FYI.

This story is over 5 years old.

Noticias

Uma Breve História da Polêmica e da Violência Envolvendo o “Charlie Habdo”

O Charlie Hebdo já foi ameaçado e vitimado por ataques diversas vezes. Mas nunca como o de hoje.

Stephane Charbonnier, o Charb, cartunista e editor do Charlie Hebdo, que morreu no ataque, falando com repórter depois do ataque de 2011. Foto via usuário de Wikimedia Commons Coyau.

Esta manhã, no 11º arrondissement de Paris, um trio de homens armados atacou a sede do semanário satírico de esquerda Charlie Hedbo. Os homens mascarados, que estavam armados com fuzis e um lança-foguetes, mataram 12 pessoas (incluindo dois policiais) e feriram mais dez; depois fugiram do local e ainda não foram encontrados. De acordo com as autoridades, eles gritavam "Allahu Akbar" e "O Profeta está vingado".

Publicidade

O Charlie Hebdo tem uma longa história de publicação de material polêmico e há tempos é alvo do ódio dos radicais islâmicos, que o acusam de islamofobia e racismo por publicar cartuns retratando o profeta Maomé. A publicação já foi ameaçada e vitimada por ataques diversas vezes.

O Charlie Hedbo chegou às manchetes em fevereiro de 2006, quando republicou uma série de cartuns – um deles mostrando Maomé usando uma bomba como turbante – que tinham aparecido no jornal dinamarquês Jyllands-Posten, levando a protestos que acabaram em mortes no Oriente Médio. O presidente francês na época, Jacques Chirac, chamou a ação do jornal de uma "provocação ostensiva" e vários muçulmanos franceses processaram o jornal e o então editor Philippe Val por "insultos públicos contra um grupo por sua afiliação religiosa". (As acusações acabaram indeferidas.)

No entanto, grupos islâmicos guardaram rancor contra o jornal – e outras publicações satíricas que publicaram os cartuns – daquele momento em diante, com uma mensagem em áudio de 2008, supostamente gravada por Osama bin Laden, chamando os desenhos de parte de uma "nova Cruzada".

Em novembro de 2011, o Charlie Hebdo publicou outro desenho de Maomé na capa junto com uma piada o indicando como editor. No dia seguinte, o escritório do jornal foi incendiado; a polícia concluiu que o incêndio foi criminoso. O site do jornal também foi derrubado por hackers e substituído pela mensagem: "Vocês continuam abusando do todo-poderoso Profeta do Islã com cartuns nojentos e vergonhosos, usando a desculpa da liberdade de expressão". Um grupo turco de hackers reivindicou a responsabilidade pelo ataque; numa entrevista para um jornal francês, um dos membros disse que isso foi um "protesto contra um insulto aos nossos valores e crenças", mas negou que o grupo tivesse qualquer coisa a ver com o incêndio.

Publicidade

O escritório do Charlie Hebdo depois do ataque de 2011. Foto via usuário de Wikimedia Pierre-Yves Beaudouin.

Em setembro de 2012, o jornal publicou novamente cartuns de Maomé (dessa vez nu), e o governo francês fechou embaixadas e escolas no Oriente Médio temendo represálias. Um homem foi preso pelas autoridades francesas por pedir a decapitação do editor Stephane Charbonnier, também conhecido como Charb. Charbonnier também foi alvo de ameaças em março de 2013, quando a revista da Al-Qaeda Inspire o colocou na lista de "procurados", que incluía vários outros editores e cartunistas que publicaram desenhos de Maomé pelo mundo.

Nos últimos anos, com as tensões entre os muçulmanos e o resto da população francesa crescendo, o Charlie Hedbo continuou com a tática – em 2003, uma capa intitulada "A Vida de Maomé" teria levado jovens muçulmanos a ameaçar donos de loja que colocassem o jornal na vitrine.

Mas nenhuma dessas polêmicas e atos de violência se comparam com o ataque de hoje. Até o momento, os agressores continuam foragidos.