O Robert Mugabe Já Não Deveria Ter Morrido?

Sua Excelência, o Presidente Robert Mugabe, tem comandado um regime de medo e violência no Zimbábue há 32 anos. O fato de que ninguém votou nele é inteiramente irrelevante no nível de corrupção política do meu país. Mugabe continua fazendo o que quer – ele atrasa e adia as eleições como for conveniente pra ele e libera os resultados só depois que já manipulou os votos. Agora, o homem que uma vez disse “me deixem ser o Hitler vezes dez”, está mostrando o dedo do meio pro câncer e desafiando os WikiLeakers que diziam que ele estaria morto em 2013.

Essa menininha não é muito fã do Mugabe. 

Quatro anos atrás, ele assinou relutantemente um acordo de divisão de poder com o líder Morgan Tavangirai. O que acabou ajudando o Morgan, considerando que os capangas de Mugabe penduravam ele de uma janela do décimo andar quase todo dia, o prendiam e torturavam regularmente, e mataram metade da sua família antes que fossem persuadidos a sentar na mesa de negociação.

Desde então, as coisas têm melhorado muito lentamente. As lojas estão gradualmente sendo abastecidas, e comodidades diárias não são mais um luxo. Exceto eletricidade e água encanada, que não são coisas assim tão necessárias, né?

As filas pra comprar combustível passaram de semanas de espera a simplesmente inexistentes. O dólar do Zimbábue foi substituído pelo americano e agora as notas de trilhões de dólares são até engraçadas. Mas na época, trabalhar milhares de horas e carregar sacos de dinheiro por aí não era tão divertido quanto parece. Era difícil acompanhar a cotação, então quando os número ficaram compridos demais, eles simplesmente cortaram seis zeros, imprimiram dinheiro novo e começaram tudo outra vez. Hiperinflação. A nova moeda é muito mais maleável, o lado ruim é que os moleques da rua não podem mais ser milionários, e isso é triste.

A epidemia de cólera de 2008 também foi esquecida. Mugabe nega o fato até hoje, mesmo que seu próprio pessoal tenha caído (de cólera) ao redor dele como se fossem moscas. Mesmo as invasões de terra, em que lazarentos pró-Mugabe queimaram ou destruíram fazendas depois de espancar brutalmente seus donos brancos, estão se tornando parte de uma história nacional particularmente escrota (talvez porque não tenham sobrado muitas fazendas).

Os “camponeses africanos” que o presidente prometeu que seriam beneficiados com a reivindicação das fazendas, eram, na verdade, as famílias e amigos dos gordos ministros, mas agora Mugabe transferiu sua lealdade pros chineses.

A influência chinesa é aparente no Zimbábue. No centro da cidade há um monte deles nas ruas. Não sei exatamente o que eles fazem, mas parecem estar sempre ocupados, o que não é uma surpresa se você pensar que Mugabe colocou quase a maior parte da economia e dos recursos naturais nas mãos da China. O resultado são greves constantes dos trabalhadores, reclamando das péssimas condições de trabalho e de abuso físico. Ah, e a quase extinção da população de rinocerontes. O Zimbábue não é bem uma colônia, mas está ficando difícil distinguir sua independência. E isso é ruim porque a gente precisa dessa riqueza pra reinvestir no Zimbábue antes que todo mundo morra de pobreza e só sobre outra China.

A influência chinesa também pode ser vista nos métodos de intimidação que prosperam quando as eleições se aproximam. Diferente do resto da África, onde massacres com facões e soldados mirins são os modos de ataque preferidos, a milícia de Mugabe usa tortura lenta pra obter os melhores resultados.

Eles têm recebido ordens de tornar a vida nas áreas anti-Mugabe um inferno, e se gabam de assassinatos e estupros. Um notório jovem líder da milícia, que atende pelo apelido criativo de “Jesus Negro”, explica que é preciso “ensinar uma lição à comunidade. Ela precisa ser reeducada. Queremos que as pessoas venham até nós e confessem [que não apoiam Mugabe]… Você quer que o governo mude? Então devemos te bater e te chutar até a morte.”

Isso não é exagero. Os bandidos de Mugabe usam barras de ferro pra bater nos ossos das nádegas, queimam as solas dos pés e enfiam atiçadores em brasa na garganta dos prisioneiros, e também eletrocutam as partes íntimas dos homens. Eles vão até escolas rurais e queimam as mãos fechadas das crianças com óleo quente pra que elas fiquem permanentemente no formato do punho simbólico da ZANU-PF, o partido deles. O que, muito estupidamente, está incapacitando aqueles que vão votar no futuro do país, então só Deus sabe que tipo de uso eles esperam que isso tenha.

_Um cheque de _Z$253.680.000.000.000.000,00.__

Durante esses quatro anos de consertos intermináveis e divisão de poder, a ZANU-PF e o partido de oposição, o MDC-T, estiveram elaborando uma constituição pro novo Zimbábue. Um referendo constitucional deveria ter acontecido em junho de 2011, mas Mugabe o adiou pra outubro. Depois adiou de novo por mais um ano. O mês passado deveria ter sido o momento em que o povo do Zimbábue tanto esperou, mas ele decidiu, de novo, que ainda não estava pronto.

Ele se recusou a concordar com a legalização da homossexualidade, com o casamentos entre pessoas do mesmo sexo e com a cidadania dupla. Mais importante, ele se negou a nomear um companheiro de chapa. Isso seria basicamente como nomear um sucessor e, claro, o velho é viciado em poder, então não ficou com muita vontade de fazer isso.

Transporte de cabras.

As pessoas do Zimbábue estão desesperadas pra derrubar esse tirano do seu pedestal e esperam pacientemente pela chegada das sempre adiadas eleições presidenciais. Mas com as eleições sempre vêm campanhas de violência, mutilações e massacre. Pouco tempo atrás, os boinas vermelhas (a impiedosa quinta brigada treinada na Coreia do Norte) podiam ser vistos entediados na traseira de suas caminhonetes sem nada pra fazer. Mas a brutalidade ressurgiu neste ano se antecipando às urnas de votação, e isso tende a piorar com os adiamentos. Eu moro atrás de um campo de “reeducação” do ZANU-PF, o que significa basicamente que eu durmo com os sons dos gritos, e agora tenho mais um ano disso pela frente. E pra quê? Pra assistir outro banho de sangue quando Mugabe decidir que quer muito vencer as eleições desta vez.

Se por algum milagre Mugabe não vencer, ninguém sabe o que esperar. O cara não é nenhum santo, mas um mal ainda maior pode se espalhar com a sua derrota. Especula-se que Mugabe não passe de um fantoche hoje em dia. Ele está velho e se comporta como uma marionete pros seus militares gorduchos. Existem rumores de que ele até já morreu e que o povo do Zimbábue tem obedecido a dublês há muitos anos. Um cara famoso disse uma vez: “É preferível um diabo que você conhece do que um que você não conhece.” Talvez a gente devesse ouvir esse cara.

De qualquer maneira, está claro que Mugabe muda conforme o vento. Isso é o mais perto que ele já chegou de perder seu império e todos esses adiamentos são uma tentativa frenética de se agarrar nas beiradas dele. Ele tem as costas quentes desde sempre, mas sua comitiva mortal e sua artilharia insana não podem protegê-lo do futuro. Sua habilidade de prevaricar é incomparável, e o modo como ele se esquivou da morte por tantos anos deixou seu povo e seu país no chão. Já é hora do Mugabe ir pro inferno.

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