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Sexo

Os homens que usam antidepressivos para prolongar a ereção

Longe do consenso dos médicos, tem uma rapaziada tomando remédios pra depressão e ansiedade como forma de tratar a ejaculação precoce.

Bill Monaghan estava familiarizado com o Zolof (remédio vendido aqui no Brasil como Zoloft) antes de começar a experimentar com o medicamento. Ele tinha usado a droga na escola primária para tratar "um caso bem ruim de TOC", mas parou com o inibidor seletivo de receptação de serotonina (ISRS ou SSRI, a sigla em inglês) com ajuda apenas de exercícios.

Mais de uma década depois, o morador de South Jersey queria voltar a usar um ISRS por uma razão diferente. Ele estava gozando rápido demais no sexo.

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Leia: Crônicas da ejaculação precoce

"Isso me deixava louco", disse Monaghan, hoje com 25 anos. "Basicamente, eu ficava pensando no meu pau o dia inteiro".

SSRIs, uma classe de antidepressivos, trata depressão e transtornos de ansiedade limitando a reabsorção de serotonina, aumentando assim a quantidade de serotonina disponível para o uso do corpo. Mas isso tem uma série de efeitos colaterais — sendo um deles a diminuição da libido e dificuldade para atingir o orgasmo. Para a maioria dos usuários, isso é um saco, mas para homens como Monaghan, isso é uma bela de uma oportunidade.

Monaghan foi a um urologista e a alguns psiquiatras que receitaram "várias merdas" que ele "não precisava estar usando", nenhum deles passou o Zolof. Finalmente, ele encontrou um psiquiatra que apreciou sua sinceridade.

"Eu tinha imprimido várias coisas [sobre o tema]", disse Monaghan. "Eu disse [para o psiquiatra]: 'Há estudos médicos de uso dessa medicação para isso e quero experimentar. Olha, tenho TOC, então o seguro vai cobrir e blá, blá, blá. Podemos matar dois coelhos com uma cajadada só e é isso que quero fazer'. Além de 'Não quero mentir para que você me prescreva isso'. Fui completamente honesto de cara".

O médico receitou Paxil, o nome comercial de um ISRS chamado paroxetina e, nos meses seguintes, Monaghan viu sua ereção passar da marca de 30 segundos para mais de dez minutos no sexo.

Leia: Goze, mas não jorre

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Patrick Jern, psicólogo e professor da Abo Akademi University da Finlândia, disse que os efeitos dos ISRSs na ejaculação parecem um avanço para a medicina sexual. "Isso vem sendo receitado para tratar ejaculação precoce", ele disse, "e [o medicamento] tem obtido sucessos".

Mas enquanto alguns médicos discordam que os estes medicamentos são capazes de atrasar mesmo a ejaculação e conter o impulso sexual, outros preferem ser mais cautelosos sobre o uso disso na medicina sexual. A maioria dos remédios têm vários efeitos colaterais negativos num curto prazo (ganho de peso, fadiga, náusea) e efeitos colaterais de longo prazo desconhecidos. Ainda assim, vários fóruns no Reddit reúnem relatos do impacto dos SSRIs na vida sexual dos homens.

"Honestamente, me sinto um monstro agora com quanto tempo consigo aguentar", escreveu um usuário, que recebeu a receita de uma droga chamada Cipralex apenas para sua ejaculação precoce. "Consigo proporcionar orgasmos incríveis para essa garota e é incrível saber que posso realmente satisfazê-la".

A droga tem um impacto em seu humor, ele disse, mas ele acha que o aumento de sua confiança vale a pena.

"Muita gente próxima me disse que pareço deprimido e não no meu normal", ele disse. "Essa é a única razão para pensar em diminuir a dose, mas é difícil porque estou muito feliz com a minha performance na cama. Claro, a decisão certa seria parar de tomar o remédio completamente, mas a performance parece boa demais para ser verdade para parar".

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Jern, um psicólogo finlandês, realizou um estudo em homens que tomavam dapoxetina para tratar ejaculação precoce. Ele descobriu que 70% acabavam parando de tomar a droga, geralmente citando efeitos colaterais, com metade desses usuários relatando náuseas e um quarto deles relatando diarreia.

