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Tomamos Até Pedrada Durante os Protestos de Abertura da Copa em SP

Manifestantes anti-Copa e black blocs saíram às ruas ontem e acabaram colando no ato dos metroviários, que anunciavam num carro de som que "Esses aí não estão com a gente". A polícia não quis saber e meteu bomba e bala de borracha em todo mundo.

Teve Copa, sim, e também teve protesto. O Felipe Larozza, fotógrafo e videomaker da VICE, acompanhou a manifestação que estava marcada para acontecer ontem, às 10h, próximo ao Metrô Carrão, na Zona Leste de São Paulo. Não colou muita gente, mas, mesmo assim, a polícia chegou jogando bomba em que estava ali na concentração, basicamente jornalistas e fotógrafos. A molecada anti-Copa acabou se juntando com o protesto dos metroviários, que não estavam a fim de treta, principalmente quando os black blocs colaram e começaram a queimar coisas. A Tropa de Choque não deixou barato e o bicho pegou. Pelo Twitter, a PM deixou bem claro que se a manifestação avançasse sentido Radial Leste - a principal avenida que leva ao Itaquerão, onde rolaria a abertura da Copa e o jogo entre Brasil e Croácia mais tarde - ia dar merda. E deu. Inclusive, o Felipe voltou para a redação com uma marca de pedrada no peito. Não foi só ele que saiu machucado. Um cara do SBT e uma jornalista da CNN foram feridos por estilhaços de bomba. A seguir, você vê um breve relato e as fotos que ele fez.

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Dessa vez, tudo começou diferente. Saí de casa já com um estranho frio na barriga. Muito tempo esperando o começo da Copa do Mundo para ver o que iria acontecer. A polícia mal deixou rolar a concentração do ato contra a Copa no Metrô Carrão e já chegou metendo bomba de gás. Eu ainda estava montando meu equipamento. Dada a merda, a galera colou no Sindicato dos Metroviários, onde um ato era realizado contra a demissão de 42 funcionários do metrô após a greve.

Na rua Serra do Japi, onde fica o sindicato, a coisa endoidou de vez: piquete, bomba, pedra, borracha, jato d’água, fotógrafos de várias partes do mundo e a rapaziada sendo massacrada.

Para se livrar da presença de manifestantes mais putos da vida e, inclusive, dos black blocs, os metroviários anunciavam pelo carro de som que “Esses aí não estão com a gente!” e coisas do tipo.

Isso deu mais uma carta branca para a polícia terminar o massacre e a treta continuava.

Com zero de conversa, como vinha acontecendo desde o começo, a Serra do Japi foi tomada pela Tropa de Choque.

Logo, um carro de bombeiros chegou para apagar pequenos incêndios causados pelos black blocs. Eu sempre vi os bombeiros como caras legais, que salvam vidas e apagam incêndios, mas o camarada da corporação chegou, apagou o fogo da barricada e, sem pensar muito, virou a mangueira para os manifestantes.

Eu estava literalmente ao lado do bombeiro, e achei que o cara não faria uma merda dessa. Mas ele fez. E é lógico que a rapaziada revidou com pedras. Dei um baita azar nessa hora. Uma das pedras, daquelas grandes e pesadas que se te acertam te fodem, pegou no escudo de um cara do choque que veio socorrer o bombeiro vacilão, resvalou e veio em cheio no meu peito.

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A treta seguiu e logo os metroviários estavam no meio do fogo cruzado. Todo mundo entrou na quadra do sindicato e eles foram claros no discurso. “Não queremos essa briga com a PM. Acertamos nossa saída pacífica para agora e vamos embora.”

Eles convidaram quem quisesse cessar a treta a se juntar a eles, entrar na quadra e se organizar para cair fora.

Os black blocks não receberam isso muito bem e começaram a chamar os metroviários de “entreguistas”, jogaram umas moedas nos caras. Rolou um monte de bate-boca. A galera do sindicato vazou.

Incansável, a molecada do ato teve a seguinte ideia depois disso: “Vamos tomar a Radial Leste e terminar de foder com a Copa”.

A PM não pensou duas vezes. Na real, eles nunca pensam mesmo, e sentaram o dedo.

Com a Radial Leste tomada por bombas de gás lacrimogêneo, eu via famílias completamente chocadas dentro dos carros.

O último refúgio foi o até então aberto metrô Tatuapé. Lá dentro, a coisa ficou feia. Muita criança.

O Choque uma hora cansou e varreu o metrô.

Depois saiu na rua caçando geral.

Um monte de gente foi presa e apanhou ao longo do dia, um monte mesmo.

No final, estávamos em um bar perto do Tatuapé tomando uma cerveja para relaxar os ânimos, contar os feridos e comemorar o gol da Croácia.

Por fim, uma viatura veio chegando até a porta do bar, toda apagada, com dois caras lá dentro de boinas meio abaixadas – cena clássica de pré-enquadro.

A viatura parou na porta do bar. Vi o cara do banco do passageiro tentando olhar para a TV e falei “dois a um, irmão”. Ele me agradeceu com um sorriso e a barca se foi.