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Por que este Filme de Bollywood Desencadeou um Enorme Debate sobre Liberdade de Expressão na Índia?

Segundo críticas, o longa 'MSG: The Messenger of God' é acusado de ser proselitista por fazer propaganda para uma polêmica seita religiosa do país.

Na terça-feira, Pahlaj Nihalani foi apontado como chefe do Conselho de Censura da Índia depois de sua predecessora, Leela Samson, renunciar citando "interferência, coerção e corrupção". A causa: o Tribunal de Apelação de Certificação de Cinema anulou sua decisão de proibir a exibição nos cinemas do filme MSG: The Messenger of God.

MSG: The Messenger of God é um título péssimo para um filme que não é sobre Moisés entregando comida chinesa (me liguem, produtores), mas o verdeiro problema é que o protagonista atrapalhado do filme é uma versão mal disfarçada do ator que o interpreta. O ator é o chamado "Guru Joiado", ou Gurmeet Ram Rahim, o líder do Dera Sacha Sauda (DSS), uma enorme e obscura organização espiritual que se diz a "confluência de todas as religiões" e que tem se envolvido em polêmicas sem fim por (entre outras coisas) supostamente estocar armas ilegais e castrar centenas de membros.

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Mas nada disso fica óbvio no trailer inócuo do filme que mostra o "Guru Joiado" (que lembra uma mistura do comediante Matt Berry e do lutador Macho Man Randy Savage) sendo atacado por bandidos e os despachando com loucas manobras de moto e golpes no melhor estilo O Tigre e o Dragão. Em outras palavras, deve ser sensacional.

Mas o filme é, sem dúvida, uma parábola messiânica. Ele retrata o guru protagonista como um mensageiro de deus que quase cumpriu sua missão: salvar todos nós do terror das drogas, da prostituição e de outros problemas sociais. Seus inimigos são as forças que usam tais vícios para escravizar a humanidade; depois que ele as derrota, de acordo com o site do filme, ele se torna o "santo que mudou o mundo". Naturalmente, as lições passadas pela história são exatamente as mesmas mensagens que o DSS está tentando espalhar.

O grupo de 67 anos afirma ter 50 milhões de membros ao redor do globo – o que parece meio exagerado, mas seus encontros chegam a reunir mais de 100 mil pessoas. No site, o DSS se descreve como "uma organização de bem-estar social e espiritual que prega e pratica o humanitarismo e a abnegação". O site foca nas boas obras da organização: campanhas de doação de sangue, reabilitação de viciados, promoção do vegetarianismo e até apoio a pessoas transgênero. A marca particular do grupo de apoio a pessoas trans, especificamente eunucos, chamados por eles de "o terceiro gênero", é uma das maiores fontes de controvérsia. No começo deste mês, Gurmeet Ram Rahim foi investigado pela CBI, a agência nacional da lei indiana, por supostamente ter dito aos devotos que "só aqueles que são castrados serão capazes de se encontrar com deus"; depois disso, 400 participantes do culto tiveram os testículos removidos. Mas as coisas ficam mais estranhas ainda.

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O líder e estrela de cinema do DSS é suspeito de dois assassinatos além de ser acusado de estupro por uma seguidora. Há investigações em andamento sobre o assassinato em 2001 de Ram Chander Chatrapati, um jornalista que tentava escrever uma matéria expondo o líder, e a morte do gerente da seita, Ranjit Singh, em 2002. E há o que o Daily Mail India chama de "os exércitos particulares do bom homem" – a milícia do DSS, que teria 8 mil membros e um grande estoque de armas.

Depois de tudo isso, não é surpresa que protestos contra a exibição de MSG tenham acontecido em partes do norte da Índia. O grupo que organizou um dos protestos, a Organização Nacional de Estudantes Indianos (INSO), divulgou uma declaração afirmando que "a intenção por trás da produção do filme era lavar o dinheiro sujo acumulado por Ram Rahim".

A estreia de MSG estava prevista para 16 de janeiro, mas a exibição foi cancelada pelo governo local devido à polêmica. A película continua proibida em Punjab, o Estado indiano com a maior proporção de sikhs, que entraram em confronto com Gurmeet Ram Rahim por causa de uma foto de 2007 na qual o guru estaria zombando dos costumes da religião. Ainda assim, exibições serão permitidas assim que ele for distribuído apesar de um aviso ter sido acrescentado no começo e no final do filme, além de uma palavra da história ter sido censurada.

Gurmeet Ram Rahim afirma que "o único objetivo do filme é espalhar mensagens contra os males sociais do vício em drogas e do feticídio feminino. Não há nada de errado nisso". As bases para a proibição do filme parecem estranhas para os padrões ocidentais de liberdade de expressão. Um censor anônimo que se opôs ao filme explicou à mídia: "O guru se mostra como um deus e o filme parece mais uma propaganda. Além disso, algumas cenas mostram milagres acontecendo que não se justificam pela lógica". Outro frisou que MSG "pode causar um problema de lei e ordem. O filme também… promove superstição e fé cega".

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Críticos de cinema indianos ficaram satisfeitos com a liberação do filme e deram respostas duras para o argumento de "lei e ordem" dos censores, citando a decisão do conselho de certificar o controverso blockbuster PK, atualmente a maior bilheteria do cinema indiano de todos os tempos. O filme satiriza várias religiões, embora tenha gerado polêmica principalmente com os hindus. Ainda assim, o ponto dos censores não é apenas sobre as opiniões de MSG acerca da religião, mas seu proselitismo em relação a uma religião – e uma religião estranha e controversa.

Um blogueiro chamado J. Hurtado comparou o esforço para proibir a exibição do filme com as tentativas de bloquear A Entrevista. Ele escreveu que a liberação da obra foi uma vitória para a liberdade de expressão, mas acrescentou: "Não consigo deixar de pensar qual seria a reação se, digamos, David Koresh fizesse um filme com orçamento de Hollywood e o distribuísse para o público mainstream".

David Koresh pode não ter feito um filme, mas um livro de L. Ron Hubbard foi adaptado em 2000 para o filme A Reconquista, uma ficção científica estrelando John Travolta, com a intenção não tão secreta de transmitir filosofia da Cientologia ao público. (Hoje, A Reconquista é conhecido como um dos piores filmes de todos os tempos.)

No Twitter, defensores do MSG invocaram Charlie Hebdo, criando imagens mostrando Gurmeet Ram Rahim com o slogan "Je Suis MSG". Outros descartaram a polêmica, sugerindo que o filme pode muito bem ser lançado, já que os heróis de Bollywood sempre tiveram poderes mágicos mesmo. Ainda não se sabe que tipo de impacto MSG vai ter ou mesmo se ele terá um lançamento nacional, mas, com uma petição sendo divulgada para proibir a exibição nos Estados de Punjab e Haryana, fica óbvio que a batalha está longe de acabar.

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