Um Ano Decisivo Para o Wikileaks

O WikiLeaks-móvel estacionado em frente a Fox News. Via Flickr

Você sabe e eu sei que Edward Snowden atualmente está atuando em sua própria versão real de Identidade Borne pelas escalas mais exóticas do planeta — deixando um rastro de segredos de estado norte-americanos e insatisfação popular com aquela coisa “Os Estados Unidos estão espionando o mundo inteiro”. Acompanhando Edward nessa escapada mundial, que colocou fogo na mídia com manchetes sobre sua escapada épica das garras dos Estados Unidos, está Sarah Harrinson do WikiLeaks. Na manhã de quarta-feira, o WikiLeaks anunciou que Edward Snowden está são e salvo, e que eles continuam a ajudá-lo a encontrar asilo político.

No dia 18 de junho, nos EUA, o jornalista do Buzzfeed e da Rolling Stone Michael Hastings morreu num estranho acidente de carro. A batida violenta destruiu completamente o Mercedes Benz C-250 de Hastings. Horas antes de sua morte, Michael enviou um e-mail afirmando que o FBI logo começaria a interrogar seus “amigos próximos e colaboradores”. Jennifer Robinson, advogada do WikiLeaks, recebeu a mensagem de Hastings — notícia que eles anunciaram para o mundo num tuíte em 19 de junho. A existência do e-mail apavorado de Hastings alimentou teorias de conspiração de que talvez seu carro tenha sido hackeado e que o acidente na verdade foi um elaborado assassinato cibernético. Uma teoria profundamente perturbadora, especialmente depois que vários amigos de Hastings comentaram que ele “dirigia como uma velha”.

Depois, claro, temos Bradley Manning, a fonte militar do WikiLeaks que vazou a maior quantidade de documentos norte-americanos sigilosos já liberados. Entre as revelações que Manning deixou para o mundo está o infame vídeo de “assassinato colateral” que mostra um helicóptero militar americano disparando contra três jornalistas. O exército teria supostamente pensado que a câmera no ombro de um dos repórteres era um lançador de foguetes. Depois de matar os homens, é possível ouvir um dos membros da equipe do helicóptero comemorando: “Ah sim, olha esses putos mortos!”. Bradley Manning, que se declarou culpado, já passou três anos na cadeia sem julgamento e enfrenta uma sentença de prisão perpétua.

O WikiLeaks começou como uma fonte alternativa de informações cruas, sigilosas e vazadas que se desviava severamente dos meios de comunicação tradicionais e novos evitando qualquer edição e simplesmente fornecendo ao leitor a informação completa que caísse em suas mãos. Mas desde que o julgamento de Bradley Manning se tornou um momento crucial da história norte-americana por determinar o destino dos informantes modernos — e com o líder da organização, Julian Assange, enfurnado na embaixada do Equador em Londres — a agência se transformou num tipo de partido político globalizado determinado a manter a liberdade de informação e o direito dos informantes.

O fato de Snowden estar sendo ajudado e escoltado por um membro do WikiLeaks diz muito sobre o papel em desenvolvimento deles no mundo. Snowden é sem dúvida o alvo número um do NSA no momento, e ele conseguiu fugir das algemas americanas todas as vezes até agora. A experiência do WikiLeaks sem dúvida tem um papel enorme nesse processo, já que eles têm conseguido manter seu líder longe do governo sueco, que o procura por um caso de suposto estupro. Enquanto ainda não está claro se Assange poderá algum dia sair da embaixada, ele com certeza tem se mantido na conversa com aparições regulares na CNN e seu próprio programa no Russia Today.

Da mesma forma, o e-mail enigmático enviado por Michael Hastings para a advogada do WikiLeaks indica que eles se tornaram uma espécie de grupo de apoio para aqueles que acreditam estar no alvo das autoridades norte-americanas por vazar a verdade. Enquanto ainda pode ser preferível saber que Michael Hastings simplesmente morreu num acidente de carro horrível, o timing do seu e-mail e a natureza bizarra de seu acidente certamente causaram uma tempestade perfeita de conspiração. Mesmo se o carro de Hastings não tiver sido hackeado, e que por qualquer outra razão ele tenha sucumbido a um estilo de direção inseguro na noite de sua morte, ele claramente estava preocupado com o FBI e acreditava que o WikiLeaks pudesse ajudar.

Com os destinos de Snowden e Manning ainda suspensos no ar, 2013 se mostra um ano crucial na decisão de como os informantes serão tratados nos próximos anos. E o horizonte se mostra perigoso para esses dois. E com Barrett Brown — o jornalista que é frequentemente confundido com o porta-voz do Anonymous, que continua atrás das grades e enfrenta uma possível pena de 100 anos de cadeia — lutando para levantar os fundos legais necessários para se defender, este ano se define como um ano ruim para aqueles que decidem falar contra o governo dos Estados Unidos. Se o WikiLeaks continuar a desenvolver seu papel em fornecer apoio a esses informantes de alto escalão, eles terão muito trabalho a fazer em 2013.

O WikiLeaks parece estar no meio de uma mudança de identidade que vai se descortinando conforme as coisas vão acontecendo. Uma pesquisa recente mostrou que Assange poderia garantir um assento no senado australiano — então talvez ele esteja se preparando para algum tipo de futuro político assim que seus próprios problemas sejam resolvidos. Ou talvez o WikiLeaks atinja um status mais solidificado como partido político sem qualquer soberania específica, entregando retórica de informação livre ao mundo, enquanto simultaneamente existe como organização pensada para ajudar informantes a procurar asilo, fornecendo conselhos jurídicos para jornalistas investigativos e ajudando pessoas que vazaram informação em seus julgamentos. Com tantas histórias importantes se desdobrando de uma vez, será interessante ver como eles vão lidar com esse trabalho enquanto a identidade pública deles muda. O mundo está cada vez mais familiarizado com a cultura dos vazamentos, e a instituição de Assange está no centro de tudo isso.

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