "Temos um gamer na Casa Branca. Isso aconteceu, isso já é mainstream e só vai se espalhar ainda mais em 2015. É parte da cultura. As pessoas que achavam videogame besteira morreram, e as crianças que amavam videogames se tornaram adultos. Acho o GamerGate interessante, porque é uma reação a algo muito positivo, e legal, mas não acho que isso causou danos duradouros."

Torcemos para que ele esteja certo. Provavelmente, os videogames deste ano serão bem parecidos com o que eram em 2014, mas, com certeza, podemos passar com menos ódio e mais amor o ano em que esperamos por títulos como o novo Zelda, Bloodborne, The Witcher III: Wild Hunt, Uncharted 4, Scalebound, Batman: Arkham Knight, Rime, No Man's Sky, Oriand the Blind Forest, Final Fantasy XV, Volume, Hotline Miami 2: Wrong Number, Halo 5: Guardians, Persona 5, Splatoon, um novo Star Foxe. Bom, tem muita coisa.

Pode chamar de brinquedo, pode chamar de cultura, pode chamar de distração enquanto você espera o ônibus – seja qual for sua visão dos videogames, eles serão ainda mais populares em 2015.

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Tradução: Marina Schnoor