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Tecnologia

Ressaca e Confusão Mental no BGS 2013

Colei na maior feira de jogos eletrônicos da América Latina e confesso que esperava mais gente vestida de seus personagens preferidos.

Farming Simulator, isso sim que é jogo de macho.

Sábado, 26 de outubro de 2013, de ressaca, com o peito aberto e a confiança de quem não faz a mínima ideia do que esperar, desço na estação Carandiru do metrô (estação errada, depois fui descobrir) e ando até o Expo Center Norte. A Brasil Game Show é a maior feira de jogos eletrônicos da América Latina, mas afinal, o que é uma feira de jogos? Ela tem algum análogo em outras áreas? Vou citar aqui as feiras parecidas que visitei no decorrer de minha vida: Feira do Verde (nada de drogas, apenas plantas e paisagismo), Feicon (feira de construção), uma de esportes radicais que não me recordo absolutamente do nome, Feira do Livro, Animecon, Expomusic e uma convenção de RPG da qual não sei o nome, mas lembro que fiz amizade com um maluco no ônibus que reclamava do racismo implícito no mundo de J. R. R. Tolkien.

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A galera tava cagando pro Angry Birds Star Wars.

Bom, o que esses eventos têm em comum? Absolutamente tudo. Quase todas essas feiras têm um método comum de chamar atenção do público especializado: as Modelos Promocionais, também conhecidas como Booth Babes. O caso mais sério que presenciei foi na Feicon, onde a Lorenzetti deixou uma modelo de biquíni minúsculo cor de pele tomando banho durante cinco horas seguidas para deleite dos tiozões profissionais da construção. Inclusive, nessa feira, uma modelo deu um folheto de marca de argamassa para o meu pai com seu telefone anotado dentro. Prefiro a ideia romântica de que ela achou meu velho muito bem-apessoado e interessante em vez de achar que ela estava oferecendo algum tipo de serviço especial. Anos mais tarde, descobri que esse tipo de prática é comum e tem nome: Ficha Rosa.

A foto ficou uma bosta, mas não é uma TV essa parada, é um telão MAIOR DO QUE DEUS!

Calor desgraçado, sol rachando o coco e a primeira coisa que noto é a fila desgraçada que se formou às voltas do Expo Center Norte. Ambulantes vendiam água e refrigerante e latão de Skol para os pobres pais que levaram seus filhos gamemaníacos. Segundo relatos, a polícia entrou na dança e começou a expulsar os ambulantes que não conseguiram mais oferecer a tão querida água e refrigerante e latão de Skol aos pobres sedentos, que aguentaram estoicamente seu destino de pais de gamemaníacos. Por meio de contatos influentes e poderosos no mundo dos games, eu consegui entrar com uma credencial de imprensa. Entro no pavilhão e começo a me situar no ambiente.

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Meus velhos trutas do Tibia Br.

Já vou dizer de antemão, por ser um jovem alternativo e descolado e prafrentex, que não me interessavam tanto as principais estrelas dos quatro dias de exposição insana da feira, a saber, a batalha dos gigantes da próxima geração de consoles, Playstation 4 e Xbox One. Não me interessava em absoluto ver a prévia do Call of Duty: Ghosts, caguei para o estande imenso da Eletronic Arts cheio de máquinas rodando o mais novo Fifa. Mas existiam pelo menos dois, talvez três, jogos que me interessavam muito, e consegui jogar um deles, mas logo chego nisso. O que me chamou atenção ao dar uma volta pela feira foi o tamanho e a paixão cega que os visitantes demonstravam pelo que identifiquei como o jogo mais popular na feira, o League of Legends. A longo da feira, era possível ver alguém com um bonezinho de referência a algum personagem de LoL, o que fez eu me sentir realmente velho, já que eu não saquei a referência a princípio, claro sinal de que os anos estão chegando com cada vez mais peso para o papai nerd aqui.

Nada como uma tonelada de alimento não perecível para tornar um evento muito mais brasileiro.

Confesso que eu esperava mais gente vestida de seus personagens preferidos e digo com pesar que o que imperou na feira foi a vestimenta padrão de jovens em qualquer lugar do Brasil: calças sem corte, camisetas pretas, uma mochila mulambenta. Os cosplays que vi, que de fato estava bem trabalhados, pareciam ser serviço de profissionais ligados às marcas: uma moça vestida de personagem de League of Legends, um maluco vestido de protagonista do Assassin's Creed que entrou no personagem de maneira assustadora, metade assassino, metade latin lover de capa de romance de secretária e 100% sensual. Os moleques mais novos faziam fila para tirar foto com ele como uma espécie de Papai Noel Pós-Moderno.