Dapoxetina é mais conhecida por ser o único ISRS com permissão de venda em muitos países para tratar ejaculação precoce. Como o Viagra (que também se popularizou por seus efeitos colaterais – o remédio foi originalmente desenvolvido para tratar hipertensão), a dapoxetina pode ser tomada algumas horas antes do sexo e sai do sistema um pouco depois.

No entanto, a droga não foi aprovada pelo FDA (Regulation Assistance, uma espécie de ANVISA dos EUA) para esse uso nos EUA (como a aplicação disso ainda está pendente, o FDA não forneceu mais explicações). Apesar da falta de aprovação, outras drogas contendo o mesmo composto químico da dapoxetina têm surgido nos EUA. Em outubro de 2015, o FDA recolheu as drogas Rhino 7 3000 e Rhino 7 Platinum 3000, suplementos sexuais vendidos sem receita que continham dapoxetina.

"Estudos têm mostrado que antidepressivos aumentam os riscos de pensamentos e comportamentos suicidas em crianças, adolescentes e jovens adultos comparado ao placebo", escreveu o FDA no documento pedindo o recolhimento dos medicamentos. "Portanto, consumir esses produtos apresenta um risco para a saúde que pode ameaçar a vida [do usuário]".

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Empresas farmacêuticas não podem vender suas drogas para outra finalidade a não ser a do seu uso pretendido, mas médicos dizem prescrever esse tipo de droga para outros casos quando acham necessário. O Dr. T. Mike Hsieh, urologista e professor da University of California San Diego, diz que às vezes prescreve ISRSs para pacientes como ejaculação precoce, mas apenas nos casos mais graves e depois de alguns exames.

"Se um casal está tentando ter um filho mas o cara não consegue se segurar — ejaculando durante as preliminares, por exemplo — como ele vai engravidar a esposa?", disse Hsieh. "Então há casos específicos, além de manter uma vida sexual saudável. Eu uso ISRSs e outras aplicações tópicas entorpecentes para tentar ajudar essas pessoas, mas também tento identificar qualquer tipo de depressão ou transtorno bipolar subjacente e só aí, se houver alguma complicação, faço a pessoa passar por um psiquiatra para ter certeza de que ela não terá problemas".

Ainda assim, Hsieh se preocupa com o uso de ISRS, porque a maioria de seus pacientes — muitos deles universitários — estão preocupados com uma percepção em vez de um problema físico real.

"Quando um universitário chega aqui e diz que consegue aguentar 20 minutos, eu digo: 'Olha, essa medicação só ajuda a ganhar de meio minuto a dois minutos e meio", disse Hsieh. A duração média da penetração sexual é difícil de definir, mas estudos mostram variações de três a sete minutos.

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Hsieh acredita que essa preocupação em homens jovens que acham que têm ejaculação precoce é resultado do aumento da disponibilidade de pornografia.

"Eles não entendem que esses atores pornô usam injeções e várias outras coisas para manter a ereção durante as filmagens", diz Hsieh. "Mas quando um garoto de 15 ou 20 anos começa a assistir esses filmes, ele começa a comparar sua própria performance ao que viu nos vídeos. Claro, ele se sente inadequado. Mesmo com pesquisas que dizem que dois terços dos homens têm ejaculação precoce, se você colocar uma definição mais restritiva nisso, o número será bem menor".

Mesmo o uso de ISRS, disse Hsieh, pode não ajudar um problema sexual que é estritamente físico.

"ISRS tem sido usado para tratar ansiedade, então parte do efeito é que isso acalma os caras um pouco", ele disse. "Alguns homens não têm realmente problemas de ereção, mas se você receita um pouco de Viagra eles pensam 'Agora estou pronto'. Há um estranho efeito placebo e anti ansiedade, e acho que isso ajuda".

Mesmo Monaghan, que apoia abertamente os ISRSs quando usados corretamente e cujo ISRS escolhido, a paroxetina, tem taxas de descontinuação menores segundo o estudo de Jern, alerta sobre o mau uso.

"Não tome essas pílulas do nada", alerta. "Essas são drogas mentais poderosas e, se você não tem um problema e tomar isso, pode acabar criando um".

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