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O Racionamento de Cores do Allan Siber

Uma nova exposição e proposta do Allan Sieber

O quadrinhista gaúcho Allan Sieber, de 41 anos, começou sua trajetória publicando o zine “Gloria, gloria aleluia” e as tiras “Bifaland”, mas foi por meio da animação “Deus é Pai” que alcançou a fama nacional. Com vozes de Edu K e Otto Guerra, o curta mostra uma sessão de terapia familiar entre Jesus e Deus, e conquistou vários prêmios no Brasil e exterior. No inicio dos anos 2000, Allan se mudou para o Rio de Janeiro, montou a produtora Toscographics, lançou vários outros curtas de animação, além de livros com a compilação de suas tiras e quadrinhos publicados em veículos como o jornal Folha de São Paulo e as revistas Playboy, Sexy e Tarja Preta.

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Nesta quinta-feira, 8 de Agosto, Allan inaugura mais um capítulo de sua trajetória, com a abertura de “Racionamento de cores” na loja e galeria La Cucaracha. Trata-se de uma exposição de 12 desenhos inéditos, de 40cm x 28cm, feitos em aquarela e pastel oleoso. O nome é devido à restrição que Allan Sieber se autoimpôs: usar apenas três cores. Conversamos com o artista sobre a exposição e sua trajetória recente.

VICE: Como surgiu a história da autoimposição de limite de cores?
Allan Sieber: Na verdade, todas as outras cores acabaram. Sou um artista humilde e aprendi a trabalhar com pouco. Até os 34 anos, só tinha um compacto do Djavan para ouvir. A miséria traumatiza, mas educa.

Pela primeira vez, você está fazendo uma exposição que não envolve tiras ou cartuns, isso quer dizer que não vamos rir dos desenhos?
Talvez um riso nervoso. Mas, enfim, haverá bebida o suficiente para todos caírem na gargalhada.

No release da exposição são citados vários artistas que influenciam essa "nova fase" de seu trabalho, comente um pouco sobre eles.
Tenho gostado muito do David Shrigley, um escocês doente que usa muito texto junto com seus desenhos. Não é cartum, não é quadrinho, é outra coisa. E tudo muito mão pesada. Tem o Guilherme Pilla também, um gaúcho que é o "pai" de todos nessa mais ou menos nova cena de desenho no Brasil. Ele é selvagem e sempre jogou seu desenho lá em cima, vôos realmente muito altos. Infelizmente, ele tem produzido pouco nos últimos anos. Mas não chego aos pés de nenhum dos dois, sou só um cara que desenha mal.

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Sei que é uma gafe pedir para o artista comentar seu próprio trabalho, mas, quem diabos é Álfaro?
Álfaro é a mistura de Alvaro com Alf. É uma obra que só pode ser fruída em toda sua intensidade com o uso de drogas. Oh yeah, babe.

Recentemente, temos visto um monte de tiras sobre a paternidade. Como isso tem afetado seu trabalho e humor, ou mau humor?
Quando seu filho fica berrando a noite toda, sem dúvida, isso acaba transparecendo em seu humor no dia seguinte. Tem um choro que vem das profundezas do inferno do qual levo umas 6 horas para me recuperar.

O único cara que realmente ficou rico e famoso fazendo quadrinho underground foi o Robert Crumb. Aqui no Brasil, temos exemplos como o Mutarelli, que fez quadrinhos a vida inteira e só foi reconhecido quando migrou para a literatura e o cinema. Por que esse mercado é tão maldito? Só no Brasil que é assim?
Não, infelizmente, quadrinho não vende bem em lugar algum, tirando França e Bélgica. Estamos falando de quadrinhos adultos, não de super-herói, mangá ou infantil. Daniel Clowes, por exemplo, talvez o maior quadrinista da atualidade, vende pouquíssimo. Acho que ele só chegou a ver uma grana decente com a adaptação dos álbuns dele para o cinema. A norte-americana Fantagraphics, a maior e mais legal editora do mundo, está sempre para fechar as portas. As pessoas não levam quadrinho muito a sério talvez por culpa dos próprios quadrinistas que, na maioria das vezes, ADORAM cultivar uma aura miserenta. Tomar cerveja quente em copo de plástico, esse tipo de merda.

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Tosco TV é a série de animação mais maneira e ousada da história da animação brasileira. Conte um pouco do processo da animação. Vai ter continuação?
Chamei os chapas MZK, Schiavon, Arnaldo Branco e Fabio Zimbres, e quase os obriguei a entrar no projeto. Fabio achou uma merda e MZK também não gostou muito. É dura a vida. Apesar dos problemas que tive com as mulas incompetentes do estúdio que animou a bagaça, gostei do resultado geral por seu conteúdo. Tem coisas muito engraçadas mesmo. Os roteiros do pessoal ficaram muito bons. A saga do Mãos Trocadas então… Aparentemente, o canal Brasil achou uma merda também, já que não renovaram. Gostaria de vender o projeto para outro canal, vamos ver. VICE?

Você está trabalhando em algum álbum ou projeto de animação atualmente? O que a Toscographics anda aprontando?
Acabei o piloto da série "Mar de Paixão", uma novelona mexicana em animação com todos os clichês: núcleo rico e núcleo pobre, tramoias, gostosas, etc. Roteiro de Arnaldo Branco e André Dahmer. Ficou legal mesmo, talvez a melhor coisa que saiu da Tosco em anos.
No final do mês, lanço um livro pela Mórula, uma editora muito boa aqui do Rio. "Perca amigos, pergunte-me como" é o nome da obra. Será um apanhado de meus cartuns nos últimos anos. Mais um livro que minha mãe não vai abrir.

Por que você demorou tantos anos para começar a se desenhar parecido com sua verdadeira imagem?
Porque só agora cheguei ao auge de minha beleza. Estou no apogeu. Esses dias, passei por uma obra e várias pedreiras assoviaram para mim e elogiaram meu traseiro.

Serviço:

La Cucaracha

Rua Teixeira de Melo 31 Loja H – Ipanema – Rio de Janeiro

Hoje a partir das 19:00. Fica até o dia 4 de setembro.