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Fiquei com medo desse cara do Assassin's Creed, mas não pelos motivos planejados.

Eu acho que essa mina tá vestida de alguma parada do League of Legends.

Depois de vagar sem propósito, tirar fotos horríveis de coisas aleatórias e ficar confuso e cansado e me sentindo velho de maneira geral, sentei com meus amigos influentes e poderosíssimos no mundo dos videogames para comer o pior e mais caro prato da franquia Spoleto que o ser humano é capaz de fazer. Ao longe, vi um vulto se avolumando no horizonte do pavilhão: a famigerada e obrigatória barraca de Churros. O churro é uma tradição absoluta nas feiras e convenções do mundo todo desde tempos imemoriais; todos os churreiros do mundo são criados e educados em um pequeno vilarejo secreto no México e fazem parte de uma conspiração internacional illuminati de dominação mundial, mas isso fica para outra matéria.

Os sinais estão aí para quem quiser ver…

Enfim, eu me recusei a participar da conspiração dos churros e segui com meus colegas para o estande que eu realmente estava a fim de ver, o da Devolver, distribuidora do maravilhoso jogo Hotline Miami que é disparado para mim um dos top games dos últimos anos. Lá, tive a oportunidade de jogar o beta do Hotline Miami 2: Wrong Number, que segue a história maluca retrofuturista do primeiro jogo com banhos de sangue, mortes instantâneas e muita música maneira que você deveria conhecer melhor. Os vizinhos do estande da Devolver tinham dois destaques, um era da galera do Tibia Br, que depois da minha matéria deve me odiar. Felizmente, não sou figura conhecida no mundo dos videojogos. No stand oposto tinha um jogo que eu realmente acho que poderia jogar durante horas a fio, sendo que eu nem fumo droga, que é o FARMING SIMULATOR. Horas lindas dirigindo meu trator, plantando batata, colhendo batata, vendendo batata, tunando meu trator… Eu preciso desse jogo e não estou sendo irônico.

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Fiquei tenso na hora de virar um psicopata filho da puta em Hotline Miami 2.

Encontrei um maluco que curtiu o jogo mais do que eu.

Mas qual era o outro jogo, além de Farming Simulator e Hotline Miami 2, que eu queria ver? Ah, mas agora vamos guinar mais ao mainstream, meus amigos, o jogo que eu inclusive me inscrevi no beta e fui completamente ignorado é o Hearthstone da queridinha Blizzard. Os caras da Blizzard costumam ter um bom gosto estético um pouco acima da média das companhias normais de videogames e isso refletiu até na roupa que a moça deles estava usando, muito mais recatada do que algumas outras, que dava para acampar na bunda das meninas com uma barraca iglu para três pessoas se tivesse a oportunidade e fosse consensual. Sim, eu sou um fã de Magic The Gathering, jogo frequentemente depois de anos parado agora que consegui fazer o meu cunhado se viciar de novo nesse crack do carteado. O Hearthstone é uma espécie de Magic do World of Warcraft e eu acho que meu futuro próximo é me perder um bocado nesse mundo, mas não agora, pois eu não consegui entrar no beta e tava uma fila imensa para jogar o jogo lá no estande da Blizzard.

Custava me colocar no beta, Blizzard? CUSTAVA???

O maluco de boné do Mario passando uma CONVERSINHA na gatinha da Blizzard.

O que é a Brasil Game Show afinal de contas, para que ela serve? Qual seu público? Quais são os expositores? É um evento para a comunidade gamer? É um evento para a imprensa? É um parque de diversões? É um ambiente amigável para gamers trocarem histórias e experiências emocionadas de suas vidas gamers? Sei lá bicho, me pareceu um evento de expositores e público aberto de entusiastas e fãs hardcore, mais ou menos como uma Expomusic da vida, mas sem workshop do Mozart Mello para você tocar uma guita mais fera.

Meus únicos arrependimentos? Não ter tirado selfies com as gatas dos games e não conseguir ir na feira que estava rolando ao mesmo tempo do lado da BGS, a Funexpo 2013, a maior feira funerária da América Latina! Com o número de velórios, enterros, cremações e afins que eu já colei na vida, acho que daria uma bela de uma cobertura.

Um abraço para a calorosa equipe do Kotaku e um especial para o Pedro Falcão, que me emprestou vinte contos para eu ir para casa.

Siga o Pedro Moreira no Twitter: @pedrograca

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